“Roberto Macêdo e o biscoito de chocolate do carona” – Por Luiz Henrique Campos

Roberto Macedo, ex-presidente da FIEC. Foto: Reprodução

“Discreto, conseguiu conciliar simplicidade e austeridade, a partir de um norte primordial de sua personalidade, que foi a autenticidade”, aponta o jornalista Luiz Henrique Campos

Confira:

Convivi na assessoria de imprensa da FIEC por oito anos com o empresário Roberto Macêdo e posso dizer que se o homem é o seu estilo, não há como negar que ele o teve de forma marcante e transparente. Discreto, conseguiu conciliar simplicidade e austeridade, a partir de um norte primordial de sua personalidade, que foi a autenticidade. Sem se afastar desse perfil, encerrou no segundo semestre de 2014, oito anos de gestão à frente da FIEC, deixando a instituição reunificada, tanto que ao ser indicado para sucedê-lo como candidato de consenso à presidência, o empresário Beto Studart adotou o nome de União para a sua chapa.

A chapa União foi o resultado de um grande trabalho de superação de conflitos internos, de consolidação da unidade da FIEC e do lançamento de bases de entendimentos necessários para os próximos passos da entidade representativa do setor industrial cearense. Mas, para compreender esse cenário, é preciso voltar no tempo e entender a importância das duas gestões de Roberto Macêdo para a unificação da Federação das Indústrias. Este processo de unificação foi iniciado em 18 de setembro de 2006 quando Roberto sucedeu a Jorge Parente Frota Júnior, após intensa disputa eleitoral travada entre as principais lideranças que sempre tiveram papel de destaque na FIEC.

O compromisso assumido com a reunificação da FIEC pela gestão Roberto Macêdo passou a ser uma busca permanente, mas a conjuntura vivenciada pela indústria cearense exigia mais do que discurso. O Brasil passava por transformações importantes, com emprego em alta, mais renda circulando e, em consequência, novas exigências em termos de competitividade para as empresas. A missão, porém, não seria fácil. Se a pretensão de Roberto Macêdo era cumprir apenas um mandato, tendo como pressuposto reunificar a Federação, esse desejo foi atropelado pela identificação de riscos quanto à continuidade do trabalho que vinha sendo feito, levando-o a admitir a reeleição em 2010.

Reeleição que, ao se concretizar, já trazia a marca do novo momento iniciado em 2006. Uma novidade da reeleição foi a ampliação da democracia no processo eleitoral, proposta por Roberto Macêdo, que proporcionou a participação direta dos empresários filiados aos 39 sindicatos ligados à FIEC na escolha do presidente da entidade. Duas chapas disputaram o comando da maior entidade de classe do estado do Ceará. A chapa 1 (FIEC 60 Anos) teve à frente Roberto Macêdo. A chapa 2 (Participação para Inovar) foi liderada por Orlando Carneiro de Siqueira, titular da OCS Minerais e Empreendimentos. Com 674 votos a favor e 28 contra, Roberto Macêdo foi reconduzido ao cargo.

Através do novo mandato, Roberto passou a promover com afinco o fortalecimento dos Sindicatos e a estimular uma mudança comportamental dos industriais cearenses, com mais energia, ousadia e agressividade no processo produtivo e postura inovadora e empreendedora para obter competitividade no mercado interno e no externo. A marca dos dois mandatos na presidência da FIEC diz muito da trajetória do cidadão Roberto Macêdo, que desde cedo aprendeu o gosto e a importância do trabalho, sem se descuidar da questão humanitária e da atenção ao meio ambiente.

Com o exemplo do pai, José Dias de Macêdo, aprendeu a ter respeito pela natureza. “Meu pai sempre aos finais de semana procurou sair da cidade. Ele gostava muito da natureza”, me disse certa vez. Aos 11 anos, foi estudar no Seminário Jesuíta de Baturité e, ao contrário do que poderia representar um afastamento precoce da família, essa oportunidade reforçou na sua personalidade o amor ao meio ambiente. “Eu não queria ser padre, mas aquele foi um dos melhores períodos da minha vida. Além da excelente qualidade do ensino e do clima de espiritualidade, vivi em contato com a natureza, aprendendo, inclusive, a pegar cobra, aranha caranguejeira e outros bichos. E toda essa convivência com a natureza me estimula até hoje”.

Essa convivência de certa forma também lhe moldou a personalidade. Roberto Macêdo me confidenciou um dia, já fora da presidência, que ao assumir a FIEC, enfrentou hábitos aos quais não estava acostumado. Nos primeiros dias chegaram para lhe dizer que tinha um dinheiro para comprar um carro novo para uso do presidente. Não concordou com aquilo, pois ia continuar dirigindo o seu próprio carro. Pessoalmente, lembro de gestos que me deram a dimensão da pessoa com quem passaria a conviver nos anos seguintes.

Um dos exemplos refere-se à primeira entrevista concedida a jornalistas no gabinete da presidência. Logo ao terminar a gravação, não percebeu que o grupo de profissionais que acabara de lhe entrevistar saíra sem ele perceber. Roberto, então, saiu rapidamente da sala para se despedir de cada um deles, perguntando o nome e sendo extremamente gentil no trato. Recordo-me ainda quando em evento com delegações estrangeiras no auditório do 5º andar da Casa da Indústria, Macedo, que presidia a mesa, após o quarto painel, levantou-se, foi ao bufê e montou um pratinho com lanche para o tradutor simultâneo que não podia sair de sua cabine.

Com relação a essa característica, também registro história famosa vivenciada na FIEC. Na ocasião, o presidente Roberto iria dar entrevista no jornal O POVO e como não estava na Casa da Indústria, pediu para um jornalista ir até a esquina que um carro iria pegá-lo para acompanhá-lo na entrevista. Quando o carro chegou e parou, o motorista era o próprio Macêdo, que pediu para o acompanhante sentar no banco do passageiro porque ele mesmo iria dirigindo. Como se não bastasse, perguntou se o colaborador queria biscoito. O jornalista que foi como carona do presidente era eu e o biscoito era de chocolate.

Luiz Henrique Campos: Formado em jornalismo com especialização em Teoria da Comunicação e da Imagem, ambas pela UFC, trabalhei por mais de 25 anos em redação de jornais, tendo passando por O POVO e Diário do Nordeste, nas editorias de Cidade, Cotidiano, Reportagens Especiais, Politica e Opinião.

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