Com o título “Salve a Padaria Espiritual”, eis artigo de Joaquim Cartaxo, arquiteto urbanista e superintendente do Sebrae do Ceará. Ele destaca os 134 anos da Padaria Espiritual, movimento de vanguarda literária no Estado.
Confira:
Hoje, 30 de maio de 2025, a Padaria Espiritual completa 134 anos de fundação. Sua sede ou forno inaugural era na rua Formosa (atual Barão do Rio Branco), nº 105, no Centro de Fortaleza. A Padaria surgiu da iniciativa de 20 jovens escritores, desenhistas, pintores e músicos que desejavam protestar contra o status quo e tudo o que representasse o tradicional, conforme o descrito no Programa de Instalação da entidade. Destemido e criativo, o grupo era apoiado por Mané Côco, proprietário do Café Java, localizado na praça do Ferreira e no qual eram realizadas também reuniões da Padaria, chamadas de fornadas.
O Programa era composto de 48 itens. O primeiro marcou a fundação: “Fica organizada, nesta cidade de Fortaleza, capital da ‘Terra da Luz’, antigo Siará Grande, uma sociedade de rapazes de Letras e Artes, denominada Padaria Espiritual, cujo fim é fornecer pão de espírito aos sócios em particular, e aos povos, em geral”.
A Mesa da Padaria era formada “de um Padeiro-Mor (presidente) de dois Forneiros (secretários), de um Gaveta (tesoureiro), de um Guarda Livros na acepção intrínseca da palavra (bibliotecário), de um Investigador das Coisas e das Gentes, que se chamará Olho da Providência, e demais Amassadores (sócios). Todos os sócios terão denominação geral de Padeiros”.
De acordo com o item 6, todos os padeiros tinham “um nome de guerra único”, pelo qual eram tratados e do qual poderiam usar “no exercício de suas árduas e humanitárias funções”. Sob o espírito jovial e bem-humorado dos padeiros, o item 17 previa: “O Padeiro que for pegado em flagrante delito de plágio, falado ou escrito, pagará o café e charutos para todos os colegas”.
O 35 determinava: “Logo que estejam montados todos os maquinismos, a Padaria Espiritual publicará um jornal que, naturalmente, se chamará O Pão”, a fim de nutrir o povo com literatura e arte.
Dentre os padeiros fundadores, encontram-se, com seus respectivos nomes de guerra, Antônio Sales (Moacir Jurema), Henrique Jorge (Sarasate Mirim) e Adolfo Caminha (Félix Guanabarino). Depois, agregaram-se mais 14 padeiros, dentre os quais se destacam Rodolfo Teófilo (Marcos Serrano), Antônio Bezerra (André Carnaúba) e José Nava (Gil Navarra).
Pedro Nava, (filho do Padeiro José Nava) afirma, em seu livro Baú de Ossos, que a Padaria Espiritual, com sua irreverência e espírito revolucionário e iconoclasta, só encontra similaridade na Semana de Arte Moderna, ocorrida três décadas após sua fundação. A Padaria, além de promotora das letras e das artes, marcou fortemente a identidade cultural cearense, com um legado duradouro e reconhecido especialmente nesta data comemorativa. Salve a Padaria Espiritual!
*Joaquim Cartaxo
Arquiteto urbanista e superintendente do Sebrae do Ceará.