Com o titulo “Silêncio emocional”, eis artigo de Íris Cavalcante, escritora, com MBA em Administração Estratégica pela Unichristus. “Faz-se urgente o cuidado com a saúde mental, como ação concreta em todos os níveis da organização, incluindo a alta gestão, onde são concentradas as tomadas de decisão que, em alguns casos, julgam e punem trabalhadores. Precisamos de modelos de governança menos reativos e mais sustentáveis, que promovam a humanização das relações de trabalho”, expõe a articulista.
Confira:
O preço do silêncio emocional no ambiente corporativo pode ser muito alto, quando o silenciamento vem em forma de punição ou retirada de direitos. Esses estigmas têm causado uma crise de saúde mental no mundo do trabalho contemporâneo. No entanto, se por um lado, é saudável abrir o debate, por outro, é urgente observar até que ponto as organizações estão de fato preocupadas com o seu capital humano, ou apenas cumprindo mais uma agenda de protocolos.
Por décadas, as organizações alimentaram a narrativa de que era necessário separar o profissional do pessoal. Hoje, temos um entendimento melhor do quanto as pessoas estão adoecendo em seus trabalhos, sem nenhum suporte institucional. Ambientes que deveriam ser fontes de realização são partilhados a preço de uma competição refletida em índices de violência de gênero, desigualdade salarial e assédios.
Faz-se urgente o cuidado com a saúde mental, como ação concreta em todos os níveis da organização, incluindo a alta gestão, onde são concentradas as tomadas de decisão que, em alguns casos, julgam e punem trabalhadores. Precisamos de modelos de governança menos reativos e mais sustentáveis, que promovam a humanização das relações de trabalho. As estruturas de apoio, quase sempre, não são correspondentes às legendas pregadas na missão e nos valores da empresa.
Instituições como o capitalismo e o patriarcado, que movem as relações humanas, nos fizeram pensar que vivemos, potencialmente, para o trabalho, e que somos privilegiados por fazer parte do estrato da população economicamente ativa, mas a troco de quais implicações na dignidade humana?
Não, senhores! Não mensurem indicadores de desempenho sob a invisibilidade emocional de quem produz os resultados de uma empresa, não normalizem relações de desrespeito ao trabalho de pessoas que se prepararam durante anos para ocuparem suas funções. Não se destroem talentos e o legado de uma vida profissional, dessa forma, sob pena de, em breve, estarmos diante de uma geração de trabalhadores e trabalhadoras repensando se valeu a pena até aqui, se deve continuar num lugar onde uma vida inteira de trabalho foi invisibilizada.
*Íris Cavalcante
Escritora, especialista em Escrita Literária pela FBUNI e MBA em Administração Estratégica pela Unichristus.
Ver comentários (1)
Fantástico o texto, de uma clareza e compreensão fácil. Retrata muito bem as relações de trabalho em ambiente corporativo atual. Não existe a compreensão da importância do capital humano nas corporações. Infelizmente são inviabilizados para o capital e o modelo de gestão na atualidade.