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“Sobre a derrubada da estátua do Comendador Ananias Arruda” – Por Eudes de Sousa

Eudes de Sousa é presidente da Academia Massapeense de Letras e Artes

“Causa profunda indignação que tal símbolo tenha sido removido para dar lugar a um estabelecimento comercial, como se a memória coletiva pudesse ser descartada em nome de interesses efêmeros”, aponta o historiador Eudes de Sousa

Confira:

Neste início de século, em pleno alvorecer do século XXI, somos chamados a viver a plenitude da democracia, em que o respeito à memória, à cultura e aos símbolos da nossa história deveria ser inegociável.

Entretanto, nos deparamos com um ato que nos envergonha profundamente: a derrubada da estátua do Comendador Ananias Arruda, instalada na praça que leva seu nome, na cidade de Baturité. Este gesto revela um lamentável desprezo por um dos grandes ícones cearenses, cuja trajetória honrou o Ceará e o Brasil, sendo agraciado com duas comendas pela Santa Sé em reconhecimento ao seu legado.

O monumento em homenagem ao Comendador não é apenas uma escultura — é um marco de identidade, uma referência histórica que permite às gerações presentes e futuras compreenderem a grandeza daquele que foi figura central no desenvolvimento de Baturité. Sua memória inspira e deve ser preservada com o devido respeito.

Causa profunda indignação que tal símbolo tenha sido removido para dar lugar a um estabelecimento comercial, como se a memória coletiva pudesse ser descartada em nome de interesses efêmeros. Essa ação nos remete aos tempos sombrios do autoritarismo, quando vozes e símbolos eram silenciados sob o peso do poder arbitrário.

Baturité vive hoje um momento grave: é como uma ave hipnotizada pela lógica autoritária, incapaz de reagir à destruição de seu patrimônio. O fato exige reflexão séria, pois se insere num contexto mais amplo de desvalorização da cultura, frequentemente sacrificada no altar do lucro e do imediatismo. O neoliberalismo, com seu discurso sedutor, tem sido cúmplice silencioso da dilapidação dos bens culturais, relegando ao esquecimento a alma das cidades.

É necessário, portanto, levantar nossa voz com dignidade. A defesa do patrimônio cultural é dever de todos: da sociedade, das instituições, da imprensa livre e dos órgãos de proteção à memória histórica. Não podemos aceitar a omissão. Não podemos permitir que o passado seja apagado impunemente.

Perguntamos: onde estão os guardiões da cultura? Onde estão os instrumentos legais que devem coibir ações lesivas à memória coletiva? Onde está o respeito pelas raízes de um povo?

Que esta nota sirva como um chamado à consciência cidadã. O filósofo romano Cícero advertia: “A ignorância continuará a imperar enquanto não houver respeito pelo patrimônio cultural.” E o cineasta Luis Buñuel nos lembra: “Nossa memória é nossa coerência, nossa razão, nossa ação, nosso sentimento. Sem ela, não somos nada.”

A derrubada da estátua do Comendador Ananias Arruda representa, sim, um retrocesso. E como tal, deve ser denunciado, combatido e revertido, em nome da justiça histórica e do respeito que devemos à nossa própria identidade.

Eudes de Sousa é historiador e presidente da Academia Massapeense de Letras e Artes

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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