Com o título “Sim, Francisco foi um comunista, graças a Deus”, eis a coluna “Fora das 4Linhas”, desta quinta-feira, assinada pelo jornalista Luiz Henrique Campos. “(…) não se precisa de muito esforço para compreender através dos gestos, falas e escritos do papa Francisco, que ele sempre foi um defensor do conceito que prega a igualdade, a fraternidade e a justiça entre os homens”, expõe o colunista.
Confira:
Não errou quem com o dedo em riste acusou ferozmente o papa Francisco de ser comunista. Conceitualmente originário do latim communis, “pertencente a todos”, o comunismo propugna uma sociedade onde os recursos são coletivamente usufruídos, promovendo a igualdade e a justiça para todos. Ao contrário do que muitos estudiosos de internet consideram, o conceito não surge com Marx, pois este se utilizou dos preceitos da Comuna de Paris, governo proletário estabelecido na capital francesa em 1871, o primeiro modelo de governo socialista da história.
Mas antes da Comuna de Paris, Platão (427 a.C.- 347 a.C.), em “A República”, já sugere uma sociedade que tenha base no compartilhamento entre as pessoas de todos os seus bens e cuja criação das crianças seria de responsabilidade coletiva. É fato que a proposta do comunismo é utópica, ainda mais em nossos tempos, onde o consumismo é a mola da sociedade, tornando o homem hodierno um ser refém de suas próprias contradições em termos de necessidades e desejos.
Nesse sentido, não se precisa de muito esforço para compreender através dos gestos, falas e escritos do papa Francisco, que ele sempre foi um defensor do conceito que prega a igualdade, a fraternidade e a justiça entre os homens. Em 19 de janeiro de 2018, por exemplo, afirmou: “Uma Igreja pobre para os pobres! Os pobres não são uma fórmula teórica do partido comunista. Os pobres são o centro do Evangelho. São o centro do Evangelho! Não podemos pregar o Evangelho sem os pobres. Então digo-te: sinto que o Espírito nos está a levar nesta direção. Mas há fortes resistências.”
Outra fala importante foi feita na Basílica de São Pedro em 6 de julho de 2018, quando afirma: “Quantos pobres são hoje esmagados! Quantos desfavorecidos são feitos perecer! Todos eles são vítimas daquela cultura do descarte que repetidamente foi denunciada. E, entre eles, não posso deixar de incluir os migrantes e os refugiados, que continuam a bater às portas das nações que gozam de maior bem-estar.” Donald Trump que o diga.
Já em discurso no simpósio ‘Novas formas de fraternidades solidária’, em 5 de fevereiro de 2025, destacou que “o mundo perde bilhões de dólares por ano em armas e violência, somas que acabariam com a pobreza e o analfabetismo se pudessem ser reencaminhadas.” A obra do papa Francisco, portanto, é reveladora de uma simplicidade própria de quem está do lado dos mais necessitados, mesmo que nunca tenha deixado de conversar ou receber os poderosos. Sim, o papa foi um comunista, graças a Deus.
Luiz Henrique Campos
Jornalista e titular da coluna “Fora das 4 Linhas”, do Blogdoeliomar