“Sonhos Juninos” – Por Ernesto Antunes

Com o título “Sonhos Juninos”, eis artigo de Ernesto Antunes, consultor empresarial, administrador e escritor. Ele relata agenda que cumpriu no festão junino de Caruaru (PE).

Confira:

Em um desses finais de domingo, fico com o controle da televisão na mão, procurando algo que possa me entreter e satisfazer, entre o futebol e os poucos atrativos programas de auditório das tradicionais emissoras. E foi exatamente nesses programas que pude descobrir que poderíamos realizar coisas que, minutos antes, nem imaginava que seria capaz de fazer ou que estivessem nos meus planos.

Como minhas preferências musicais recaem em pouquíssimas opções de cantores sertanejos, eis que, nesse domingo chuvoso, o referido programa era em homenagem à dupla Bruno & Marrone, que completava 40 anos de estrada. Entre uma música e outra, eles comentaram que, no mês de junho, estariam no Nordeste, cantando nas famosas festas juninas.

Imediatamente, eu e minha companheira nos entreolhamos e falamos um para o outro: “Vamos?” Após consultar as programações das festas de São João em Campina Grande e Caruaru, veio a surpresa maior: no dia 28 de junho, além da famosa dupla sertaneja, o meu forrozeiro preferido, o pernambucano Jorge de Altinho, também completando 40 anos de carreira, faria parte da programação, que ainda contava com Xand Avião.

Coincidência ou não, neste ano completo os mesmos 40 anos de carreira profissional, de forma ininterrupta, e precisava comemorar esse feito realizando um sonho: participar de uma festa junina em Caruaru.

Na vida, algumas decisões precisam ser rápidas e efetivas, pois, se formos analisar as dificuldades nos caminhos a serem percorridos, tendemos a desistir, principalmente se exigirem um esforço maior. Para não analisar muito os percalços a serem enfrentados, fomos imediatamente à Rodoviária de Fortaleza e compramos a viagem de ida e volta para Caruaru-PE, com direito a exaustivas 16 horas de trajeto, entre um dia e outro, nas confortáveis poltronas 1 e 2 do ônibus.

Precisávamos reservar o hotel para duas diárias e, para nossa surpresa, praticamente todos os hotéis já estavam lotados, restando apenas uma vaga em um hotel com diárias acima da média. Reclamei do valor, mas me lembrei que, nesse período, prevalece a lei da oferta e da procura.

Chegou o dia da viagem e minha companheira, como marinheira de primeira viagem em percursos longos de ônibus, dizia em alto e bom som: “Vou de Guanabara!” Estávamos ansiosos para realizar nosso objetivo de ver ao vivo o show de Bruno & Marrone, em plena noite de São Pedro, em Caruaru, dupla presente em vários momentos sentimentais do casal.

Ao chegarmos exaustos da viagem, já ao meio-dia, não conseguia relaxar, tamanha era a adrenalina em participar da festa junina e ouvir nossos cantores preferidos em um evento tão tradicional.

Como de costume, chego cedo aos locais para evitar qualquer tipo de imprevisto, pois os objetivos traçados precisam ser realizados e não justificados. Ao chegarmos ao local, nos deparamos com uma grandiosa estrutura em um parque que tinha de tudo: quiosques com bebidas e comidas típicas, lojas de marcas e de artesanato e uma infinidade de atrações, como quermesses, igrejinhas e as tradicionais bandinhas de pífano e sanfoneiros para todos os gostos.

Entramos no parque e, entre um aperitivo e outro, ficamos como tietes, quase em frente ao palco, pois os caros camarotes eram para os poderosos. Ansiosos como adolescentes, como diz o Lucas Lordão, ficamos mais de 8 horas em pé.

A programação foi iniciada com a banda O Gigante, que reunia forrozeiros de Caruaru, passando pelo insosso Xand Avião, até chegar à minha grande atração, que era Jorge de Altinho. Ele já entrou cantando seu sucesso “Confidências”, e pude relembrar 35 anos atrás, quando o assisti pela única vez em um show em Recife.

Mas, a grande atração estava reservada para o final. Já era mais de meia-noite e, aguentando firme e forte, lá estávamos, cantando os sucessos inesquecíveis de Bruno & Marrone. Ao cantar a canção “Facas”, fiquei emocionado por estar ali, sentindo o amor da companheira e a neblina ou o orvalho da noite que caía. Certas coisas precisamos realizar, pois os bons momentos da vida podem ser criados e vividos intensamente.

Ao cair das 3 horas da manhã, ainda estávamos no Parque Luiz Gonzaga para nos abastecer com bolos, canjicas, pamonhas e até acarajé de fim de festa, como se fosse a “última Coca-Cola do deserto”. Falando em Coca-Cola, chegou a ser vendida até por R$ 10,00 no local, provando que a carestia chegou forte.

A volta para o hotel, entre a negociação frenética com taxistas e motoristas de Uber, foi prazerosa, pois mais um objetivo foi alcançado, mostrando que podemos muito mais do que imaginamos, mesmo quando algumas pessoas próximas não acreditam na nossa capacidade de realização.

O dia seguinte foi um deleite: acordamos bem e ainda tivemos fôlego para conhecer a famosa Casa Rosa, com direito a mais forró raiz, e o Alto do Moura, para saborear o prato típico da região, bode assado ao forno.

Enfim, cansados, o retorno foi um deleite para viajantes terrestres de primeira viagem. E viva São João e São Pedro!

*Ernesto Antunes,

Consultor empresarial, administrador e escritor.