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“Soberania Digital, Colonização e Letramento” – Por Mauro Oliveira

Mauro Oliveira, também professor do IFCE, lançarálivro durante o evento. Foto: Reprodução

Com o titulo “Soberania Digital, Colonização e Letramento”, eis artigo de Mauro Oliveira, PhD em Informática (Sorbonne University), mestre em Engenharia Elétrica (PUC-Rio), pós-doutorados em Telecomunicações (Kings College Londres e Ottawa University), professor visitante da Universidade de Troyes (França), ex-diretor-geral do CEFET-CE e ex-secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, que, dia 20 próximo, às 16 horas, no Pirambu Digital, lança novo livro.

(Livro dedicado a Ariosto Holanda, Doutor Honoris Causa IFCE)

Confira:

Contexto do Livro

O mundo corre em alta velocidade rumo a dois horizontes que, até pouco tempo atrás, soavam como ficção científica: a Inteligência Artificial Geral (AGI) e a Computação Quântica.

A primeira ainda é um desafio distante, mas cada vez mais tangível; a segunda, embora em fase experimental, já anuncia impactos capazes de remodelar o presente. Ambas apontam para a chamada singularidade tecnológica, o instante em que as máquinas ousam ultrapassar fronteiras humanas e redefinir nossas próprias condições de existência (e, quem sabe, também a nossa paciência… rsrs).

Nesse cenário, a fronteira entre inteligência humana e artificial dissolve-se como tintas misturadas em um copo d’água, borrando distinções do raciocínio lógico e abrindo espaço para sistemas que processam dados numa escala jamais vista.

Máquinas que aprendem, decidem e criam com relativa autonomia, mas já suficiente para redesenhar estruturas de poder, alterar economias e colocar em xeque a própria noção de soberania, em sentido mais amplo … (e seguimos acreditando que basta atualizar o antivírus pra manter o controle… rsrs).

Esse alerta ganha força extra em junho de 2025 com o relatório AI 2027: Forecasting Scenario Report, um exercício narrativo e especulativo produzido por Daniel Kokotajlo, Scott Alexander, Thomas Larsen, Eli Lifland e Romeo Dean. O documento projeta cenários de aceleração rumo à superinteligência artificial e descreve, entre outras possibilidades, a emergência de agentes autônomos capazes de gerar novas gerações de IA, reconfigurar mercados inteiros e intensificar tensões geopolíticas. Tudo isso, paradoxalmente, em nome da tentativa de preservar o controle humano (hummm… dá mesmo para acreditar nessa?)

A questão do Letramento Digital

Eis o pepino: como encarar esse futuro turbinado pela inteligência artificial em um país que ainda tropeça no próprio abecedário digital? A gente confunde IA com propaganda de margarina tecnológica, repete jargões de palco como se fossem ciência, e muitas vezes não sabe separar hype de pesquisa séria (é como comprar um carro pela cor da latarIA sem nem levantar o capô).

É nesse buraco de compreensão que a tal IA Generativa chega, não como novidade de feira, mas como divisor de águas. O marco? 2017, com o artigo já lendário Attention is All You Need, de Ashish Vaswani e sua turma, que apresentou ao mundo a arquitetura Transformer, essa geringonça matemática que virou o coração pulsante das LLMs (Large Language Models): ChatGPT, Gemini, Claude e afins.

Evolução da Inteligência Artificial

Mas foi apenas no final de 2022, com o lançamento do ChatGPT pela OpenAI, que essa revolução deixou os círculos técnicos e se tornou palpável: cem milhões de usuários em pouco mais de um mês, um feito sem precedentes. Ao contrário da IA cognitiva, como o Watson da IBM, que apenas simulava processos decisórios humanos, a IA Generativa inaugura um patamar disruptivo. Já não se limita a imitar, ela cria. Sim, ela produz textos, vozes, imagens, músicas e vídeos originais a partir do conhecimento humano e de modelos estatísticos nutridos por gigantescos volumes de dados (disponíveis no “éter” eletronicamente “vetorizados”, manca!).

Essa vetorização do conhecimento humano corresponde, numa metáfora “peba”, a convocar a “galera toda para um churrasco” sempre que você usa o ChatGPT, por exemplo. A galera convocada converte linguagem, sons e imagens em mapas numéricos de múltiplas dimensões, onde padrões se revelam e conexões inesperadas emergem. A máquina não pensa, não conhece memórIA intenção ou consciêncIA mas cria como se pensasse… projetando no espelho algorítmico uma sombra daquilo que chamamos de mente,… pode um negócio desses?

Resultado? Uma escala de produção impossível para qualquer cérebro biológico que fica fascinado com a varinha mágica … (quem, afinal, controla o roteiro dessa bodega digital?)

O grave e urgente problema da Colonização Digital

Enquanto outras nações constroem infraestrutura, formam talentos e escrevem a gramática do futuro, linha por linha, nós seguimos aqui, de chapéu na mão, lendo a bula escrita lá fora e achando que é novidade. Consumimos parágrafos alheios embalados como inovação… sem notar que o enredo já vem pronto, carimbado e traduzido … (é de lascar o cano, né não?).

Nosso dilema é simples e cruel: ou nos alfabetizamos digitalmente ou continuamos colônia. No passado, clamamos por independência; hoje, a bandeira que se ergue é outra: uma Inconfidência Digital, uma Independência Algorítmica. Sem isso, seremos eternos figurantes, usuários de luxo, mas nunca autores da história que outros já estão escrevendo … (Inconfidência Digital, Independência Algorítmica… hummm).

Essa dependência não é detalhe, é um sistema inteiro. Se mostra em camadas bem conhecidas: primeiro, na nossa adoração acrítica a softwares proprietários, que chupam nossos dados como quem toma caldo de cana e exportam tudo sem recibo.

Depois, nos datacenters estrangeiros plantados em solo brasileiro, que bebem da nossa água, sugam nossa energIA, e ainda assim mantêm a Inteligência e lucro do outro lado do Equador. Por fim, na coleta massiva de informações de milhões de cidadãos, mastigadas e transformadas em ração premium para algoritmos globais. E o que fica aqui? Não muito. Nem conhecimento, nem soberania, nem riqueza. Só o consolo de assistir ao espetáculo pela tela, como colônia digital de luxo. A gente
fornece a lenha, eles fazem o churrasco… (aguenta mais?… rsrs).

E a Escola com isso, hein?

Diante desses dois paradigmas, Letramento Digital e Colonização Digital, a Escola, em seu sentido mais amplo, deveria ser o farol onde a sociedade ancorasse suas esperanças. Afinal, nasceu para isso: antecipar caminhos, provocar debates, preparar jovens para o jogo real da vida. Mas o que vemos? Uma Escola atrasada, fora de sintonIA, incapaz de formar protagonistas ou de dialogar com o que já bate à porta… (“Parem o trem da IA. A Escola não subiu ainda!”).

E aqui não tem volta: se a Escola falha, falhamos todos. Perdemos não apenas a chance de escrever nossa própria histórIA, mas a de existir como protagonistas nesse mundo que já chegou.

Não bastam meia dúzia de discursos em gabinetes refrigerados. Essa consciência precisa atravessar corredores, ruas, praças, precisa contagiar a população. Não com promessas vazias, mas com o debate cru, direto, sem retoque, sobre ameaças e oportunidades. Porque sem gente informada, crítica e preparada, não há projeto nacional. Não há futuro, não há soberanIA … (nem razão haveria para escrever um livro).

O que podemos fazer?

O tempo da neutralidade já era. O atraso virou sentença. A urgência é cristalina: quem não dominar competências em Inteligência Artificial Geral e Computação Quântica será condenado ao papel de consumidor passivo de uma colonização digital silenciosa, implacável e cada vez mais ousada.

Soberania Digital não é luxo de visionários: é sobrevivência coletiva… (como fazer para as universidades entenderem isso, hein?).

Governantes, empr esários, reitores, professores, bodegueiros, motoristas, sociedade civil e juventude precisam acordar, e é pra ontem. Do contrário, o amanhã não passará de uma sombra projetada nas paredes das big techs — e nós, reféns, aplaudindo de pé a própria perda de futuro. Acorrentados na tal Caverna Platônita, vendo só as sombras abestadas dançando na parede… e achando bonito!

Uma questão de Soberania Digital

Este livro não é, portanto, apenas um alerta. É um ultimato: Um grito contra a inércia de um país que insiste em adiar escolhas.

Este livro é sobre o futuro que já não se esconde no horizonte: Um chamado antes que o amanhã nos atravesse a garganta sem nada dizer.

Este livro é sobre plantar o próprio pão, tecer o próprio código, cantar a própria voz: Sem tradução, sem permissão, sem pedir desculpas.

Este livro é sobre um Brasil pulsante livre, respeitado e soberano para os nossos filhos!

*Mauro Oliveira

PhD em Informática (Sorbonne University) e mestre em Enga Elétrica (PUC-Rio), tem dois pós-doutorados em Telecomunicações (Kings College Londres e Ottawa University), foi professor visitante da Universidade de Troyes (França), Diretor Geral do CEFET-CE e Secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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