Com o título “Torcidas de Série A; times de Série B”, eis a coluna “Fora das4 Linhas”, assinada pelo jornalista Luiz Henrique Campos. “Entre os escombros emocionais e financeiros, sobra o alerta de que o futebol não perdoa planejamento frouxo, ambição limitada nem interferência política. O recomeço será duro”,expõe o colunista.
Confira:
A queda simultânea de Ceará e Fortaleza para a Série B configura um verdadeiro desastre para o futebol cearense, não apenas pelo impacto simbólico, mas sobretudo pelas consequências financeiras e estruturais que se desenham no horizonte. São dois clubes que, nos últimos anos, conduziram o crescimento esportivo do Estado, elevaram a visibilidade de suas marcas e projetaram o Ceará no cenário nacional. No entanto, a forma como desabaram revela que, mais do que um acidente, tratou-se de um colapso anunciado.
No caso do Ceará, a campanha foi medíocre do início ao fim. Um time que jogou constantemente “para não perder”, satisfeito com o empate e dependente de uma ou duas bolas para decidir as partidas, dificilmente sobreviveria a um campeonato tão competitivo. A falta de ambição se refletiu em campo e, sobretudo, na tabela. Não era preciso ser especialista para perceber que o clube praticamente jogou sua permanência fora ao não atingir a pontuação necessária antes das quatro rodadas finais, justamente contra Flamengo, Palmeiras, Cruzeiro e Mirassol, os quatro primeiros colocados. A crença de alguns analistas de que o time tinha mais chances por estar na posição em que estava na tabela, mascarava uma realidade evidente, qual seja, o estilo reativo do Ceará seria ineficaz diante dessas equipes na reta decisiva. E foi.
Já o Fortaleza viveu uma derrocada complexa e, em certa medida, surpreendente. Algo se rompeu internamente na relação entre Vojvoda e o elenco, e a queda de rendimento foi tão abrupta que ainda carece de explicações mais profundas. É fato que houve melhora após sua saída, mas isso apenas torna o enigma maior. Como um trabalho tão consolidado desandou tão rapidamente? Para completar, os bastidores do clube foram atravessados por disputas políticas externas, oportunismos eleitorais e ataques direcionados a figuras como o ex-presidente Marcelo Paz. Esses conflitos contaminaram o ambiente e deixaram feridas que não se fecham com discursos.
O fato é que o que se viu nas ruas de Fortaleza, desde a noite da queda, foi uma cidade perplexa, tomada por decepção pouco comum. Duas torcidas que encantaram o Brasil pela vibração e pela lealdade, agora enfrentam o paradoxo de apoiar clubes que voltam à Série B, apesar de terem comportamento e grandeza de Série A. Entre os escombros emocionais e financeiros, sobra o alerta de que o futebol não perdoa planejamento frouxo, ambição limitada nem interferência política. O recomeço será duro.
*Luiz Henrique Campos
Jornalista e titular da coluna “Foradas4Linhas”.
Uma resposta
Aplausos….
A interferência política sempre traz prejuízos pois só divide.