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UFC vai rediscutir mudança no nome da Conha Acústica

O Conselho Universitário da UFC decidiu na noite desta quarta-feira (14) que irá rediscutir a denominação da Concha Acústica da Reitoria, que no início do mês recebeu aprovação para homenagear o estudante Bergson Gurjão, morto durante a ditadura militar. A decisão foi reavaliada nessa quarta-feira (13), após reações adversas.

Por meio de nota, o Conselho Universitário disse que a homenagem ao estudante ocorreu por não encontrar documentação com o nome do professor Martins Filho, como detentor do nome do auditório da Concha Acústica.

Confira a nota:

A 138ª Sessão Ordinária do Conselho Universitário (CONSUNI) aprovou, em reunião do dia 1º de novembro de 2024, a denominação da Concha Acústica da Reitoria da UFC como “Concha Acústica Bergson Gurjão Farias”. Trata-se de uma homenagem póstuma ao aluno do Curso de Química da UFC de 1967 a 1969, quando foi expulso por força da ditadura, devido ao seu ativismo estudantil – ele era vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

Após a aprovação, foi identificada a ata da 49ª Sessão Extraordinária do CONSUNI, realizada no dia 29 de agosto de 1959. Nessa reunião, uma comissão de estudantes da Escola de Engenharia apresentou um memorial, por meio do DCE, no qual solicitaram que fosse dado o nome do então reitor Antônio Martins Filho ao Auditório da Concha Acústica, o que foi aprovado naquele momento.

Essa ata não foi encontrada antes da 138ª Sessão Ordinária do CONSUNI porque a busca havia sido feita apenas no acervo que reunia portarias da Reitoria e resoluções dos conselhos, sem que tivesse sido encontrada nenhuma norma que nomeasse nem a Concha Acústica, nem seu auditório.

Entretanto, ao continuar a pesquisa, no último dia 13 de novembro, o Memorial da UFC identificou essa ata, que registra a deliberação sobre a denominação do Auditório da Concha Acústica como Auditório Martins Filho, conforme o trecho seguinte do documento:

“Facultada a palavra aos Senhores Conselheiros, na forma regimental, dela fez uso o Conselheiro Ailton Gondim Lóssio, para ler um memorial dirigido ao Conselho Universitário por intermédio do Diretório Central dos Estudantes, no qual os alunos da Escola de Engenharia pediram fosse dado ao Auditório da Concha Acústica, o nome do Reitor Antônio Martins Filho. Para exame e deliberação da matéria, houve por bem o Magnífico Reitor passar a presidência dos trabalhos ao Vice-Reitor, que submeteu imediatamente a proposta em estudo à discussão e votação do Egrégio Conselho, tendo sido a mesma aprovada por unanimidade.”

Diante desse novo fato, após escuta e diálogo com uma comissão formada por integrantes do CONSUNI, o reitor da Universidade Federal do Ceará, Custódio Luís Silva de Almeida, decidiu convocar uma Sessão Extraordinária do Conselho Universitário para o próximo 18 de novembro de 2024, segunda-feira, às 14h, no Auditório Martins Filho da Reitoria da UFC, com a seguinte pauta única: discussão e deliberação sobre a denominação da Concha Acústica e do Auditório da Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará.

Homenagem a Bergson Gurjão Farias

A iniciativa de denominar a Concha Acústica da UFC com o nome de Bergson Gurjão Farias partiu de lideranças do Movimento Estudantil, em diálogo com a Comissão de Direitos Humanos da Universidade. A ideia também foi apoiada em reunião do reitor com ex-militantes estudantis que foram contemporâneos de Bergson nos anos 1960.

As lutas de Bergson Gurjão e da sua geração simbolizam a defesa das liberdades, dos direitos e da democracia nos anos de exceção. Após ser expulso da Universidade, na clandestinidade, Bergson partiu para a luta contra o regime militar na região do Araguaia, entre os estados do Pará e do atual Tocantins.

Na data provável de maio de 1972, aos 25 anos, ele foi assassinado pelas forças de repressão da ditadura. Seus restos mortais, localizados e identificados nos anos de 1990 após exames de DNA, foram trasladados para Fortaleza em outubro de 2009. O velório e as homenagens póstumas foram realizados na Concha Acústica da Reitoria da UFC, e o sepultamento ocorreu no Cemitério Parque da Paz. Em fevereiro de 2010, após celebrar a memória de seu filho, a senhora Luíza Gurjão Farias faleceu aos 95 anos.

Também na reunião de 1º de novembro deste ano, o CONSUNI aprovou o Termo de Reconciliação Histórica com a Democracia e os Direitos Humanos, documento em que a Universidade “se reencontra, em especial, com os estudantes que, nas lutas e nas resistências contra a tirania, foram vitimados por atos institucionais que lhes negaram o seguimento dos estudos, com prisões, suspensões e expulsões”.

Em seu voto, o reitor Custódio Almeida pontuou que as duas iniciativas se dão “diante da justa e necessária reparação e reconhecimento históricos a Bergson Gurjão Farias e da necessária reconciliação da Universidade Federal do Ceará com a democracia e com os direitos humanos”.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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