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“Revivendo o Velho Oeste”

Djalma Pinto é advogado e especialista em Direito Eleitoral. Foto: Arquivo Pessoal

“Num ambiente, em que a delinquência enfrenta com surpreendente destemor a própria Polícia, as luzes de alerta devem estar bem acessas”, aponta o advogado Djalma Pinto

Confira:

Nos filmes de faroeste, o velho oeste americano do século XIX é retratado como terra sem lei, onde tudo se resolvia na bala. Um paraíso de ladrões e palco de duelos com plateia. Os agentes da lei eram frequentemente mortos por delinquentes, que atacavam as “diligências oficiais”, carruagens nas quais os criminosos eram transportados para responderem por seus crimes.

Xerifes duelavam com infratores, em plena rua, com demarcação de 70 metros de distância entre eles, sobrevivendo quem fosse mais rápido no gatilho. A carreira exitosa de um homem da lei tinha a ver com o próprio sucesso nos duelos em que havia participado. Um ponto marcante da evolução da Moral foi a abolição dos duelos, bem como da escravidão.

Neste século XXI, dezenas de policiais foram mortos no Ceará. No Pirambu, após o assassinato com vários tiros, a introdução de uma faca na nuca da vítima demonstra o nível de destemor, de desumanidade e audácia das pessoas fora da lei que integram nossa sociedade. Violência dessa magnitude remete ao modo de vida nas tribos primitivas, em que a ordem era imposta pelo mais forte.

A polícia representa o braço armado da ordem jurídica. Suas armas destinam-se a garantir que o império da lei não pode ser violado sem uma reação para conter os malfeitores. O ataque, o assassinato e a agressão de policiais refletem o elevado grau de ousadia dos delinquentes, que perderam ou jamais adquiriam a noção de Estado de Direito em que todos devem se submeter às normas legais, destinadas à preservação da harmonia na sociedade.

Num ambiente, em que a delinquência enfrenta com surpreendente destemor a própria Polícia, as luzes de alerta devem estar bem acessas para impedir um regresso doloroso à barbárie. O salve-se quem puder, de forma inconsciente, já se incorporou no espírito das pessoas, compelidas a se utilizarem de segurança privada para preservação de sua integridade pessoal e patrimonial.

Na raiz do problema, o recorrente descaso com a educação no ensino fundamental. Limita-se a ensinar a ler e a escrever. Não há preocupação com a necessidade da sedimentação dos valores da empatia, da cooperação, do respeito ao dinheiro público, da virtude da justiça e da solidariedade nas crianças para não se tornarem adultos predispostos à prática de crimes. “Levar vantagem em tudo”, atuação com desvio de finalidade, participação de “esquemas” para se sair bem nas competições em todas as esferas, um completo desapreço para com a classe dos educadores do ensino básico e os intermináveis maus exemplos dos líderes, que receberam a delegação do povo para a condução do seu destino, tudo isso resultou nesse ambiente insuportável de selvageria, onde não se pode confiar em ninguém.

Constantin Xypas, no livro Piaget e a Educação, ensina: “A finalidade de educação consiste, pois, em libertar o homem do seu egocentrismo espontâneo para lhe permitir elevar-se no universal. […] o aprendente constrói as suas operações intelectuais simultaneamente pela sua ação sobre o objeto a conhecer e por uma forma de interação com outrem que Piaget denomina cooperação”. Na raiz das mortes de policiais e nas reações destes está a precariedade da educação em uma sociedade, que não ensina o cidadão a colocar-se no lugar do outro para sentir a sua dor.

O combate ineficaz à violência se resume em investir quantidades expressivas de dinheiro na compra de veículos, na edificação de presídios, criação de programas assistenciais e outros benefícios para as pessoas, que tiveram negado o acesso à escola qualificada para transmitir-lhes valores e saberes, imprescindíveis para assegurar-lhes dignidade e capacidade para alcançar a prosperidade. Essa deficiência explica a ferocidade nas ameaças a vida dos contemporâneos. Isso porque foi perdida a fase apropriada da infância, propícia à assimilação dos valores capazes de transformar cada indivíduo em um cidadão exemplar.

Djalma Pinto é autor de diversos livros entre os quais: Ética na Política, Marketing Política e Sociedade, Infratores no Poder, Direito Eleitoral Anotações e Temas Polêmicos, Distorções do Poder, A Cidade da Juventude, O Direito e o Comprovante Impresso do Voto. Mestre em Ciência Política e advogado

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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