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“Sem jornalismo, sem política, o mundo vai regredir”

Osvaldo Araújo é economista e professor

O governo federal, que tem na presidência um líder do PT, negou ao PT, através do Ministério das Comunicações, a possibilidade de receber concessão de emissora de rádio e televisão, dizendo que a legislação não tem previsão deste tipo. Esta posição diz muito sobre o governo do PT, e nela é possível ver a timidez do governo, que sabe que esta é uma boa ideia e seria natural que partidos tivessem seus veículos de comunicação, da mesma maneira que sindicatos, entidades profissionais e empresariais também pudessem ter canais próprios de comunicação. E se a lei não proíbe esses agentes sociais, eles têm direito de reivindicar e podem ser atendidos.

Tim Woo, no seu livro “Impérios da Comunicação”, explica que o rádio e a televisão nasceram prometendo a democratização da comunicação. A ideia e o discurso junto à sociedade eram que em pouco tempo os meios de comunicação se espalhariam entre os agentes sociais (partidos, sindicatos, comunidades diversas) e cada segmento teria voz por canal próprio. A tecnologia seria cada vez mais simples e o custo e o investimento seriam cada vez mais baixos.

Esse quadro olhava para os veículos impressos (jornal e revista), que viraram instrumentos de um grupo fechadíssimo — onde vale ainda hoje o “ninguém entra, ninguém sai”. Nunca houve democratização entre jornais e revistas.

O poder, como o dinheiro, faz o caminho mais esperto. Rádios e televisões nunca se democratizaram. Agiram como os jornais, respeitadas as diferenças e guardadas as devidas proporções. O jornal é livre, não depende de concessão pública, mas o investimento para ter autonomia de impressão é imenso, funciona como uma barreira de entrada. Em resumo, os meios de comunicação se concentraram em poucas mãos, em escalas nacionais, regionais ou locais. O poder de comunicação fica junto do poder econômico e político, como regra. E, como regra, se perpetuam em “famílias tradicionais”, passando de uma geração a outra por herança. Um processo literalmente conservador.

Os governos, nas mesmas escalas, cuidam de gerir as concessões, no sentido de manter a conveniente concentração. Os governos concessores também são a fonte dupla dos meios de comunicação: suprem veículos com informações e verbas publicitárias.

A tecnologia da internet renovou a promessa de democratização. Teria nascido para isso, era em tudo adequada a isso, teria plena condição de realizar a ideia e cumprir o discurso. Não cumpriu. Também concentrou-se em poucas mãos. No caso de forma aguda. A escala e o mercado são o mundo inteiro. A dominação é tamanha, é tão profunda, que assusta. O algoritmo, a manipulação, a desinformação, as escolhas políticas, a inteligência artificial, tudo assusta

A promessa de democratização é apenas uma etapa de um ciclo que caminha sempre para a concentração.

Nesse contexto, a decisão do governo é pobre e empobrecedora. O mundo político precisa reagir a tanta concentração de poder, agora capaz até de manipular as mentes em grande escala e em nível individual. A internet, as redes sociais, os algoritmos e a inteligência artificial estão fazendo dos humanos zumbis.

É preciso fazer algo, enquanto ainda é possível, enquanto ainda há alguma liberdade política e algum jornalismo. Nessa velocidade, não se fazendo nada, o tempo vai fechar, o mundo vai regredir ao tempo das tribos mais violentas.

Osvaldo Araújo é professor e economista

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