Com o título “Trump faz o L e as nuvens da política”, eis a coluna Fora das 4 Linhas”, assinada pelo jornalista Luiz Henrique Campos nesta segunda-feira. “Passada a turbulência, o cenário mudou. Lula hoje comemora resultados econômicos melhores do que os previstos, a perda de fôlego do tarifaço e o arrefecimento das ameaças mais duras. Trump, por sua vez, recuou mais do que avançou, enquanto Bolsonaro segue preso e sua família se perde em disputas internas e contradições públicas. A aposta cega em um salvador estrangeiro revelou-se, no mínimo, um erro estratégico”, expõe o colunista.
Confira:
No início de 2025, o governo do presidente Lula parecia caminhar sob céu carregado. A posse de Donald Trump nos Estados Unidos reacendeu o fantasma de retaliações políticas e econômicas contra o Brasil, cenário que gerou apreensão nos mercados e inquietação no debate público. Com juros pressionados e o dólar flertando com a alta, havia o temor de que sanções ou barreiras comerciais agravassem o quadro, contaminando indicadores sensíveis como PIB, emprego e, sobretudo, a credibilidade internacional do país.
Esse clima de incerteza animou a oposição, que apostou todas as suas fichas em Trump. Parte dela vestiu boné, slogan e discurso importado, repetindo o “America First” como se fosse mantra tropicalizado. O temor, de fato, se materializou em forma de retaliações, do tarifaço a ameaças baseadas em instrumentos legais internacionais, o que levou setores mais radicalizados da oposição lulista a um delírio quase inconsequente, celebrando dificuldades externas como se fossem trunfos políticos internos.
Macaco velho na política, Lula entendeu rapidamente o jogo. Em vez de recuar, vestiu o figurino da soberania nacional e bateu de frente com Trump. Transformou a pressão externa em discurso interno, reposicionando o governo como defensor dos interesses nacionais diante de uma potência estrangeira. O embate, que parecia desfavorável no início, acabou se convertendo em ativo político, com reflexos também na percepção econômica.
Passada a turbulência, o cenário mudou. Lula hoje comemora resultados econômicos melhores do que os previstos, a perda de fôlego do tarifaço e o arrefecimento das ameaças mais duras. Trump, por sua vez, recuou mais do que avançou, enquanto Bolsonaro segue preso e sua família se perde em disputas internas e contradições públicas. A aposta cega em um salvador estrangeiro revelou-se, no mínimo, um erro estratégico.
No fim das contas, Trump acabou “fazendo o L” sem querer. E a política, como já ensinava Aureliano Chaves, é mesmo como nuvem. Em um momento está carregada, no outro se dissipa ou muda completamente de forma. E quem aposta em céu sempre azul costuma esquecer que, na política, o vento muda rápido, e quase nunca sopra a favor de quem acredita demais em tempestades alheias.
*Luiz Henrique Campos
Jornalista e titular da coluna “Fora das 4 Linhas”, do Blogdoeliomar.