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“Selic deve cair dois pontos percentuais em 2026” – Por Alex Araújo

Alex Araújo é economista, ex-secretário de Desenvolvimento Regional do Estado do Ceará e atual diretor de Negócios da Camed Microcrédito e Serviços. Foto: Arquivo pessoal

Com o título “Selic deve cair dois pontos percentuais em 2026”, eis artigo de Alex Araújo, economista e ex-secretársio do Desenvolvimento Regional do Ceará. “Embora cortes na Selic sejam importantes, eles sozinhos não garantem uma retomada do investimento produtivo. A decisão de construir uma fábrica, expandir uma linha de produção ou financiar projetos de 10 a 15 anos depende, sobretudo, da curva de juros de longo prazo. E essa curva é sensível não apenas à inflação e à Selic futura, mas principalmente ao risco fiscal do país”, expõe o articulista.

Confira:

A economia brasileira termina 2025 com a Selic em 15% ao ano, resultado de um ciclo prolongado de aperto monetário para conter a inflação. Mas o cenário começa a mudar. Para 2026, projeta-se um movimento gradual, porém relevante, de redução dos
juros.

A expectativa predominante no mercado é de um corte total de dois pontos percentuais ao longo do ano, iniciando já na primeira reunião do Copom, em 27 e 28 de janeiro. Dois fatores principais sustentam esse movimento: a queda dos juros internacionais e a convergência da inflação para a meta.

Um ambiente externo mais favorável

O cenário internacional deve oferecer menos resistência à queda dos juros no Brasil. Depois de terem elevado agressivamente suas taxas para conter a inflação, Estados Unidos e Europa caminham para políticas monetárias mais brandas. O Federal Reserve iniciou cortes ainda em 2024 e o mercado prevê novas reduções em 2025. O Banco Central Europeu também começou um ciclo de afrouxamento, encerrando um
período de taxas historicamente altas.

Essa normalização global reduz a pressão sobre países emergentes. Quando os juros lá fora caem ou deixam de subir, diminui o incentivo para retirar capital das economias em desenvolvimento. Não é um cenário idêntico ao observado em 2020–2021, quando taxas próximas de zero impulsionaram fluxos expressivos para mercados emergentes, mas a lógica permanece: com o diferencial de juros ainda alto, o Brasil continua atrativo para investidores de renda fixa.

Uma consequência importante é a maior estabilidade do câmbio. Um real menos sujeito a sobressaltos reduz a inflação importada e oferece ao Banco Central do Brasil mais segurança para cortar juros. Assim, mesmo com a Selic recuando, o país mantém um “spread de juros” capaz de segurar o apetite do investidor estrangeiro. Isso abre espaço para um ciclo de cortes sem gerar rupturas nos mercados financeiros.

Inflação em trajetória de convergência

A inflação em 12 meses já se aproxima da banda superior da meta. Com o IPCA em torno de 4,7% em novembro, o BC observa sinais consistentes de desaceleração, especialmente no núcleo da inflação, que exclui itens mais voláteis. Essa convergência decorre tanto do efeito da política monetária restritiva quanto de condições conjunturais mais benignas.

Os preços de alimentos, por exemplo, ajudam no processo. Com oferta mais estável no mercado global e safras fortes no Brasil, itens importantes da cesta básica mostram variações muito menores do que nos anos recentes. O grupo “Alimentação e Bebidas”, que pressionou o IPCA por longos períodos, perdeu força e até registrou quedas pontuais em produtos in natura.

Os preços administrados também têm colaborado. A ausência de novas desonerações fiscais — que haviam distorcido a comparação anual —, somada a uma atuação regulatória mais previsível, contribui para um ritmo de reajustes mais moderado em energia elétrica, gás e transporte público.

Com alimentos mais comportados, preços administrados estáveis e demanda interna mais fria, o núcleo da inflação desacelera de maneira mais estrutural. É esse ambiente que oferece ao Copom o sinal necessário para iniciar um ciclo de cortes da Selic com maior confiança.

2026: política e economia no mesmo tabuleiro

Como 2026 será um ano eleitoral, a queda dos juros inevitavelmente terá impactos políticos. Juros menores melhoram o acesso ao crédito, estimulam o consumo e influenciam o humor dos agentes econômicos. Isso cria incentivos para pressões sobre o Banco Central, que precisará conduzir o ciclo de cortes com cautela e comunicação transparente para evitar a percepção de interferência política.

O ritmo de redução deve ser gradual, com cortes de 0,25 a 0,50 ponto percentual por reunião, com o indicador encerrando o ano em 13%. O desafio será equilibrar o estímulo à economia sem comprometer a credibilidade construída pelo BC nos últimos anos. Pressões por cortes mais fortes certamente surgirão, mas a autoridade monetária tende a seguir os dados, não o calendário eleitoral.

A queda da Selic já será sentida no crédito de curto prazo: empréstimos pessoais, cheque especial, rotativo do cartão e capital de giro para empresas tendem a mostrar algum alívio. Títulos de renda fixa de curto prazo também se ajustarão, levandoinvestidores a buscar maior risco ou prazos mais longos para manter retornos atraentes. O setor imobiliário, cujas taxas costumam acompanhar a Selic, deve reagir cedo, estimulando financiamentos.

O desafio estrutural: derrubar os juros de longo prazo

Embora cortes na Selic sejam importantes, eles sozinhos não garantem uma retomada do investimento produtivo. A decisão de construir uma fábrica, expandir uma linha de produção ou financiar projetos de 10 a 15 anos depende, sobretudo, da curva de juros de longo prazo. E essa curva é sensível não apenas à inflação e à Selic futura, mas principalmente ao risco fiscal do país.

Se o mercado interpretar que o ciclo de cortes está sendo influenciado pelo calendário eleitoral, ou se houver sinais de deterioração fiscal — como expansão de gastoscorrentes sem contrapartida —, o prêmio de risco tende a subir. Nesse cenário, os juros de longo prazo podem permanecer altos, anulando parte dos efeitos positivos do afrouxamento monetário. O consumidor pode até pagar menos na compra de uma geladeira, mas a empresa que deseja investir continuará enfrentando custos proibitivos.

Por isso, a queda da Selic é apenas parte do caminho. Para que o ciclo seja transformador e estimule investimento de longo prazo, é indispensável uma âncora fiscal crível, acompanhada de reformas que melhorem produtividade, ambiente de negócios e confiança no país.

O cenário para 2026 aponta para um alívio monetário consistente, apoiado por um ambiente externo favorável e uma inflação que converge para a meta. Essa combinação cria a janela perfeita para iniciar um ciclo de cortes da Selic. Mas o sucesso desse ciclo dependerá da capacidade do Banco Central de resistir às pressões políticas e da qualidade da política fiscal.

A queda dos juros pode ser um ponto de virada para a economia. Mas, sem responsabilidade fiscal e avanços estruturais, corre o risco de se transformar apenas em um impulso passageiro, incapaz de sustentar o crescimento no longo prazo.

*Alex Araújo

Economista e ex-secretário do Desenvolvimento Regional do Estado do Ceará.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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