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“Quem tem medo de delação”

Fátima Vilanova é Doutora em Sociologia. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Quem tem medo de delação”, eis artigo de Fátima Vilanova, doutora em Sociologia. “Nesse grupo de interessados em acabar com a delação premiada de presos tem parlamentares de treze partidos, do PT e aliados, contra a Lava-Jato, e do Centrão, para salvar integrantes do governo anterior”, expõe a articulista.

Confira:

Tem algo muito errado com a política no Brasil. O sentido da política é de servir, mas não é isso que se vê nas casas legislativas, nos governos municipais, estaduais, e federal. Os bons exemplos na política existem, mas como exceção. No geral, falta interlocução dos representantes com os representados. A proximidade só acontecer em período de campanha, e não para prestar contas do que foi feito no mandato, ou para auscultar as demandas da população, como compromisso a ser assumido.

Se a política não vai bem, temos que buscar nos partidos políticos as causas do problema, pois são eles que viabilizam as candidaturas. Como eles funcionam? Como deveriam funcionar? Os partidos políticos atuam, via de regra, sem interlocução com seus próprios integrantes.

Os filiados dos partidos constituem mero detalhe para a garantia de registro eleitoral. Vida interna não existe, no sentido da promoção da participação no controle e fiscalização de mandatos de filiados. A crítica não é estimulada, não é bem-vinda, não há acompanhamento de mandato, de gestão, pois são os detentores deles que dirigem os partidos, num total conflito de interesse.

Esse é o cerne do problema. Quem dirige os partidos, geralmente, são os detentores de mandato. E ninguém fala nisso, ninguém questiona. Nem os tribunais que fiscalizam o processo eleitoral. Isto pode dar certo? Isto gera abuso de poder, falta de transparência, corrupção. Tudo começa com o loteamento da máquina pública com os correligionários, como um cala-boca, para o exercício da conivência.

Democracia, cidadania nos partidos não existem, a crítica é sempre para os adversários. Se tudo está errado, a culpa é deles. E nesse contexto, prosperam a compra de votos, as licitações fraudulentas, as rachadinhas, o legislar em causa própria, como no caso do fim da delação premiada, em discussão no Congresso Nacional.

O fato de um representante da população, deputado, senador, ser contra a delação premiada é sério demais. Eles têm medo de quê? Que seus crimes sejam revelados? Eles não deveriam ajudar a combater todos os vícios da política? Eles agem para acobertá-los? Quem ainda pode acreditar em tais representantes?

Nesse grupo de interessados em acabar com a delação premiada de presos tem parlamentares de treze partidos, do PT e aliados, contra a Lava-Jato, e do Centrão, para salvar integrantes do governo anterior. Se a matéria for aprovada, será um grande retrocesso político, que estimulará a perpetuação da corrupção, e a naturalização na sociedade da máxima que sustenta que o crime compensa.

*Fátima Vilanova

Doutora em Sociologia.

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Respostas de 6

  1. Análise perfeita!
    E todo este retrocesso tem a digital
    do PT! É uma lástima!👏👏👏👏👏

  2. O problema começa nos próprios eleitores que não sendo politizados não cobram um trabalho atuante e sério dos seus eleitos. E assim sendo a vida perpetua sendo empurrada com a barriga.

    1. Você disse tudo. Sem participação, fiscalização, nada mudará. Vamos fazer nossa parte.

  3. Triste realidade Fátima, como você bem demonstrou, eliminar ferramentas como a delação premiada, só engrossa a fila da falta de transparência e corrupção política em nosso país!

  4. É verdade. Nenhuma transparência, muito descompromisso com o combate à corrupção. Valeu!

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