Com o título “Soberania Digital Já: o controle do nosso futuro”, eis artigo de Mauro Oliveira, professor do IFCE, PhD em Informática por Sorbonne University e ex-secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações. “A luta não é contra a tecnologia. É contra a invisibilidade do controle. É contra o “aceito os termos” sem saber o que se entrega. É por transparência, regulação, ética e autonomia. Porque, do jeito que vai, a gente vai acabar achando que liberdade é escolher entre duas marcas de biscoito em promoção no Black Friday”, expõe o articulista.
Confira:
Você já parou pra pensar quem é que manda mesmo no que você vê, consome ou até no que você pensa que decidiu por conta própria quando está online?
Calma, não é papo de tio do zap. É coisa séria. Trata-se de um poder bem estruturado, cheio de algoritmos com terno e gravata e, pra piorar, operando no modo silencioso.
E não, esse poder não está nas mãos dos usuários (que, aliás, mal conseguem dar conta do grupo da família no WhatsApp). Ele está nas mãos das big techs — plataformas digitais que não apenas vendem o que você gosta, mas moldam o que você vai gostar. Influenciam seu comportamento, a economia global e até os rumos da democracia.
Vivemos sob uma nova forma de colonização: a colonização digital.
Ela não chega com caravelas, mas com termos de uso que ninguém lê.
Não sequestra corpos, mas sequestra dados, o novo ouro da era da era digital.
E quem detém os dados, detém você. Seus cliques, seus gostos, suas dúvidas, seu jeitinho de escrever “oii” com dois is… tudo registrado, minerado, empacotado como produto de prateleira.
Quer o spoiler: você é o produto! O que está à venda é a sua previsibilidade. Seu comportamento transformado em moeda.
É como se o seu cérebro tivesse terceirizado o pensamento crítico pra um algoritmo estrangeiro — hospedado na Califórnia ou em Shenzhen — que decidiu que seu destino é parcelar uma air fryer na Mesbla (É o NOVO) em 12 prestações no VISA sem juros, jura o Trump (de “pixes” juntos … rsrs) … e ainda achar que isso foi escolha sua.
Está é a cereja do bolo? Essas plataformas ainda fazem parecer que você tem voz, liberdade e protagonismo. Mas, no fim, você tá num teatro onde o roteiro já foi escrito — e você só improvisa nos intervalos.
Por isso, meu amigo, minha amiga, meu algoritmo: Soberania Digital Já.
A luta não é contra a tecnologia. É contra a invisibilidade do controle. É contra o “aceito os termos” sem saber o que se entrega.
É por transparência, regulação, ética e autonomia. Porque, do jeito que vai, a gente vai acabar achando que liberdade é escolher entre duas marcas de biscoito em promoção no Black Friday.
O que queremos com a Soberania Digital?
– Que os nossos dados não fiquem à deriva, sob controle invisível das big techs;
– Que os algoritmos que afetam nossas vidas sejam auditáveis e transparentes;
– Que o Brasil desenvolva sua própria capacidade técnica — com infraestrutura, software, pesquisa e gente qualificada;
– Que o debate sobre tecnologia envolva educação, cidadania e soberania, e não fique restrito a CEOs do Vale do Silício e investidores da Faria Lima.
Afinal, essa tal “nuvem” que todo mundo fala…
não é vaporzinho mágico. Ela tem dono. Tem sede. Tem interesses.
E o nome disso, meu fi, é geopolítica digital.
Discutir soberania digital não é modinha acadêmica, nem papo geek. É questão de Estado.
Quando os nossos dados estão armazenados fora do país,
quando nossa comunicação depende de plataformas com sede nos EUA ou na China,
a gente perde autonomia.
Fica vulnerável.
Fica dependente:
– Eleições em que algoritmos promovem uns e silenciam outros;
– Políticas públicas baseadas em dados manipulados, comprados ou vendidos;
– Crianças e jovens sendo moldados por plataformas que você não entende, não controla, não audita.
Por isso, pela democracia e muito mais: Soberania Digital Já.
Dados são o novo petróleo? São.
Mas são também memória, desejo e direção.
Entregar isso nas mãos de quem nunca ouviu um “oxente” é dar o volante do país pra um algoritmo que nem sabe onde fica Juazeiro? “Diabeisso, Seu Lunga?”
“Meu fi, isso não é progresso — é submissão, bando de fudumasegua” (rsrs, Seu Lunga tá moderado).
Nosso futuro não pode ser terceirizado:
Soberania Digital Já.
*Mauro Oliveira
Professor do IFCE, PhD em Informática por Sorbonne University e ex-secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações.