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“Regressão Cognitiva da Esquerda Brasileira: A Ideologia Anulando a Razão” – Por João Arruda

João Arruda, professor aposentado da UFC e sociólogo. Foto: Arquivo Pessoal.

Com o título “Regressão Cognitiva da Esquerda Brasileira: A Ideologia Anulando a Razão”, eis artigo de João Arruda, sociólogo e professor aposentado da Universidade Federal do Ceará. “Em nome de um antissionismo cego e de um “anti-imperialismo” anacrônico, repeteco das práticas equivocadas dos anos sessenta do século XX, essas vozes têm se aliado, ideologicamente, a regimes totalitários, como o do Irã — uma teocracia brutal, que oprime sistematicamente mulheres, homossexuais, dissidentes políticos e minorias religiosas”, expõe o articulista.

Confira:

No conturbado momento político da vida brasileira podemos constatar uma realidade irrefutável: A autodenominada esquerda brasileira vem sofrendo uma grave e irreversível metamorfose moral e intelectual, produto da sua histórica esquizofrenia política. Atravessando uma profunda crise de identidade, que se arrasta desde o fim da União Soviética, em dezembro de 1991, ela agora tem como referência de luta os lamentáveis ensinamentos éticos e morais do medíocre e confuso Lula da Silva e de outras figuras menos cotadas do lulopetismo.

Pela sua prática, podemos observar que a esquerda brasileira vem renegando sua história e os seus referenciais teóricos, e o raciocínio crítico cedendo lugar ao pragmatismo das benécias do poder corruptor. Assistimos, de forma pesarosa, parte significativa da nossa juventude universitária agindo como gado, comprovando ser vítima de uma lamentável regressão cognitiva: Um retrocesso na capacidade de análise racional e na coerência entre discurso e prática.

Em nome de um antissionismo cego e de um “anti-imperialismo” anacrônico, repeteco das práticas equivocadas dos anos sessenta do século XX, essas vozes têm se aliado, ideologicamente, a regimes totalitários, como o do Irã — uma teocracia brutal, que oprime sistematicamente mulheres, homossexuais, dissidentes políticos e minorias religiosas. O mais alarmante é ver essa defesa vir justamente de pessoas que se dizem defensoras da democracia, da diversidade e dos direitos humanos.

Não é raro ver autodeclarados democratas fazendo eco a discursos antissionistas, enquanto ignoram o fato de que Israel, apesar de seus conflitos e contradições, ser a única democracia consolidada do Oriente Médio. Trata-se de uma sociedade plural, onde mulheres ocupam cargos de liderança, homossexuais têm representação política, e liberdade religiosa é garantida por lei — características impensáveis em países como o Irã, onde dissidentes são enforcados, mulheres são obrigadas a esconder seus corpos, e homossexuais são perseguidos e assassinados impiedosamente.

Como explicar, então, que simpatizantes das pautas identitárias e das ideologias de gênero apoiem um regime tão brutal?

Esse paradoxo evidencia uma inversão de base na formação política de grande parte da militância da esquerda contemporânea. Em vez de partirem da realidade concreta e dos valores universais da liberdade e da dignidade humana, preferem moldar sua visão de mundo a partir de um maniqueísmo binário, onde o inimigo do “ocidente capitalista” é automaticamente considerado um aliado. A consequência disso é uma adesão acrítica a projetos autoritários travestidos de resistência, o que corrói a credibilidade moral e intelectual da própria esquerda.

A decepção é ainda maior quando se observa homossexuais e feministas defendendo o regime iraniano ou relativizando seus crimes. No Irã, mulheres são punidas com violência por pequenas transgressões do código moral islâmico, e atos homossexuais são puníveis com a morte. Defender esse sistema, mesmo que indiretamente, é compactuar com sua lógica de opressão. Tal apoio revela não apenas desinformação, mas uma cegueira ideológica que transforma vítimas potenciais em cúmplices involuntárias.

Infelizmente, a esquerda brasileira é seletiva e vive um drama de identidade. Enquanto se proclama defensora da democracia, dos direitos humanos e da diversidade, fecha os olhos — ou pior, aplaude — regimes que assassinam mulheres por não usarem véu e executam jovens por serem homossexuais. O caso do Irã é um dos mais emblemáticos dessa contradição moral.

Em 2022, a jovem Mahsa Amini, de apenas 22 anos, foi torturada até a morte pela “polícia da moralidade” iraniana por estar com parte do cabelo à mostra. Seu assassinato gerou uma onda de protestos históricos no país, liderados por mulheres que ousaram retirar seus véus em público. A resposta do regime defendido pelo lulopetismo não se fez esperar: Mais de 500 mortos e milhares de presos. A repressão incluiu adolescentes executados por protestar.

Um ano antes, o jovem Alireza Fazeli Monfared, de 20 anos, foi decapitado pelo próprio irmão e dois primos, após descobrirem que ele era homossexual. No Irã, ser gay é crime punido com a morte.

De forma seletiva, o lulopetismo não apenas silencia diante dessas atrocidades como elogia o Irã por sua “resistência ao imperialismo”. É lamentável ver artistas, intelectuais e militantes com discursos pseudos progressistas defendem um regime que encarcera, mutila e executa pessoas por viverem de forma livre — algo que jamais aceitariam em seus próprios países.

Não se trata de defender guerras ou sanções econômicas, mas de ter coerência moral e intelectual. A crítica ao Ocidente, como equivocadamente o Lula e seus asseclas fazem de forma contumazes, não pode significar aliança automática com ditaduras brutais, apenas porque se opõem aos Estados Unidos. Defender a dignidade humana deve valer para todas as culturas, religiões e regimes — sem exceção.

A esquerda que defende o Irã sob o pretexto de “soberania” é a mesma que denuncia “fascismo” ao menor sinal de conservadorismo no Brasil e se cala com as prisões arbitrárias cometidas pelo ministro Alexandre de Moraes. Como confiar em um campo político que relativiza a tortura, a misoginia e a homofobia quando praticadas por seus aliados ideológicos?

Lamentavelmente a hipocrisia seletiva da esquerda brasileira é gritante. O progressismo que tolera a tirania perde sua autoridade moral. Se os direitos humanos não forem universais, não serão direitos humanos — serão apenas ferramentas de manipulação política.

*João Arruda

Sociólogo e professor aposentado da UFC.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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