“Vale a pena conhecermos algumas dessas obras rejeitadas. Certamente os editores não esperavam que as obras rejeitadas obtivessem tanto sucesso”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves.
Confira:
Adquiri recentemente um livro deveras interessante, do qual desconheço edição em língua vernácula. Trata-se de “Rotten Rejections: The Letters That Publishers Wish They Hadn’t Sent”. Em tradução livre: “Rejeições desastrosas: cartas que os editores gostariam de não ter enviado.” A obra, de autoria do editor André Bernard, publicada em 1990, colige breves excertos de cartas que informaram a autores a rejeição de seus livros, às vezes por motivos banais. Houve erros e falta de sensibilidade, porque alguns dos livros rejeitados se tornaram clássicos da literatura universal, fenômenos de venda e asseguraram fama ao autor.
Vale a pena conhecermos algumas dessas obras rejeitadas. Certamente os editores não esperavam que as obras rejeitadas obtivessem tanto sucesso.
Vejamos:
William Somerset Maugham (1874-1965), médico, considerado um dos principais escritores do século XX, recebeu do editor a quem havia enviado “O Fio da Navalha”, a seguinte observação: “Indesejável. Não acho bem feito para o tipo de coisa a que se propõe, além de pouca gente gostar deste tipo de coisa… a maior parte da longa discussão da filosofia de vida do autor é tediosa.” O livro, publicado em 1944, cujo tema gira em torno da iluminação espiritual e um propósito mais profundo na vida do ex-combatente Larry Darrell, ex-combatente da primeira guerra mundial, é um dos mais lidos do escritor britânico.
O famoso francês Marcel Proust (1871-1922), autor da trilogia EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO, recebeu do editor, em 1913: “Caro companheiro, eu posso estar morto do pescoço para cima, mas não entendo a necessidade de se gastar 30 páginas para descrever como ele se vira na cama antes de pegar no sono.”
O editor a quem Gustave Flaubert (1821-1880) enviara MADAME BOVARY, declinou da publicação alegando, entre outras coisas, que o escritor francês havia enterrado “sua história sob uma enorme pilha de detalhes, que são bem escritos, mas verdadeiramente supérfluos.” O romance rejeitado em 1856 é um dos mais lidos da literatura universal.
“Lolita”, o belo romance de autoria do russo Vladímir Nabokov (1899-1977) foi rejeitado deseducadamente por quem poderia ter sido o primeiro editor da famosa obra: “Deveria ser, e provavelmente foi, contado a um psiquiatra o nauseante mesmo para um freudiano iluminado… Recomendo que seja enterrado sob uma pedra por mil anos.” O insensível editor errou feio. De 1955 aos dias atuais “Lolita” já teve milhares de edições em várias línguas.
“O Espião que saiu do frio” é um dos livros mais lidos no planeta, a obra mais famosa de John le Carré (1931-2020), considerado um dos mais importantes autores de romances de espionagem do século XX. Em 1963, diante dos originais do livro citado, o editor bateu-lhe a porta na cara: “Bem-vindo a Le Carré. Ele não tem futuro algum!”. Carré morreu rico de tanto vender “O Espião que saiu do frio”.
E, por final, recolho mais uma rejeição de obra que se tornou clássica e ainda hoje exige leitura de quantos se debruçam sobre boa literatura. “Moby Dick”, romance épico publicado em 1851 e considerado um dos principais da literatura norte-americana, foi inicialmente rejeitado. O autor, Herman Melville (1819-1891) recebeu do editor o seguinte Parecer: “Sinto muito dizer que nossa opinião é unanimemente contra o livro… Ele é inadequado ao mercado juvenil… É muito longo, fora de moda.” Para decepção da alma do editor ranzinza, o romance de Melville continua na moda até hoje.
“Rotten Rejections” constitui leitura agradável e estimulante. Uma pena que editores brasileiros não tenham prestado a devida atenção ao livro, depois de haver passado vinte quatro anos de sua edição original. Os editores brasileiros estão a rejeitar um bom livro.
Barros Alves é jornalista e poeta
Ver comentários (1)
Fiquei fascinado por este livro. Ainda peguei no livro . O poeta ficou de olho arregalado .