Taxa Selic – Funcionamento, Comportamento de Alta e Reflexos – Por Fabiano Mapurunga

Na última reunião do COPOM (Conselho de Política Monetária) do Banco Central, ocorrida no dia 18 de setembro, houve a decisão por aumentar a taxa básica referencial, a Selic para 10,75% a.a., o que já deixou o mercado interrogativo, pois este movimento provoca uma alteração em praticamente todos os ativos financeiros do nosso país. Muitos se questionam sobre como isso vai impactar no seu próprio bolso.

Taxa SELIC

Vamos tentar fazer uma explicação superficial sobre alguns conceitos para nos ajudar a entender quais os reflexos deste aumento:

Qual é a dinâmica da Taxa Selic?

A Taxa Selic serve de base para a construção de todas as taxas de juros do nossos sistema econômico, como as de financiamentos de veículos, empréstimos para pessoas físicas e retornos de aplicações financeiras.

De uma maneira mais intuitiva, quando a taxa Selic sofre um aumento, todos as outras taxas de juros também sobem. De sorte que, quando mesma vem a cair, as demais também, reduzindo assim o custo de aquisição de financiamentos, empréstimos e retornos sobre alguns investimentos.

O Banco Central tem a taxa Selic como a sua principal ferramenta da política monetária, a qual é utilizada para alcançar o equilíbrio dos preços na economia.

Já que falamos de Política Monetária, vamos explicar o que ela vem a ser:

Política Monetária é o conjunto de ações desencadeadas pelo Banco Central, com o objetivo de controlar a quantidade de dinheiro em circulação, por intermédio de ajustes no seu custo de aquisição.

Podemos dizer então que a Política Monetária tem relação direta com o comportamento dos preços na economia – Inflação.

Classificamos a Política Monetária como:

  • Expansionista: estimula a economia elevando a inflação;
  • Contracionista: desestimula a economia.
  • Neutra: objetiva a estabilidade de preços, sem aquecer ou desaquecer a economia.

Sistema de Metas de Inflação

No nosso país, assim como em outros países, nossa política monetária segue o sistema de metas de inflação, que tem como objetivo controlar as oscilações de preços de bens e serviços.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão responsável por definir a Meta da Inflação, e o mesmo é composto pelos Ministérios da Fazenda e do Planejamento, além do presidente do Banco Central. 

Mas afinal, por que a Selic sobe?

De uma maneira simples, quando a inflação meta está abaixo da sua meta pré-estabelecida pelo CMN, o Banco Central reduz a Selic, pois com isso os demais juros cairão, tornando o crédito mais barato, o que promove o aumento do consumo, aquecendo assim a economia, isso faz aumentar a pressão sobre os preços dos bens e dos serviços, promovendo a inflação.

Ao contrário, quando temos a inflação acima da meta, o Banco Central aumenta a Selic, proporcionando a redução da pressão sobre os preços, tendendo a retornar a inflação de volta para a linha da meta, ou seja, fazendo o movimento inverso à redução da Selic.

Como acontece na prática?

O juros mais elevados acabam por controlar a alta de preços de algumas formas, as quais denominamos de CANAIS DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA. Vamos citar aqui apenas 3 canais pelos quais os juros controlam os preços:

  1. Crédito: elevações na Selic tem efeitos diretos sobre os custos do crédito, dificultando o acesso para empresas e famílias, pois reduz a disponibilidade de crédito na economia, muito em função de uma elevação do risco declarado para bancos diante do custo mais elevado.
  2. Câmbio: Selic mais elevada, reflete em rentabilidades de investimentos mais elevados. Tal oscilação eleva a atratividade sobre os ativos brasileiros, o que provoca mais entrada de capital estrangeiro que chegam em busca de melhores retornos, isso também reflete numa maior valorização da nossa moeda. Com a moeda mais valorizada, permitirá um melhor controle sobre a elevação dos preços, pois passaremos a utilizar uma menor quantidade de reais.
  3. Expectativas: os sentimentos gerados pela expectativa de elevação da Selic, nos consumidores.  Vejamos uma visão na prática: caso o caso o verdureiro suspeitar que os preços subirão no futuro, ele procurará elevar os seus preços para manter sua competitividade.

E por que a Selic está no ciclo de alta?

Nossa economia está deveras aquecida, com inflação em alta e inúmeras incertezas fiscais, o que acaba por pressionar a demanda por bens e serviços. Somados ao fato de estarmos com um câmbio sendo pressionado com expectativa de aumento inflacionário. Tais motivos nos levam a crer que os juros devem permanecer acima do seu patamar neutro.

O que podemos aguardar sobre os investimentos?

Vamos ver a seguir o que o ciclo de alta da Selic poderá proporcionar aos investimentos:

  • A – A alta da Selic sobre a Renda Fixa
    Estes apontam como principais opções, sendo mais favorecidos os pós-fixados, pois tendem a ter uma relação direta com a alta de juros.
  • B – Títulos atrelados à inflação
    Esta modalidade, onde podemos colocar como exemplo o Tesouro IPCA+, podem também ser atrativos, porém de uma outra forma. Tais papéis garantem retorno real, pois pagam juros adicionados à variação da inflação. O investidor sempre terá um ganho acima da inflação.
    Comparando estes com os pós-fixados, o Tesouro IPCA+ protege o investidor contra a perda do poder aquisitivo.
  • C – Pré-Fixados
    Requerem mais cuidado, pois oferecem uma taxa de retorno fixa desde o momento de compra. Independentemente do que ocorrer com a Selic, o rendimento até p vencimento já está definido.

Reflexo da alta da Selic sobre a Bolsa

O impacto desta elevação da Selic sobre o mercado de ações tenderá a ser negativo, pois terá impactos sobre o valor das empresas e sobre o comportamento dos investidores.

Vamos observar alguns pontos:

  • Custo de Oportunidade: elevando a taxa Selic haverá uma valorização dos títulos de renda fixa, com especial atenção para os pós-fixados, os quais oferecem baixo risco e bons retornos. Isso terá como consequência uma corrida natural para estes ativos mais seguros, reduzindo a vontade do investidor por ativos de maior risco como as ações.Tudo isso tem relação com o aumento do custo de oportunidade, pois o potencial de ganhos das ações acaba não compensando em função do seu risco, ao ser comparado com as alternativas mais sólidas da renda fixa.
  • Valor justo das ações em baixa: este valor é calculado pelo método do Fluxo de Caixa Descontado, pois neste modelo a TMA (Taxa Média de Atratividade), que reflete o custo de capital da empresa, recebe impactos de achatamento. Aumentando a Selic o custo de capital ficará elevado, reduzindo assim o valor presente dos caixas futuros das empresas. Isso pressionará os preços das ações das empresas para baixo.
  • Elevação do custo das dívidas líquidas das empresas: aumentando a Selic o custo de aquisição de capital também aumentará, prejudicando mais ainda às empresas com maior alavancagem. Empresas com estrutura de capital muito alavancada, acabam então se tornando mais arriscadas para investidores.

Tais explicações irão reforçar o que precisamos entender sobre as nossas oscilações econômicas provocadas pelo movimento de alta da Selic.

Fabiano Mapurunga: Fabiano Mapurunga é Mestre em Administração de Empresas com ênfase em Finanças pela Unifor, Pós-Graduado em Gestão de Negócios pelo INSPER, MBA em Gestão Financeira e Controladoria pela FGV, MBA em Agronegócios pela USP/ Esalq e Graduado em Administração de Empresas pela UFC. Possui experiência de 23 anos na área de Finanças Corporativas. Atualmente trabalha com inovação e consultoria financeira para empresas nacionais, além de se dedicar a novos negócios e investimentos. É professor universitário em cursos de Pós Graduação e autor de vários artigos.

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