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“Travestis chegam com tudo nas eleições de 2024! CIS-hetero-eternidade? Não toleraremos!”

Sara York é jornalista e professora

“Pela primeira vez, as pessoas que se candidataram puderam declarar sua orientação sexual, o que traz um panorama inédito sobre a representatividade LGBTQIA+”, aponta a professora Sara York.

Confira:

A Justiça Eleitoral divulgou os dados sobre a orientação sexual dos candidatos e candidatas às prefeituras e câmaras municipais nas eleições de 2024. Pela primeira vez, as pessoas que se candidataram puderam declarar sua orientação sexual de forma voluntária, o que traz um panorama inédito sobre a representatividade LGBTQIA+ no cenário político brasileiro.

Dos 455.752 candidatos em todo o país, apenas 31,59% informaram sua orientação sexual ao TSE. A grande maioria, 68,41%, optou por não preencher essa informação. Essa ausência de dados pode ser analisada sob diferentes perspectivas. Em primeiro lugar, acredito que seja o aspecto invasivo que criamos em torno da cisheteronorma. Achar que falar de desejo e identidade seria algo menor, portanto a omissão. Em segundo lugar, a heterossexualidade compulsória pode fazer com que alguns que sejam ou não heterossexuais considerem apelativa e até ameaçadora a sua realidade. Por outro lado, o medo de represálias por parte daqueles que pertencem à comunidade LGBTQIA+ também pode ter influenciado essa omissão, segundo alguns influenciadores propalam.

Flores? Sim: 963 trans como candidatos, sendo 121 do PT e 29 são do PL

Perguntadas pela escolha do partido, duas candidatas do PL dizem que são partidos que dialogam com as pessoas em seus municípios. Entre os que declararam sua orientação sexual, os números revelam a predominância da heterossexualidade. Dos que informaram, 98,29% se identificaram como heterossexuais. Os demais se dividiram da seguinte forma: apenas 0,73% se declararam gays, 0,45% lésbicas, 0,32% bissexuais, 0,14% assexuais e 0,07% pansexuais.

Esses números refletem uma realidade preocupante para a comunidade LGBTQIA+. Com a grande maioria dos candidatos e candidatas se identificando como heterossexuais, o poder municipal tende a continuar sendo heterocentrado, focado principalmente nas necessidades das pessoas heterossexuais. Isso significa que as políticas públicas voltadas para as populações LGBTQIA+ podem continuar sendo escassas, sem uma percepção real das demandas dessas pessoas pelos representantes eleitos.

Além disso, a sub-representação das pessoas LGBTQIA+ no cenário político torna mais difícil a busca por soluções concretas e efetivas para os problemas que essas populações enfrentam. Nesse contexto, é crucial que, ao escolher nossos candidatos, consideremos aqueles que de fato podem representar a diversidade e lutar por políticas inclusivas.

Esses dados abrem espaço para uma reflexão mais profunda sobre o quanto ainda precisamos avançar em termos de representatividade política e inclusão social nas esferas de poder. A ausência de representantes políticos que reflitam a diversidade de identidades e experiências, especialmente em grupos marginalizados como a comunidade LGBTQIA+, apresenta uma série de desafios significativos:

Quantas vezes você tinha escutado uma travesti falando sobre política antes dos discursos absolutamente monumentais de Erika Hilton? Isso por que vocês nunca viram uma troca de informações entre Amanda Paschoal e Hilton! Sim, o fatode ser uma travesti que tem outra travesti como assessora mostra bem o por que Erika Hilton é absolutamente apaixonante…

Por isso a menção aqui a Amanda Paschoal (ambientalista e mega ex-assessora, PSOL-SP), por que sem representantes políticos, as questões específicas dessas comunidades tendem a ser ignoradas ou subestimadas no debate público e na formulação de políticas. A ausência de voz em espaços de poder faz com que suas demandas fiquem invisíveis, perpetuando a marginalização. Juntas elas trabalharam dentro e fora da bolha LGBTI. Não há assunto que se fale sobre POVO que ambas não apresentem um caminho.

Antes de Duda Salabert (PDT-MG), você já tinha escutado sobre cursinho específico para pessoas vulneráveis? E sobre a mulher trans mais bem votada em Minas Gerais para o legislativo federal?

A iniciativa da professora mineira ecoou seu trabalho pelo Brasil. A falta de representatividade dificulta a criação e implementação de políticas públicas que atendam às necessidades reais dessas populações. Sem alguém que compreenda profundamente as questões, as políticas acabam sendo ineficazes ou, muitas vezes, nem sequer são propostas.

Já ouviu falar de uma Marcha para Esú? Em 2020 quando foi eleita, Benny Briolly (PSOL-RJ) afirmou que sua cidade, Niterói – RJ seria a capital nacional do respeito as pessoas e suas crenças. Desde então a travesti não para e entra no pleito da reeleição. A manutenção de Preconceitos e Discriminação: quando não há representantes que desafiem os estereótipos e preconceitos existentes, esses continuam a influenciar a legislação e a opinião pública. A falta de líderes políticos LGBTQIA+ torna mais difícil combater a discriminação e promover a igualdade de direitos.

Com recurso escasso e muita coragem Carolina Iara (PSOL-SP), que teve Acesso Limitado a Recursos e Oportunidades ao longo da vida, seja por ser a primeira representante autodeclarada vivendo com HIV, negra, Intersexo e Travesti, mostra que sem representação, as comunidades que representa têm menos acesso a recursos governamentais, programas de apoio e oportunidades de desenvolvimento. Isso perpetua as desigualdades socioeconômicas e limita o progresso dessas comunidades. Em 2022 ainda no governo Bolsonaro, Carol Iara gritou a falta de medicamento para pessoas vivendo e convivendo com HIV em todo Brasil.

Quem recebe os filhos das puras? Quem quer morar com filhos excluídos dos próprios pais? Indianarae Siqueira (PT-RJ) mostra que a Vulnerabilidade Acrescida à Violência e Exclusão Social gera dor: Nos últimos anos ela foi a casa que recebeu os filhos das mães. A CASANEM, idealizadora da organização que recebeu e capacitou centenas de jovens e serviu como abrigo quando ninguém mais ousou abraçar tais jovens. A ausência de uma defesa política forte aumenta a vulnerabilidade das pessoas LGBTQIA+ a diferentes formas de violência, seja física, psicológica ou institucional. Sem proteção e apoio, essas comunidades continuam a enfrentar altos índices de exclusão social. Ela conta que não foi sozinha, recebeu ajuda de muita gente, mas o cotidiano lhe ensinou que o poder do amor é curativo!

A Dragqueen, Ruth Venceremos (PT-DF) é um exemplo de luta a qualquer preço. Vinda do Movimento dos Sem-Terra, Ruth se tornou uma gigante da juventude do Centro-Oeste ao liderar as pautas LGBTIs em terras absolutistas e onde drags, trans e travestis eram apenas sinônimos de prostituição, ela mostra que a arte Drag nuncafoi tão necessária. A Baixa Participação Política e Descrença no Sistema por falta de representatividade também desestimula a participação política de pessoas LGBTQIA+ jovens, levando à descrença no sistema democrático. Sem ver alguém como elas em posições de poder, muitas pessoas podem sentir que suas vozes não têm valor no processo político.

Neon Cunha (PSOL-SP) a travesti negra que pediu morte assistida! Sim, ela disse que se fosse para viver os destratos do Estado, ela preferia se retirar! Quase 20 anos depois ela entra no jogo para impedir o Retrocesso em Direitos Conquistados, pois esses não podem ser negligenciados. Sem representantes para defender os direitos conquistados, existe o risco de retrocessos. Em tempos de ascensão de movimentos conservadores, a presença de representantes LGBTQIA+ é crucial para proteger e avançar nas conquistas em termos de direitos civis e humanos.

E quando falamos em Educação? Não nos falta candidatas preparadas, coerentes… Aliás, refaço a frase: Nos faltam candidatas para que todo Brasil possa ter uma pessoa LGBTI representante em cada um dos mais de 5.570 municípios brasileiros.

Sigamos inspirados por Fernanda de Moraes (escritora afrorreligiosa, PSB- SP), Linda Brasil (educadora, PSOL-SE), Cleo Araujo (advogada e ativista pela vida de pessoas vivendo com HIV, PT-RS), Thabatta Pimenta (ativista PcD, PSOL-RN) Naomi Kendall (produtora de moda, PT-MS) e Dani Balbi (professora universitária, PCB-RJ), Barbara Bombom (quilombola, PSOL-GO), Jessika Taylor (ativista, PSOL-SE) e Alexia Salvador (pastora, PT-SP) que mostram que as Barreiras à Educação e Conscientização são uma das muitas formas que tentam nos parar. Sem representantes, fica mais difícil promover a educação e a conscientização sobre questões LGBTQIA+ em políticas educacionais e sociais. Isso perpetua a falta de compreensão e empatia por parte da sociedade, contribuindo para a perpetuação do preconceito.

Esses desafios mostram a importância de eleger representantes que possam articular as demandas da comunidade LGBTQIA+ e garantir que suas necessidades sejam atendidas em todos os níveis de governo. E você, já pensou em alguma candidatura que contemple aqueles desassistidos?

Sara Wagner York ou Sara Wagner Pimenta Gonçalves Junior é graduada em Letras – Inglês (UNESA), Pedagogia (UERJ) e Vernáculas (UNESA), especialista em Gênero e Sexualidades (IMS/CLAM/UERJ), mestre em educação (UERJ) e doutoranda em Formação de Professoras/es (UERJ), pai, avó, pesquisadora e professora, a travesti da/na Educação

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