Com o título “Terceira falácia sobre a violência no Ceará: O crime organizado é o culpado pela violência no Estado”, eis título do artigo de Plauto de Lima, coronel da reserva da PMCE e mestre em Planejamento de Políticas Públicas. “Em nosso estado, a escalada de violência implantada pelas facções começou em 2017, ano em que o então governador negou a sua existência”, expõe o articulist.a.
Confira:
Em 2008, estive na Cidade da Guatemala, capital do país de mesmo nome. Minha viagem teve como objetivo estudar a atuação das Maras, como eram conhecidos os grupos criminosos que operavam na América Central. Fiquei profundamente impressionado com o que vi, especialmente pelo domínio do crime organizado, que cobrava taxas para o funcionamento do comércio e controlava localidades inteiras. Algo impensável de ocorrer, naquela época, aqui no Ceará.
Outros países da América Central também sofriam com a violência imposta pelas Maras. Um desses países era El Salvador, que, no auge da violência, em 2015, registrou uma taxa de 103 homicídios por 100 mil habitantes, a mais alta do planeta naquele ano. Esse número foi impulsionado pelo intenso conflito entre as gangues Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18, além dos confrontos com as forças de segurança. A partir de 2019, com a implementação do Plano de Controle Territorial pelo presidente Nayib Bukele, essas taxas começaram a declinar. Em 2022, a taxa caiu para 7,8 homicídios por 100 mil habitantes e, em 2024, atingiu um recorde histórico de 1,9 por 100 mil habitantes, consolidando El Salvador como um dos países mais seguros do Hemisfério Ocidental.
Nesse mesmo ano (2024), o estado do Ceará não só registrou o crescimento de suas taxas criminais, como sua população passou a sofrer ainda mais com o avanço do crime organizado, cujas ações se assemelham às das Maras, que foram praticamente extintas em El Salvador.
Ao comentar sobre o aumento da violência em algumas localidades do Brasil, Bukele afirmou: “As organizações criminosas do Brasil são muito maiores, mas também o Estado do Brasil é muito maior, mais forte e poderoso do que as organizações… Como é possível que uma organização criminosa possa se apropriar de um território inteiro e o governo não possa tirá-los de lá? Porque elas estão no governo, por isso.”
Em nosso estado, a escalada de violência implantada pelas facções começou em 2017, ano em que o então governador negou a sua existência. Essa negação por parte do poder público foi interpretada pelos criminosos como um sinal para que esses grupos implantassem o terror, cometendo crimes bárbaros, ameaçando populações inteiras, cobrando taxas extorsivas para permitir o funcionamento de comércios e até mesmo a realização de serviços públicos.
É fato que o aumento da violência no estado está diretamente relacionado à atuação de facções criminosas. Contudo, a presença do crime organizado no estado é responsabilidade dos governantes. Como diz um ditado popular: “Você não pode impedir que um pássaro pouse na sua cabeça, mas pode impedir que ele faça um ninho.”
*Plauto de Lima
Coronel da Polícia Militar e Mestre em Planejamento de Políticas Públicas.