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“Um chimpanzé candidato e a cadeirada do amor”

Barros Alves é jornalista e poeta

“O que mais causa espécie é o fato de que os demais participantes vibraram com a agressão e logo trataram de amenizar o crime cometido pelo candidato que também é jornalista e apresentador de programa na TV”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves.

Confira:

Recentemente o Brasil inteiro presenciou um candidato à prefeitura de São Paulo, a mais importante cidade da América Latina, transformar uma cadeira em arma, passando a agredir um dos seus oponentes pelo simples fato do agredido havê-lo atacado verbalmente. Vimos tudo em tempo real graças aos meios de comunicação, em especial as mídias sociais, que alguns pseudo-democratas tanto almejam cercear. O embate se dava entre pessoas presumivelmente civilizadas e, o que causa espécie, o agressor foi um daqueles que verbalizam à saciedade o discurso da paz, do amor, contra um imaginário “gabinete do ódio” e outras sandices. O agredido coloca-se politicamente no campo daqueles que não se inscrevem no modismo do politicamente correto. E o que mais causa espécie é o fato de que os demais participantes vibraram com a agressão e logo trataram de amenizar o crime cometido pelo candidato que também é jornalista e apresentador de programa na TV. Programa que expõe as violências da sociedade, diga-se de passagem. Veja, portanto, o leitor a quantas chegamos em termos da “vitória do amor”. Um ator do “gabinete do amor” que atenta contra a vida de um do “gabinete do ódio”, deveria ser preso imediatamente em flagrante, mas sai sorridente, concedendo entrevistas, enquanto o agredido vira réu em comentários da mídia, assinados até por personalidades que se arvoram em juristas defensores de valores democráticos. A cadeirada, que poderia ter tido graves consequências para o agredido; e que em um país democrático e entre pessoas decentes receberia no mínimo a crítica mais dura, sobretudo por parte da Imprensa, no caso brasileiro, em um átimo, passou a ser uma espécie de “cadeirada do amor”. Quer dizer, uma violência em defesa da democracia. Seria hilariante se não fosse trágico.

O episódio ocorrido no debate eleitoral em São Paulo, se por um lado demonstra a total incapacidade emocional do agressor, desprovido da mínima condição para  enfrentar provocações em um ambiente de discussão mais acirrada; por outro, apresenta uma personagem pior do que os chimpanzés. Os biólogos Richard Wrangham e Dale Petterson, asseguram em razão de seus estudos, que os chimpanzés também alteram seus comportamentos em épocas de “eleição.” A agressões a eles aumentam nos momentos em que há disputa pelo comando do grupo. Normalmente, o macho jovem que deseja ascender ao poder ataca o líder em posição privilegiada e também os aliados, disseminando o medo. Porém, até os chimpanzés aprendem com certa facilidade modos não violentos, e baseados simplesmente na comunicação, podem resolver disputas. A bióloga Jane Goodall relata que recursos típicos de “comunicação”, uma vez “descobertos”, foram utilizados para amedrontar oponentes, ao mesmo tempo que despertavam o respeito e a admiração da comunidade. A pesquisadora conta que em uma estação experimental na Tanzânia um chimpanzé ascendeu na hierarquia dos machos com artifício não-violento. Certo dia, em inferioridade social, ele presenciou uma assembleia de seis chimpanzés de status elevado. Pegou dois latões e, batendo-os um contra o outro provocou barulho ensurdecedor, correndo em direção ao grupo reunido, o qual fugiu em desespero. Vê-se, pois, que o chimpanzé Datena age como os primatas que desconhecem o valor do barulho das latas, preferindo cadeira para agredir aquele que ameaça a hierarquia dos poderosos de plantão, dos quais, provavelmente, ele é um dos capachos.

Barros Alves é jornalista e poeta

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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