Quem lê no Brasil ? De acordo com a sexta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, o número de leitores no Brasil caiu nos últimos anos. A pesquisa foi realizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural. Considerando a estimativa populacional brasileira, os dados apontam que o país tem atualmente 93,4 milhões de leitores (considerando a população com cinco anos ou mais). Nos últimos quatro anos, houve uma redução de 6,7 milhões de leitores no país, de acordo com os dados.
Para Felipe Neto ainda temos poucas iniciativas populares de fomento à literatura. “É importante que o projeto dê lucro para conseguir manter a longevidade. Quando eu montei o clube do livro, pensei em expandir a atividade. Temos boas experiências, como a @taglivros, mas ainda estamos em um cenário muito ruim”, aponta o criador de conteúdo digital. Sobre as leituras de 2024, Felipe Neto indicou Incidente em Antares, de Érico Veríssimo, como a melhor leitura do ano.

Literatura não é feita pra salvar ninguém
Repercuti os resultados da pesquisa com meus amigos leitores Rafael Caneca, que também é escritor, e Mirna Frota, do clube Leituras Paralelas. O criador do Pacote de Textos diz que a literatura não é feita para salvar ninguém. “Sempre tive como bandeira levar a literatura para mais pessoas possíveis. Foi assim que surgiu o Pacote de Textos, clube que tive por dez anos. Eu acabei deixando o projeto, pois o livro acabou se tornando muito caro e o projeto pouco acessível. Mediei aqui no meu trabalho um Clube de Leitura virtual por muito tempo, ou seja, vivo em uma bolha cercada de pessoas que leem bastante. Acho a literatura fundamental para o nosso conhecimento de vida, mesmo”, argumenta Rafael Caneca.
Os clubes de leitura estimulam a formação do público leitor. Mirna Frota é uma das responsáveis pelo @leituras_paralelas, coletivo que nasceu em janeiro de 2020, na cafeteria Bleecker, como um clube de leitura presencial. Com a pandemia, migrou para o online e ficou assim até outubro de 2022, mantendo os membros conectados de onde estivessem. Desde julho de 2023, os encontros presenciais voltaram, acontecendo três vezes por mês: duas para discutir livros e uma para falar sobre filmes. Já foram lidos mais de cinquenta títulos incríveis, de clássicos a contemporâneos, brasileiros e internacionais. “Eu acho que a literatura no Brasil está num cenário complicado: livros caros e redes sociais distraindo as pessoas. Por outro lado, apps e dispositivos digitais facilitam o acesso a livros gratuitos, o que equilibra um pouco as coisas. Apesar disso, tenho notado um aumento na procura por clubes do livro, o que é um ótimo sinal. Como parte de um desses clubes, faço questão de incentivar a leitura e ajudar quem eu puder a entrar nesse universo. Por isso, o Leituras Paralelas é completamente gratuito. Quando um membro está desanimado com a leitura, pode participar da reunião mesmo assim. As conversas trazem tantos olhares novos que é difícil não se inspirar a pegar o livro depois. Hoje, o clube conta com cerca de cinquenta pessoas apaixonadas por histórias”, explica Mirna Frota.

Ainda segundo a pesquisa revelada pelo G1, as obras mais citadas pelos entrevistados foram:
- Bíblia
- O Pequeno Príncipe
- Turma da Mônica
- Harry Potter
- Diário de um Banana
- A Culpa é das Estrelas
- Sítio do Pica-Pau Amarelo
- A Cabana
- Crepúsculo
- Violetas na Janela
- O Menino Maluquinho
- Gibis/História em Quadrinhos
- Dom Casmurro
- Pai Rico, Pai Pobre
- 50 Tons de Cinza
- Capitães da Areia
- As Crônicas de Nárnia
- O Diário de Anne Frank
- Como Eu Era Antes de Você
- Vidas Secas
- Cinderela
- Os Três Porquinhos
- Iracema
- A Arte da Guerra
- O Grande Conflito
- O Alquimista
- Chapeuzinho Vermelho
- Meu Pé de Laranja Lima
Quanto aos autores mais lidos, temos
- Machado de Assis
- Monteiro Lobato
- Mauricio de Sousa
- Augusto Cury
- Paulo Coelho
- Jorge Amado
- Zibia Gasparetto
- Clarice Lispector
- Carlos Drummond de Andrade
- Chico Xavier
- Colleen Hoover
- JK Rowling
- Ariano Suassuna
- Cecília Meireles
- Agatha Christie
Ainda segundo a pesquisa divulgada no G1, a maioria dos entrevistados cita a própria casa (85%) como o lugar onde costuma ler. Entretanto, os responsáveis pela amostragem notam uma queda na identificação da escola como lugar de referência para a leitura. Lembro-me de que eu lia muito quando era criança, depois, passei um período afastada da literatura, não gostava de ser obrigada a ler livros que poderiam ser retratados no vestibular. À minha época, não existiam clubes de leitura nem internet. Mesmo assim, acredito que a leitura lá na minha infância tenha deixado marcas em mim, tanto que me permiti a esse recomeço. Leio bem menos do que gostaria (e me culpo por isso), mas confesso ter buscado autores cearenses, principalmente os independentes, assim como eu, como Emanuela Ribeiro @leiturasdaemanuela (com seu livro de estreia Romper das Conchas, que foi semifinalista do Prêmio Jabuti de 2024), e Dalgo Silva @affdalgo (poeta cearense que foi pra final da premiação no ano passado). Temos ainda mais dificuldade em sermos lidos, pois, acredite, para o escritor, tão importante quanto ser “comprado”, é ser lido. Quantas vezes ofertei exemplares do Não Preciso Ser Fake por querer ser lida por aquela pessoa. Os poucos leitores brasileiros ainda escolhem (muitas vezes) os livros mais “instagramáveis”, aqueles que “os artistas postaram no instagram”.
Ainda sobre a pesquisa, acompanhando a queda no percentual de leitores no país, o número médio de leitores por gênero também caiu. Apesar disso, as mulheres continuam lendo mais que os homens e, certamente, assim como eu, devem culpar-se por não conseguirem ler como gostariam.