“O Brasil será diferente depois deste domingo”, aponta o sociólogo e cientista político Emir Sader
Confira:
As gigantescas manifestações do domingo por todo o Brasil revelaram não apenas a rejeição da anistia, mas muito mais do que isso. Revelaram a força da democracia no Brasil, revelaram a rejeição da direita e da ultradireita em todo o país.
Revelaram uma força predominante, em nível nacional, de rejeição da impunidade, de afirmação da democracia, de capacidade de mobilização popular em todo o país. Demonstram o potencial de mobilização popular que fazia tempo que não aparecia.
O Brasil será diferente depois deste domingo. Após um tempo mais ou menos longo, as forças democráticas revelam capacidade de mobilização, de sensibilização de grandes setores da população para suas causas. Demonstram que são maioria no Brasil, que estão a fim não somente de apoiar as teses democráticas, mas de se mobilizar em função delas.
Isso é fundamental para o futuro do Brasil e da sua democracia. Ficou claro nestes últimos tempos que a democracia, mesmo reconquistada, está sempre em risco. Que a democratização é um processo, não apenas um ato. Não basta a reconquista da democracia, é preciso sua afirmação.
A tentativa de golpe revelou como a democracia está em disputa no país. Se ela pode ser considerada um valor universal, nem por isso é uma conquista definitiva e irreversível.
A mais importante operação contra o narcotráfico jamais realizada no Brasil revelou os laços entre o PCC e a Faria Lima. Revelou, assim, como o narcotráfico não está restrito a um setor determinado da sociedade, mas se articula com setores da elite brasileira.
Paulinho da Força disse que as manifestações de domingo “foram mais do mesmo”. Vê-se que ele não esteve nas ruas e tampouco entendeu o significado da dimensão das manifestações por todo o país.
Porque elas restringem sua margem de manobra, ele finge que não entende o que aconteceu no domingo passado no país. Significa que ele não está em condições de contribuir para uma alternativa ao problema.
Não há nem anistia, nem qualquer proposta que busque resgatar aspectos da anistia. A entrada do povo no debate sepultou as margens de possibilidade de uma busca de solução intermediária, que Paulinho parece buscar.
As manifestações de domingo, para quem esteve lá e para quem compreendeu seu significado, liquidam as possibilidades de qualquer tipo de solução intermediária. Elas foram enterradas pela entrada do povo no debate.
Emir Sader é colunista do 247, sociólogo e cientista político
Ver comentários (1)
Não tenho dúvida que se anistia fosse pedida para sequestradores e terroristas de verdade, iguais aos do Hamas, o senhor Emir Sader a defenderia entusiasticamente.