“Uma travesti preta lançar um livro no mercado editorial com o cenário tão desfavorável como o brasileiro é uma fissura em um sistema que nos silencia, nos invisibiliza e nos mata diariamente em um país que há 15 anos lidera os assassinatos de pessoas trans no mundo. Quantas de nós tiveram que morrer para sermos reconhecidas?”
A declaração é da jornalista e travesti preta Dediane Souza, que na noite desta segunda-feira (16), no auditório da Reitoria da UFC, lançou o livro “Dando o nome”, que aborda aspectos antropológicos, filosóficos e sociológicos da morte de travesti Dandara Katheryn, cujo assassinato aconteceu em 2017 e mobilizou debates sobre a vulnerabilidade da população trans e travesti no Brasil. A obra integra a coleção Flecha, composta por outros quatro livros.
“Esse livro tem como ponto central a discussão sobre até quando vamos ter que morrer para dar condições de vida menos precárias a outras de nós. É uma disputa de narrativa sobre a humanidade de travestis. Algo que vai para além do campo dos movimentos sociais ou do meu próprio ativismo. É uma mirada antropológica e, sobretudo, uma disputa intelectual”, apontou Dediane, natural de Santana do Acaraú, aluna de doutorado no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).