“A estratégia nacionalista imperialista de Trump vira principal adversária de Lula na sua tentativa de conquistar um quarto mandato”, aponta o jornalista César Fonseca
Confira:
O protecionismo trumpista obriga os Estados Unidos a desvalorizar o dólar para aumentar exportações americanas diante do aumento da inflação decorrente do encarecimento das importações.
Esse alerta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em contato com o mercado financeiro, tem poder de fogo para afetar a economia brasileira, que, diante da desvalorização do dólar, terá também que desvalorizar o real, sofrendo os mesmos efeitos, ou seja, pressão inflacionária.
Se não desvalorizar o real diante da desvalorização do dólar, o efeito será redução das exportações brasileiras frente ao dólar desvalorizado.
O império americano muda sua estratégia econômica.
Até então, desde a segunda guerra mundial, Washington vinha trabalhando com dólar valorizado para combater a inflação e diminuir juros, para não pressionar demasiadamente a dívida pública americana, que já alcança 37 trilhões de dólares.
Cobria déficit comercial com superavit financeiro, favorecido por senhoriagem global.
O dólar valorizado, no entanto, afeta a industrialização americana, que perde competitividade para China, a grande rival do império.
Como Trump quer fortalecer a indústria e criar empregos de qualidade nos Estados Unidos, a saída é inverter a lógica econômica.
Desvalorizar para exportar e taxar importações para criar empregos, internamente.
OUTRO LADO DA MOEDA
Haverá custo para os Estados Unidos: inflação e juro alto.
Como a alta dos juros impacta a dívida e cria instabilidade financeira internacional, que pode produzir corrida contra o dólar, não estaria descartada renegociação da dívida pública, esticando prazos e diminuindo custo do alongamento do endividamento.
Se os bancos privados americanos resistirem ao nacionalismo imperialista trumpista, o império poderia ou não nacionalizar os bancos?
Na última grande crise financeira do capitalismo americano, em 2008, o Banco Central elevou a oferta monetária, que reduziu juros e esticou a dívida, diminuindo a inflação e impactando o endividamento.
Os bancos que estavam com excesso de títulos do tesouro candidatos à desvalorização trocaram dívida velha por dívida nova.
Dívida pública não se paga, renegocia-se, já dizia Adam Smith.
Nesse sentido, o protecionismo trumpista cria problemas para o Banco Central americano.
Taxar as importações, como está fazendo o governo Trump, produz inflação, pressiona os juros e a dívida.
Ocorre, portanto, o inverso no cenário em que predominava o dólar valorizado, que diminuía inflação e juros.
Se ele tiver que ser desvalorizado, como prevê o ministro Haddad, para aumentar as exportações norte-americanas, o juro sobe no rastro do aumento da inflação, impactando a dívida e, consequentemente, o mercado financeiro global.
O jogo da financeirização entra em crise.
DESAFIO PARA LULA
O governo Lula, portanto, será forçado a desvalorizar o real para enfrentar o dólar desvalorizado, o que significa pressionar a inflação, que, nesse momento, já está acima da meta inflacionária, no contexto do tripé econômico neoliberal.
Para que não tenha que elevar fortemente os juros, acima da taxa básica atual, de 14,25%, será necessário mudar a meta inflacionária.
Atualmente, a política econômica lulista está comprometida com uma inflação anual de 3%, meta irrealista para o histórico da inflação brasileira de 6,5%, 7%, nos últimos 20 anos, segundo o IBGE.
Teria que flexibilizar a meta para não ter que puxar exageradamente os juros, o que levaria a economia a uma brutal recessão.
Recessão não combina com reeleição.
Se diante das taxas de juros atuais, para tentar controlar a inflação na casa dos 3%, a popularidade do presidente está cadente, é de se imaginar que cairá ainda mais aceleradamente se tiver de aumentar sobremaneira a Selic, para alcançar uma meta inflacionária completamente irrealista, verdadeiramente, surreal.
Seria ou não dar adeus à reeleição?
Portanto, a estratégia nacionalista imperialista de Trump vira principal adversária de Lula na sua tentativa de conquistar um quarto mandato.
César Fonseca é repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana