“Um pobre matando um rico, a gente só vê raramente na violência urbana. O contrário é mais comum, principalmente quando se está ao volante de um Porsche ou mesmo de uma Hilux”, aponta o jornalista Nicolau Araújo
Confira:
Não há como deixar de ouvir alguns trechos da telenovela “Vale Tudo”, na Globo, quando se trabalha no mesmo recinto da televisão, além de uma esposa aficionada em saber “quem matou Odete Roitman”.
Perdi alguns minutos não para estudar a trama e chegar a uma autoria, mas para inteirar-me dos atores e seus papéis.
Então, não tive dúvidas… a Leila matou Odete Roitman. Caso contrário, a autora da trama, sem quase nenhuma afinidade com a dramaturgia, assassinaria o talento de Carolina Dieckmmann.
A Muleka, a esposa, ainda alegou que Leila, que faz o papel de uma inexpressiva “bonequinha de luxo” de milionário, não estaria entre os suspeitos. E arriscou que Celina, irmã de Odete, poderia ser a assassina. Celina é a atriz Malu Galli. Me desculpem os fãs… não tenho ideia de quem se trata Galli.
Fiz então uma pergunta simples à esposa: a (sem talento) Jade Picon faria o papel de Odete Roitman (a talentosa Débora Bloch)?
– Não, respondeu.
E Jade Picon faria o papel de Leila?
– Sim, respondeu a Muleka de imediato.
Então Leila matou Odete Roitman, o que justificaria Carolina Dieckmmann em tão inexpressivo papel.
Para minha frustração, a esposa pesquisou a primeira versão de “Vale Tudo”, em 1988, e a tal Leila, papel de Cássia Kis, atriz consagrada já aos 30 anos de idade, foi a assassina de Odete Roitman. Aliás, Cássia Kis protagonizou nos últimos anos atos em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas isso é um outro drama…
De volta à atual versão de “Vale Tudo”, o assassino da Roitman não seria o marido gigolô César, papel de Cauã Reymond, pois, além da fama do ator se pagar, o feminicídio estaria politicamente incorreto, diante da motivação do crime ser quase sempre o ciúme e o sentimento de posse da mulher como objeto pessoal.
Em época de MP da Taxação vai que o pobre mordomo Eugênio, papel do talentoso humorista Luís Salém, não suportou tamanha má remuneração e exploração de uma jornada 6×1 e assassinou a super-rica patroa?
“A culpa é sempre do mordomo”, como diria a escritora inglesa Agatha Christie (1890 – 1976).
Mas um pobre matando um rico, a gente só vê raramente na violência urbana. O contrário é mais comum, principalmente quando se está ao volante de um Porsche ou mesmo de uma Hilux. Mesmo com a recusa do teste do bafômetro é solto na audiência de custódia, diante do pagamento de fiança de R$ 10 mil ou R$ 30 mil, uma merreca para quem conduz um Porsche movido a Macallan.
A uma semana do capítulo final, muita coisa pode acontecer para se ter um desfecho surpreendente em “Vale Tudo”, até mesmo o caso não ser esclarecido, como ocorrem com 64% dos homicídios no Brasil.
Um drama da vida real…
Nicolau Araújo é jornalista pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Marketing Político e com passagens pelo O POVO, DN e O Globo, além de assessorias no Senado, Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, coordenador na Prefeitura de Maracanaú, coordenador na Câmara Municipal de Fortaleza e consultorias parlamentares. Também acumula títulos no xadrez estudantil, universitário e estadual de Rápido