“O que está a espantar a esquerda é a ameaça inédita que surge contra as táticas de Gramsci, encaixadas na América Latina”, aponta o cientista político Paulo Elpídio de Menezes Neto
Confira:
O modo de fazer, a receita, é uma tática operacional. Tem lá a sua importância. A estratégia, entretanto, envolve um horizonte conceitual e objetivos que podemos chamar de estratégia. Essa chave vale para quase tudo, até para as astúcias guerreiras da guerra e das campanhas deste “brave new world” no qual estamos a aprender a viver.
O que está a espantar a esquerda é a ameaça inédita que surge contra as táticas de Gramsci, encaixadas na América Latina em uma “pedagogia dos oprimidos”. Acima do equador, onde todos os pecados se firmaram, a crer nos versos de Chico Buarque, temo-las como “woke”ou “queer”, conforme as suas variantes…
Trump, por simples intuição ou por uma estratégia de prioridades bem construída, recorreu a um processo de reversão das táticas gramscianas, e deu início à “desconstrução” de um alongado processo de “desconstrução” cultural que a esquerda americana vem trabalhando desde o final da II Guerra…
Trump usou da energia que faltou a Bolsonaro, um soldado confuso no campo vazio dos passos perdidos de uma batalha por realizar-se.
Se a estratégia é adequada e as táticas são eficazes, saberemos quando conhecermos o tamanho do autoritarismo que nos dominará…
Afinal, neste jogo temerário perdem-se ou ganham-se as fichas de um capital valioso – a liberdade.
Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor, escritor e ex-reitor da UFC