“No mundo ocidental a religião imbricou-se de tal forma com a política que não havia reinado que se sustentasse sem a bênção papal”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves
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Apesar da notória complexidade que se observa na relação entre religião e política, em nenhum momento na história da humanidade as duas se excluíram. Bem ao contrário, na história do poder dos homens está presente, no imaginário das sociedades, de acordo com cada cultura, o poder de Deus ou de deuses. Basta lembrar que os reis e faraós da antiguidade assumiam o papel de todo-poderosos como se deuses fossem. No Império Romano os reis se consideravam deuses e exigiam veneração para além do respeito prestado à autoridade temporal. Na Era Cristã, apesar de todos os esforços dos Pais e Padres da Igreja Primitiva, com esteio no pensamento do Cristo (“O meu reino não é deste mundo”), ensinando que o poder temporal não deveria se imbricar com o poder espiritual, não houve como estabelecer esse desvencilhamento de forma concreta. No embate entre cristãos e o Império Romano, Constantino quedou genuflexo ao pé da cruz; e Teodósio, último imperador romano a governar o mundo, tornou o Cristianismo religião oficial do Estado, pelo Edito de Tessalônica, 380 a.D. Foi um estadista e um diplomata extraordinário. Conseguiu unir as porções ocidental e oriental do Império, que depois da morte dele se separaram definitivamente.
Com o tempo, o Cristianismo conquistou o mundo e, apesar da cisão da Igreja, o Grande Cisma de 1053, com o surgimento da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Oriente, em contraponto à Igreja Católica Apostólica Romana, ambas assenhorearam-se do poder político em suas áreas de “evangelização”. Sem esquecer do Islamismo, naquele tempo em expansão, cujo líder Maomé é guerreiro, profeta e estadista. “Só Allah é Deus e Maomé Seu mensageiro!” Mas, isto é matéria para outro artigo.
No mundo ocidental a religião imbricou-se de tal forma com a política que não havia reinado que se sustentasse sem a bênção papal e a própria Igreja, pelos seus prepostos nos tronos da Europa ou em elevados cargos, dava o tom da política e da administração pública. Entre muitos outros, João Quidort ou João de Paris, filósofo, teólogo e frade dominicano (1255-1306), escreveu a crítica da relação igreja/estado na obra “Sobre o Poder Régio Papal”. Enfim, a religião, que dá sentido à vida jamais será separada de uma das atividades mais apaixonantes na existência humana, a Política. Qual o problema? Nenhum! O problema reside na distorção de valores éticos e morais, que não são próprios da Política e muito menos da religião. A Política é a arte/ciência de gerir o Estado na busca do bem comum; a religião ( _religare_ ) impulsiona o ser humano no mesmo sentido de servir ao outro no caminho para encontrar Deus. São os desvios que distorcem, vilipendiam, ultrajam, desonram o sentimento que preside o fazer religioso e o fazer político, agredindo a sociedade.
Por oportuno, vale lembrar que a religião pode promover valores importantes como compaixão, justiça e respeito, que podem influenciar positivamente a política e a sociedade. Também contribui para criar uma sensação de comunidade e coesão social, o que pode ser benéfico para a estabilidade política e social. Não se olvide o fato de que a religião fornece uma base moral para a tomada de decisões políticas, ajudando a garantir que as políticas sejam justas e éticas. Com efeito, admitamos que a harmonia entre religião e política pode ser no cotidiano das sociedades, um instrumento eficaz para promover a justiça e a igualdade, garantindo que as políticas sejam justas e equitativas para todos. Voltarei ao tema.
Barros Alves é jornalista e poeta
Ver comentários (8)
No passado a religião era a política e hoje a política usa a religião para angariar votos. E por sua vez a religião usa a política para ganhar poder. Víde o papa anterior, recebendo os líderes da esquerda e bispos fazendo campanha política. Lamentável que ambos sejam inseparáveis em nome do poder.
Obrigado pelo comentário, que recolho com atenção.
Excelente!
A religião é seguir a via do Senhor que nos prepara a viver como irmãos. É seguir em oração que é a cadeia que une Deus ao homem é o homem a Deus. E não se envolver em partidos, e sim orientar os fiéis a seguir o caminho do bem, para não faltar-lhes luz para chegar à bons conhecimentos examinar e avaliar bons ensinamentos e não correr atrás de nada que seja imediato e transitório e sim conscientizado.
Uma reflexão que desperta interesse por sua continuidade, desdobramentos. Há muito o que se rever nesse viés político x religião, lideres religiosos, poder...
Ótimo trabalho, meu caro! Vamos em frente.
Admirável texto, artigo muito bem argumentado. Parabéns ao jornalista e poeta, Barros Alves!
O poeta Barros Alves é grande estudioso das religiões. Lógico com ênfase no cristianismo.
O encantamento do mundo no atual século, sem dúvida através da religião. É tema de um futuro artigo para o poeta Barros Alves.
Luiz Cláudio Ferreira Barbosa é sociólogo
São muito precisas as informações do nosso amigo Barros Alves e nos honra quanto tivemos a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, mas em resumo, religião e política esta complicada essa relação a cada dia, vemos e sentimos quando no Maranhão os políticos eleitos pelos evangélicos só envergonham a igreja e atrasa o Estado.