Com o título “Trump joga no lixo discurso dos patriotas do bem”, eis a Coluna Fora das 4 Linhas, assinada pelo jornalista Luiz Henrique Campos.
Confira:
Tem sido interessante acompanhar as primeiras horas do novo governo Trump e a receptividade de uma parcela da sociedade brasileira que se intitula patriotas do bem. Podemos começar pela apoteótica, para ser singelo, caravana turístico-parlamentar que se deslocou a Washington para as cerimônias de posse, contando, inclusive, com a presença do secretário de Segurança Pública de Caucaia (RMF). Se Trump soube que eles estiveram por lá, pouco importa, pois o que valeu foi o esforço de estar na capital americana, aplaudindo, em pé e no frio, mesmo que fosse acompanhando pelo telão. Ah, ia esquecendo também a presença de uma vereadora de Fortaleza, que não foi à posse de Evandro Leitão, no Paço Municipal, mas fez questão de prestigiar Trump nas ruas americanas.
Pois bem. Excluindo-se a completa exclusão dos membros da caravana dos patriotas nas cerimônias, mesmo com a representante oficial de Bolsonaro, sua esposa Michele; do secretário de segurança de Caucaia e da vereadora alencarina, gostaria de ir além e abordar as ações do novo Trump em relação a agenda discursiva desses patriotas. O aspecto inicial a ser pontuado é o fato do presidente americano ser condenado pela Justiça. Ou seja, estão aplaudindo nos EUA o que refutam no Brasil, ao dizer que temos um presidente eleito por aqui nessa condição. Como explicar isso?
O segundo ponto diz respeito a tríade Deus, pátria e família, mantra dos patriotas do bem, mas que Trump mandou às favas. Com relação a Deus, já no seu segundo dia de governo, comprou briga com a bispa Mariann Edgar Budde que, em uma fala potente ao pedir misericórdia para minorias, foi desqualificada por ele. Ainda no campo religioso, o presidente disse que irá invadir igrejas, escolas e hospitais em busca de atingir seus objetivos no que diz respeito a deportar refugiados. E ai, o que acham nossos patriotas acostados às igrejas, que não são poucos?
Com relação a outra perna da tríade Deus, pátria e família, Donald Trump revelou à Rede Globo o que acha da importância de nossa pátria, usando um discurso grosseiro, arrogante e porque não dizer, afrontoso. O que os nossos patriotas acharam disso? Concordam com Trump e se quedam a essa humilhação, como se o Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes e a sétima economia do mundo, pudesse ser tratado dessa forma, como um cachorro vira-lata no contexto mundial?
Quanto ao aspecto família da tríade, é bom deixar claro que a condenação de Trump é fruto de um escândalo sexual, coisa que eu saiba não cabe na tradição de famílias conservadoras. Ou cabe a partir da nova era mundial? É bom saber, até para que haja uma repaginação, incluindo, por exemplo, esses escândalos como uma possível falha momentânea plenamente compreensível. Mas ainda no campo familiar, volto à fala da bispa Mariann Edgar Budde, que aludiu justamente da destruição de famílias. E ai, o que dizem os patriotas?
Gostaria ainda de tratar sobre outros pontos para além da tríade Deus, pátria e família, mas que têm sido caros e usuais nos discursos patriotas. Um deles é a questão das big techs. Ora, o que dizer da ameaça de proibição do Tik Tok por Trump, quando criticaram por aqui a suspensão do X pelo STF? Outra página do discurso dos patriotas rasgado por Trump refere-se à ameaça da implantação de taxações às importações de produtos por americanos. Meu Deus, quem não se lembra do escarcéu populista feito pela oposição quando o Governo Federal taxou produtos comercializados por empresas como Shein, Shopee e AliExpress, por exemplo, a pedido da própria indústria brasileira? E agora, vão aplaudir as decisões trumpistas quanto a taxações?
Por fim, porque as incongruências de discurso são tão grandes, encerro só com mais uma rapidinha. Com Trump querendo anexar o Canadá, o Canal do Panamá e a Groenlândia, os patriotas podem agora criticar a Venezuela por querer anexar Essequibo?
*Luiz Henrique Campos
Jornaslista e Colunista do BlogdoEliomar.
