“Austeridade alegada pelo novo presidente dos Estados Unidos, o inominável, para literalmente vender prisioneiros sem julgamento para El Salvador, país onde o ditador de plantão constrói cárceres”, aponta a jornalista e publicitária Tuty Osório
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Tem moda para tudo. Para literatura, para cinema, também. Nestes dois últimos casos é o que todos estão lendo, todos estão assistindo. Ou quase… Fui estimulada ao Romance Napolitano de Elena Ferrante, bem antes de estar em voga. A amiga Claudia Albuquerque que me falou, numa de nossas saídas para jantar, tomar vinho ou cerveja, e falar de livros sem olhar para os lados. Muito bom demais ter uma amiga assim. Vim decidir ler faz pouco, e de entediada a convertida, apaixonada, passei por mil sensações. É de fato uma história muito bem contada. Não por falar de amizade, ou de periferias, ou de opressão. É a coisa de contar com emoção e destreza criativa na escrita, um não sei o quê que te prende e não te larga. Sim , você fica com saudades quando termina. Uma separação doída, desconcertante…
Nessa história da Itália do sul, de Elena, a autora que diz a recente lenda ser um homem, fala-se da moléstia da Austeridade já na década de 70 do XX. Algo que vem com a pretensão de salvar e exclui, mata, invisibiliza – o que é pior que matar. Austeridade alegada pelo novo presidente dos Estados Unidos, o inominável, para literalmente vender prisioneiros sem julgamento para El Salvador, país onde o ditador de plantão constrói cárceres para abrigar os seus perseguidos e os dos outros – todos, repito, sem julgamento.
Mesmo os culpados não merecem estar lá. Arbitrariedades, torturas, direitos humanos zero, ou menos. Que dirá os inocentes, e está provado, o próprio ditador admite, que há muitos inocentes. Muitos que nada fizeram, que foram detidos sem critério, simplesmente por serem latinos. Notícia checada por fontes totalmente confiáveis, o que me deixou chocada e desesperada. Exportam-se detidos porque é mais barato destiná-los a outro país.
Não sou propriamente ingênua, todavia, não imaginei viver para ver tal atrocidade. Já é muito cruel saber de nossa justiça sem rumo, da sociedade dominada pelo tráfico de drogas e armas, atingindo tanta gente vulnerável. Mais uma vez peço perdão pelos espinhos, porém, a notícia é verdadeira. Como também é verdadeira a história contada na SÉRIE inglesa da NETFLIX, ADOLESCÊNCIA, assistida por milhões de pessoas ao redor do mundo. Mais uma indicação da amiga Cláudia Albuquerque, eu chegando atrasada, mais uma vez. Jovens, adolescentes e crianças jogadas no abismo do abuso moral, para falar do mínimo. Para abraçarmos o otimismo, o riso, a jocosidade das conversas, é preciso enfrentar.
Que venham as flores a serem compartilhadas por mãos conscientes. A serem colhidas por mentes esclarecidas da realidade. Não sei o COMO, Conclamo ao agir, peço a união em torno do mundo que queremos e podemos se a acomodação for vencida pela dignidade.
Ou perdemos a noção da diferença entre uma coisa e outra?
Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS. Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais