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“Um ecossocialismo para Fortaleza. Menos urbanismo, mais social”

Arnaldo Santosé jornalista, sociólogo e doutor em Ciência Política. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Um ecossocialismo para Fortaleza. Menos urbanismo, mais social”, eis artigo de Arnaldo Santos, jornalista, sociólogo e doutor em Ciências Políticas. “Não é necessário ser urbanista ou cientista social para se perceber que, mesmo antes do surgimento do conceito de cidades globais no início dos anos de 1980, restou provado, pelo menos no Brasil, que as cidades em geral não cumprem essa função. Fortaleza é exemplo pronto e acabado do expresso fracasso!”, expõe o articulista.

Confira:  
 
Conforme registros históricos, é de conhecimento geral o fato de que a formação das primeiras cidades ocorreu há cerca de cinco mil anos a.C.,na região da Mesopotâmia, onde hoje se localiza todo o território do Iraque. Dentre as várias funções que as cidades devem cumprir nas diversas áreas, a
principal delas deve ser direcionada a cuidar das pessoas, oferecendo todos os serviços públicos continuados para lhes propiciar condições de vida minimamente digna.

Não é necessário ser urbanista ou cientista social para se perceber que, mesmo antes do surgimento do conceito de cidades globais no início dos anos de 1980, restou provado, pelo menos no Brasil, que as cidades em geral não cumprem essa função. Fortaleza é exemplo pronto e acabado do expresso fracasso!

No próximo domingo, teremos a responsabilidade de exercitar a cidadania política e escolher os vereadores, bem como o prefeito que vai governar a cidade pelos próximos quatro anos. Tal exige de cada um de nós que façamos isto com muita seriedade e consciência político-social, a fim de
evitarmos aventuras ante as opções disponíveis.

Lembremo-nos de que a cidade é o lugar ao qual todos pertencemos, sendo com esse sentimento de pertença que devemos ir às urnas, para que as escolhas recaiam sobre pessoas que expressem os melhores e os mais qualificados compromissos de legislação e gestão político-administrativa, a fim
de termos uma cidade melhor para se viver, com maiores espaços de convivência, como praças, parques, áreas verdes, locais de feiras urbanizados, segurança, um qualificado serviço de saúde e educação, além de um bom sistema de transporte público, de preferência, gratuito – aliás, algo que sequer entrou na pauta das discussões pelos candidatos. 

Talvez o maior desafio posto para os legisladores, o futuro prefeito e, especialmente, para todos os cidadãos e cidadãs, seja a pauta ambiental e climática em uma cidade árida como Fortaleza. Isto exprime a ideia de que, transpondo a criação de ilhas verdes pela Prefeitura, deve se pensar na implantação de um serviço de delivery árvore, atrelado a um desconto no IPTU, como incentivo ao cidadão para plantar e cuidar de arborizar não apenas a frente da sua casa, mas também da sua rua, as praças em seu bairro, e outros lugares.

Nessa perspectiva climática, e com o objetivo de transformar Fortaleza em uma cidade melhor para se viver, não é demais sugerir e cobrar do futuro prefeito, e dos vereadores, uma ação fundada no conceito de ECOSSOCIALISMO, pois, à medida que a crise climática avança, a desigualdade social se agrava mais ainda, razão por que todos temos o dever de observar e executar os objetivos para o desenvolvimento sustentável. Os caminhos das águas, suas matas ciliares, o destino final dos resíduos sólidos que produzimos, não estiveram na pauta do debate dos postulantes. As pessoas quase não se lembram, mas todos esses temas significam o que uma cidade como a nossa possui de mais importante para a vida das pessoas, e por isso é dever de todos cuidar. Problemas com essa complexidade não serão resolvidos pelo voluntarismo de um candidato delinquente, pois sequer tem a capacidade de entender.

É de saber global a ideia de que Fortaleza conforma uma população superior a 2,5 milhões de habitantes, e detém uma dívida social que denota altos índices de pobreza e desigualdade. Dados do IBGE – dezembro de 2023, mostram que temos uma população estimada de 334,3 mil famílias na extrema
pobreza, sobrevivendo com uma renda média mensal de R$ 670,35 dos programas sociais, que adicionam 224 milhões todos os meses na economia da Cidade, perfazendo um total de 2,7 bilhões por ano.

Se calcularmos uma média de apenas três pessoas por família, temos mais de um milhão de cidadãos(ãs), sobrevivendo com o auxílio do Bolsa-Família. Esse é o welfare State de Fortaleza. Apesar de não termos
estudos que comprovem, nossa pobreza é tão aguda e ampla, que não será surpresa se esse número de pessoas sobrevivendo na extrema pobreza for superior à quantidade de trabalhadores com carteira assinada em Fortaleza, algo que já ocorre em 12 estados brasileiros.

Como ficou demostrado pelos dados descritos, habitamos uma cidade complexa e com um agudo índice de iniquidade entre as capitais do País, pela alta taxa de concentração de renda, e onde, em ultrapasse à
carência monetária pela ausência de renda de mais de um milhão de pessoas, ainda ostentamos a pior de todas as pobrezas, consubstanciada no analfabetismo formal, e funcional, em razão da pouca escolaridade de uma parcela significativa da população, somada à míngua de qualificação de parte da nossa mão de obra, resultando em baixa produtividade e dificuldade de inserção no mercado de trabalho.

A tudo isso se adita o fato de que somos uma urbe rodeada defacções, detentoras de armamentos pesados, e em permanente confronto, produzindo alarmantes índices de violência urbana, haja vista as altas taxas demortes violentas e chacinas que ocorrem nas mais diversas áreas urbanas daCapital, sem referir que também somos uma cidade preferencial na rota do tráfico drogas. Nessa contextura, é preciso afirmar que, infelizmente, até agora, o debate tangencia a maioria dos problemas que aqui trazemos à reflexão, especialmente para nossa gente, e àqueles que se nos mostram comopretendentes a governar Fortaleza. 

Diante de uma realidade tão perversa a que está submetida grande parte da nossa população, ao extenso da história, asseguramos que não bastadebater urbanismo, simplesmente, porém, há que haver motivação social. Para conter e evitar que essa tragédia se agrave ainda mais, é imperioso que façamos uma alargada reflexão sobre o tamanho da nossa responsabilidade político-social, para que não cometamos o maior erro eleitoral da história da “Loura e desposada do sol”, ante a ameaça que nos ronda, nestas próximas eleições, com um candidato malcheiroso, que atende pela sugestiva alcunha
de rapacu.

Em expressas circunstâncias, impõe-se que façamos um resgate histórico-político da coragem, ousadia, da consciência, bem assim do grau de politização do cidadão e cidadã fortalezenses, quando, em 1985, elegeram Maria Luiza Fontenele -(PT) perfeita de Fortaleza, a primeira mulher a governar uma capital, na história do nosso País.              

Uma cidade que pariu homens com a bravura dos nossos jangadeiros, que zarpam em suas jangadas a vela o ano inteiro, sob o sol e o luar, desbravando os verdes mares bravios dessa terra ensolarada, inspirando as nossas maiores expressões artísticas, como Fagner, Belchior, Ednardo, Fausto Nilo, dentre outros, percorrendo milhas e milhas em poesias, e letras de belas canções, realçando suas belezas e o valor da sua gente, saberá votar com responsabilidade, e não cederá espaço para qualquer aventureiro capaz do cometimento de toda delinquência, como repetidamente mostrado pela televisão. 

*Arnaldo Santos

Jornalista, radialista, sociólgo e doutor emCiências Políticas.  
Comentários e críticas para: arnaldosantos13@live.com

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