Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

“Sobre atavismos”

Luis Sergio Santos, jornalista, escritor e professor. Foto: Instituto Myra e Eliane

“José Marques de Melo era uma acadêmico com foco no mercado pois ele sabia que, afinal, quem pagaria a conta dos novos profissionais seria um mercado”, aponta o jornalista e professor Luís Sérgio Santos. Confira:

Gostaria de fazer alguns comentários sobre este nosso, digamos, seminário, nesta semana no Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará.

Em primeiro lugar, a despeito de eventuais e muitas vezes necessárias dispersões, elas não podem ser cerceadas ao estilo Alexandre de Moraes, para voltar ao “FHOCO”, com PH mesmo,

Foi um encontro muito rico de trocas de conhecimento, sapiência colonial (a maioria dos autores referenciados são do hemisfério norte, notadamente Europa), avaliação de perspectivas e principalmente pontos de vista — estes, os mais ricos e, nem sempre considerados relevantes.

É bom que se diga que não existe um padrão nos estudos de jornalismo e de comunicação, agora elevados ao status de teorias. Nada mais dialético, nada mais heterodoxo que a comunicação e o jornalismo depois do advento da Internet.

As teorizações são todas elas válidas necessárias estimulantes para o debate intelectual, um estímulo aos neurônios ainda mais quando elevam o debate à questão simbólica.

Ainda mais porque um colega nosso, talvez o Ricardo Jorge, disse em sala que o Imaginário é mais importante que o Real. Sem dúvida, Ricardo, sem dúvida. No imaginário estão todas as nossas crenças, os nossos “BIAS”.

A questão central que eu coloquei na reunião do dia 26 é: qual o profissional que queremos formar? Isso, me parece. uma dada resposta remete para um hibridismo: profissional para o mercado de trabalho nos canais de produção e emissão de conteúdo em várias plataformas, e aqueles que irão se dedicar à pesquisa, ao mundo acadêmico, torço que para uma pesquisa mais dialética, aquela pesquisa que quebrou os paradigmas da história conservadora indo fundo para o ensaio biográfico ou para a grande biografia como fazem nossos Lira Neto a exemplo de Fernando Morais e de Ruy Castro, todos jornalistas.

Quando eu ganhei o prêmio Esso, em 1982, ele veio em decorrência de uma grande reportagem sobre tráfico ilegal de crianças recém-nascidas do Ceará para os Estados Unidos.

A grande reportagem ainda é hoje, em qualquer plataforma, líquida ou sólida, hermética ou heterodoxa, o que for, o grande momento intelectual para jornalistas, por onde começaram Truman Capote, Norman Mailer, Hunter S. Thompson e muitos outros e, no Brasil, as turmas das revistas O Cruzeiro, Manchete e Realidade.

No nosso encontro, repito, muito rico, me incomodaram particularmente duas coisas.

Primeiro uso da expressão “decolonial”, uma expressão inglesa para representar a ideia de “descolonização”. Ora, nada mais colonizado que falar “decolonial”.

Na segunda questão, que me incomodou muito, as referências pejorativas ao professor José Marques de Melo — meu professor na ECA-USP. Ora, como lembrou Ricardo Jorge, me parece também o professor Nonato, e me desculpe algum outro, o homem é o retrato do seu tempo. O tempo é daqueles muito colonizados, inclusive academicamente.

Mas a marca de Zé Marques é a de que ele foi o primeiro teórico da comunicação no Brasil. Nada mais descolonizado que que ele.

José Marques de Melo era uma acadêmico com foco no mercado pois ele sabia que, afinal, quem pagaria a conta dos novos profissionais seria um mercado. Em sua época, um mercado robusto, hoje, uma dispersão líquida. Então, não dá para comparar Zé Marques e seu tempo e os tempos de Bauman.

No Brasil, José Marcos de Melo é o pai de todos nós, sim. Ele vem depois de Beltrão, que não era um Acadêmico. O nordestinado José Marcos de Melo é fundador da Escola de Comunicações de Artes da Universidade de São Paulo. Ele é o fundador do programa de pós-graduação da Universidade de São Paulo .

José Marques de Melo tem uma relação umbilical com o nosso Curso de Jornalismo amigo que era, intestino, da professora Adísia Sá. Esteve aqui várias vezes e ajudou a montar nossos currículos.

Não à ignorância histórica.

Respeito ao Zé.

Luis Sérgio Santos é professor do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará, em reverência à memória do seu professor na ECA-USP, José Marques de Melo

COMPARTILHE:
Mais Notícias
Juros do cartão de crédito sobem e atingem 429,5% ao ano em junho

Juros do cartão de crédito sobem e atingem 429,5% ao ano em junho

A taxa média de juros do cartão de crédito rotativo teve alta de 7,1 pontos percentuais para as famílias, passando de 422,4% ao ano, em maio, para 429,5% ao ano

“O princípio de autodestruição”

“O princípio de autodestruição”

"Qual ciência é boa para a transformação mundial?", aponta o filósofo e escritor Leonardo Boff. Confira: Os países que formam o G20, desde 2017, criaram uma articulação entre as academias

Cagece e Ambiental Ceará participam do “Férias no Parque”

Cagece e Ambiental Ceará participam do “Férias no Parque”

A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e a Ambiental Ceará vão participar, neste domingo (28), do projeto “Férias no Parque”. Realizada pelo Governo do Ceará, a programação

Lula sanciona criação de título de renda fixa para estimular indústria

Lula sanciona criação de título de renda fixa para estimular indústria

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou nesta sexta-feira (26) a lei que cria a Letra de Crédito de Desenvolvimento (LCD). O título de renda fixa, sujeito a isenção

Jornalista cearense vence prêmio nacional de Antropologia

Jornalista cearense vence prêmio nacional de Antropologia

A pesquisa "Tudo o que nóiz tem é nóiz: Um estudo sobre narrativas negras do jornalismo brasileiro", do jornalista cearense Bruno de Castro, foi a vencedora do 3º Prêmio Lélia

Morre o radialista e jornalista Colombo Sá, o eterno homem do “Clube dos Tetéus”

Morre o radialista e jornalista Colombo Sá, o eterno homem do “Clube dos Tetéus”

A Associação Cearense de Imprensa (ACI) divulgou, nesta sexta-feira, nota informando e lamentando a morte do jornalista e radialista Colombo Sá (87), sócio da ACI desde 3 de outubro de