Com o título “Rir”, eis mais um conto de Totonho Laprovítera, arquiteto, escritor e artista plástico.
Confira:
“Um dia sem rir é um dia desperdiçado.”(Sébastien-Roch Chamfort)
O riso é mesmo o melhor remédio, principalmente quando a vida começa a acochar as contas e trazer preocupação de tirar o sossego. No meio das histórias engraçadas e dos cabras espirituosos, sempre aparece uma lição de leveza, mostrando o humor como sendo capaz de ajeitar até os dias mais aperreados. E, nesse mundaréu de fuleiragens, nosso povo se garante com esperteza e molecagem, provando que fazer rir é um talento que já nasce com a gente.
Jogando conversa fora com o velho amigo Paulinho sobre o tempo em que temos muito mais passado do que futuro, e a conta da farmácia começa a superar a do supermercado, resolvi perguntar qual o jeito certo de tomar os remédios. Ele, com seu costumeiro pragmatismo, não titubeou: “Eu junto tudo, boto na mão e rebolo pra dentro. Aí é com eles. Cada um que se vire pra achar sua doença.”
Já um conhecido músico hipocondríaco, quando questionado sobre seu tom preferido para tocar o violão, respondeu com um sorriso no rosto: “Ré médio!” E o Sitônio da Parangaba, sempre observador, não deixou passar o comportamento curioso da patroa, que parece se alumiar toda vez que passa propaganda de remédio na televisão. Ele logo comenta, com malícia: “Será que o Ministério da Saúde a diverte?”
Mas ninguém supera “seu” Zé Deletério, que parece até parente do saudoso “seu” Lunga, de Juazeiro do Norte. Lá no Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, onde mora, ele protagonizou mais uma das suas, deixando claro que seu remédio é a sagacidade. Foi a uma loja de agropecuária decidido a comprar raticida:
– Tem remédio pra rato? – perguntou.
– Ele tá doente de quê, “seu” Zé? – retrucou o atendente, curioso.
– Eu quis dizer veneno…
– Ah, sim, temos Chumbinho.
– Pois separe um pra mim.
– Pro senhor?!
– Não, pros ratos.
– O senhor vai levar?
– Não! Vou pedir pra eles virem comer aqui.
E assim, mais trancado do que fiofó de touro subindo a ladeira, sem arrodeio, “seu” Zé arrancou gargalhada geral.
Pois é, no frigir dos ovos, o melhor remédio mesmo é o riso, e esses cabras sabem direitinho das doses certas, sem errar na medida. Afinal, no meio das preocupações da vida, o que todo mundo precisa mesmo é de uma boa dose de riso.
*Totonho Laprovítera
Arquiteto, escritor e artista plástico.