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“Quem joga pedra não pode querer curar o machucado” – Relatos Organizados Por Mirelle Costa

Em referência ao Agosto Lilás, mês da conscientização e enfrentamento à violência contra as mulheres, a jornalista e escritora Mirelle Costa relata diariamente, neste espaço, casos que servem de alerta a todos nós

Confira:

(O texto abaixo foi escrito por uma mulher vítima de violência doméstica, atendida na Casa da Mulher Brasileira, em Fortaleza. O texto compõe a obra “Após a Morte do Conto de Fadas, a Ressurreição”, publicada pelo Senado Federal, e organizada pela jornalista e escritora Mirelle Costa. Este texto pode conter gatilhos emocionais que podem afetar algumas pessoas).

Caro leitor, venho relatar um pouco da minha história. Sou uma adolescente que viveu com quatro irmãos, teve um pai machista e lutou para conseguir trabalho cedo e ser independente, mas nada foi fácil. O primeiro namoro foi tudo bem, mas não durou muito. O segundo parecia ser semelhante, até ele me violentar e fingir que nada aconteceu.

E, agora, como contar para meus pais e meus irmãos que eles tinham razão e que eu não sabia me proteger?

O tempo passou e eu conheci outra pessoa. Parecia que estávamos apaixonados, prometeu-me muito e me tratava bem, com o mínimo, mas eu, iludida, achava que merecia só aquilo, o mínimo. Enfim, depois de um tempo, engravidei. Foi a primeira decepção. Ele mandou eu “me virar”, disse que já era casado com outra e tinha outro filho.

Meu mundo caiu, mas levantei a cabeça e fui viver para meu bebê, contra tudo e todos. Depois de um tempo, achei que já estava pronta para outro relacionamento. Em oração, pedia para Deus colocar um homem solteiro na minha vida, que não tivesse vícios. Quando ele chegou em minha vida, demorei para acreditar, mas se mostrou trabalhador, educado, gentil, como um homem que gosta de viver em família.

Fomos viver na mesma casa. Depois de dois anos de namoro, nossa casa própria já estava pronta para construirmos uma família. Iludida, achava que íamos ser uma família. Como somos evangélicos, fomos à igreja, mas foi tudo ao contrário. Depois da igreja, ele começou a me xingar, me proibia de sair de casa e de trabalhar, mas tudo de maneira muito sutil.

Até que, iludida, vivendo e convivendo na igreja com o agora diácono (aquele que serve os irmãos, ora e prega a palavra de Deus). Porém, quando chegava em casa, parecia estar possuído, já não me permitia visitar minha família, só a dele. Sempre ameaçava a mim e minhas filhas de nos bater ou nos matar se nós ousássemos contar para alguém.

Ele me agredia, me xingava, me humilhava e até agredia os meus filhos. Eu não podia recorrer a ninguém, pois, na igreja, ele era perfeito.

Quem iria acreditar em tudo que estava acontecendo? Os vídeos pornográficos do celular dele, abusos de não respeitar o meu “não”.

Só me restou orar a Deus, pedir a Ele que me tirasse daquela situação.

Um belo dia, ele chegou do trabalho calado, fez a sua higiene, levei sua janta no quarto, em suas mãos, como de costume. Ele comeu, depois foi à cozinha e me agrediu na frente da minha filha mais nova, hoje com 13 anos. Ao me jogar em cima da mesa, bati no armário e cortei minha cabeça. Quando me vi com sangue no corpo, sem saber de onde vinha, me apavorei e corri. Não me pergunte de onde tirei forças. Minhas filhas e eu corremos para a rua e minha vizinha chamou a polícia. Os policiais me levaram à UPA. Depois, fomos à delegacia da mulher. Consegui a medida protetiva, o divórcio e bloqueei ele da minha vida. Nem as filhas dele querem conviver com ele. Agora ele diz, se fazendo de vítima, que eu nunca o amei. Agora, vivo
em paz com minhas filhas.

S.A

(Diante de qualquer situação de violência doméstica, ligue 180, é a Central de Atendimento à Mulher, um serviço telefônico do governo federal que oferece acolhimento, orientação e informações sobre os direitos das mulheres, além de receber denúncias de violência contra a mulher)

Mirelle Costa e Silva é jornalista, mestre em gestão de negócios e escritora. Atualmente é estrategista na área de comunicação e marketing

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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