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“Tarifas, Dólar e Guerra Ideológica: Como o Brasil se tornou peão em nova disputa global” – Por Alex Araújo

Alex Araújo é economista, ex-secretário de Desenvolvimento Regional do Estado do Ceará e atual diretor de Negócios da Camed Microcrédito e Serviços. Foto: Arquivo pessoal

Com o título “Tarifas, Dólar e Guerra Ideológica: Como o Brasil se tornou peão em nova disputa global”, eis artigo de Alex Araújo, economista, ex-BNB, ex-secretário de Finanças no Tribunal de Justiça do Ceará, ex-assessorna Fecomércio e ex-secretário de Desenvolvimento Local e Regional no Governo do Ceará. “O Brasil, para sobreviver a essa tempestade, não pode ficar numa encruzilhada entre bravatas ideológicas ou protestos diplomáticos. É hora de agir: com diplomacia técnica, regulação equilibrada e uma comunicação assertiva”, expoe o articulista.

Confira:

A recente escalada de tarifas de Donald Trump contra o Brasil não cabe em uma simples narrativa de culpa entre Lula e Bolsonaro. Por trás do “tarifaço” há uma estratégia calculada e multifacetada dos EUA, que se articula em três grandes eixos: geopolítico, ideológico e empresarial. No coração dessa ofensiva, pulsa a disputa pelo dólar — ou pela manutenção de sua primazia — que se estende até o universo emergente das stablecoins.

Desde sua campanha, Trump deixou claro que a hegemonia do dólar está em jogo. Em outubro e novembro de 2024, antes mesmo de reeleito, ameaçou tarifas “de 100%” sobre países do Brics que tentassem reduzir o uso do dólar. Uma estratégia evidente: conter o avanço do bloco que desafia o sistema monetário americano. Nos bastidores, o Brasil vinha sendo monitorado como ponto vulnerável no Brics. Um bloco com PIB superior aos EUA e perspectivas de moeda própria – possivelmente lastreada em ouro ou uma cesta composta pelas respectivas moedas nacionais.

Trump, já no poder, chamou o Brics de “ameaça” à ordem americana e declarou que “perder o padrão do dólar seria como perder uma guerra mundial". A imposição de tarifas de até 50%, direcionadas especificamente ao Brasil, expressa essa lógica: usar poder econômico e diplomático para manter intacta a ortodoxia do dólar. Mas a guerra não para nas fronteiras da economia. Ela também se dá no terreno simbólico e ideológico. O poder americano se mobiliza para proteger não só o dólar, mas também o discurso liberal ocidental — e nesse ponto, conta com uma
aliança pragmática com o bolsonarismo.

Sob essa perspectiva, os ataques ao STF — em especial às decisões de Alexandre de Moraes — foram rapidamente incorporados ao repertório ideológico do embate. Parlamentares como Marco Rubio, nos Estados Unidos, chegaram a apresentar propostas para restringir estrangeiros que, em sua visão, ameaçam a “Primeira Emenda”.

Trata-se de uma estratégia evidente para enquadrar o Brasil devido às suas iniciativas de regulação das big techs, transformando um debate jurídico em questão central na disputa ideológica e diplomática entre os países.

O bolsonarismo, por sua vez, adicionou lenha na fogueira: Eduardo Bolsonaro manteve reuniões com parlamentarismo radical americano, enquanto o aplicativo Rumble e Elon Musk acionaram tribunais nos EUA contra decisões do STF. Essa interligação entre forças ideológicas — direita estadunidense, bolsonarismo e plataformas digitais — estabeleceu um ambiente de pressão contínua sobre a soberania nacional brasileira.

O argumento econômico final para esse embate não vem do agronegócio nem do etanol, mas do universo digital. As big techs americanas— especialmente as plataformas de redes sociais — têm muito a perder com regulações mais rígidas adotadas por democracias como o Brasil.

Do ponto de vista da estratégia empresarial americana, qualquer tentativa de regulação que possa restringir a liberdade de moderação das plataformas digitais seria uma barreira intolerável. Assim, ataques ao STF e ao Brasil passaram a ser tratados como luta dos EUA pelas liberdades de expressão (de acordo com seu universo normativo) e pela manutenção de um modelo de negócios amigável às big techs.

O tarifaço não é, portanto, um evento isolado, mas sim parte de um conjunto mais amplo de ações que envolvem aspectos geopolíticos, ideológicos e empresariais.

No campo da geopolítica, destaca-se a defesa do dólar e a tentativa de obstruir o avanço de moedas alternativas propostas pelos Brics. Do ponto de vista ideológico, observa-se a proteção das grandes empresas de tecnologia e a imposição de normas americanas como padrão global. Já na esfera empresarial, há o interesse em facilitar a adoção de stablecoins controladas e reguladas pelos Estados Unidos.

Essa campanha multifacetada evidencia que a chamada “Guerra do Dólar” se desdobra em diferentes frentes — diplomática, jurídica, econômica e digital — colocando o Brasil no centro desse cenário de disputas internacionais.

O tarifaço contra o Brasil é o capítulo mais recente de uma ofensiva americana ampla, que mistura estratégia geopolítica, ideologia liberal e luta empresarial — tudo em nome de um objetivo maior: manter o dólar no trono.

O Brasil, para sobreviver a essa tempestade, não pode ficar numa encruzilhada entre bravatas ideológicas ou protestos diplomáticos. É hora de agir: com diplomacia técnica, regulação equilibrada e uma comunicação assertiva.

Se o Brasil não reagir com estratégia e ambição, vai acabar sendo o “país que perdeu a guerra pela moeda”, para usar a imagem poderosa empregada por Trump. O desafio já começou. E nossas escolhas agora vão decidir se continuaremos parte do show… ou protagonistas.

*Alex Araújo

Economista e ex-secreteário do Desenvolvimento Local e Regional do Governo do Ceará.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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