Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

“Um Fortim de presente para uma Fortaleza de História”

Cândido Henrique, geógrafo e ex-superintendente do Iphan do Ceará. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Um Fortim de presente para uma Fortaleza de História”, eis artigo de Cândido Henrique de Aguiar Bezerra, geógrafo e ex-superintendente do Iphan do Ceará.

Confira:

A bandeira oficial do Estado do Ceará foi instituída legalmente no governo de Justiniano de Serpa no ano de 1922 por decreto e nela consta o brasão oficial que possui 4 quadrantes representativos de nossa terra – o primeiro quadrante contém o Sol e o Farol do Mucuripe; o segundo, a serra e o pássaro; o terceiro, o mar e a jangada; e o quarto, o sertão e a carnaúba, simbolizando os quatro
elementos da natureza: fogo, ar, água e terra. Destes símbolos representativos apenas um é um monumento histórico, o antigo olho de mar, um farol, fincado na ponta do Mucuripe que por quase
um século orientou as embarcações que navegavam pela costa da capital dos verdes mares bravios. Junto ao farol, outra edificação histórica se destaca em outro pavilhão oficial, este na bandeira
oficial do município de Fortaleza, trata-se da figura de um castelo, mas seria este a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção que proporcionou o nome da então vila da Fortaleza? Ou seria outra
fortificação que aqui existiu e que o escritor, magistrado, jurista, heraldista e político Tristão de Alencar Araripe, idealizador do brasão da capital cearense, ainda no longínquo século XIX quis se
referir?

Pelo desenho original feito pelo autor é possível observar uma edificação bem diferente da silhueta da nossa fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, tendo uma bandeira em sua parte central e com características de uma fortificação de defesa como uma torre, proporcionando um reduto militar menor que uma fortaleza tradicional como a localizada no centro da cidade, as margens do riacho Pajeú. Outro ponto interessante no desenho do brasão onde está o tal castelo é que o mesmo parece “flutuar” sobre as águas do mar, como se estivesse em uma ilha ou mesmo em uma
proeminência de terra que adentrar-se ao oceano, portanto uma ponta como a que está o nosso velho Farol do Mucuripe. Mas existiu outros fortes na costa da capital além da nossa Fortaleza de
Nossa Senhora da Assunção? Sim, várias edificações militares foram construídas em nossa costa, desde o fortim de Santiago na foz do rio Ceará ainda em 1604 até uma bateria de redutos, abrigos
de artilharia e paióis espalhados ao longo do litoral indo até aonde hoje está localizado o Farol do Mucuripe, a grande maioria fora construído para avisar através de sinalizações, sonoras com tiros de canhões ou visuais com hasteamento de bandeiras, a aproximação de barcos inimigos nos séculos XVIII e XIX.

Na ponta do Mucuripe, provavelmente a fração de terra que mais história tem por ser revelada sob seu terreno arenoso, existiu pelo menos três edificações militares, destacando-se uma que ficava
exatamente sobre um topo de duna que dava a sensação pra quem estivesse dentro de um barco se aproximando de nossa costa que a mesma estivesse “flutuando” sobre o mar, como no brasão feito por Tristão de Alencar Araripe. Tratava-se do reduto de São Luiz, abastecido por poucas “bocas de fogo”, canhões e com uma estrutura adequada para o hasteamento de bandeiras de sinalização em razão de seu ponto de localização estratégico, tanto que o Farol do Mucuripe fora construído no mesmo local, porém décadas depois e quando o reduto já estava completamente arruinado não tendo mais nenhuma serventia.

Em 2021 a secretaria de Turismo do Estado do Ceará, apresentou para aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, um projeto de restauro do Farol do Mucuripe que por sua vez solicitou que fosse realizada uma pesquisa arqueológica na área do farol para fins de atender o processo de licenciamento adequado uma vez que o mesmo é considerado patrimônio arqueológico nacional. A pesquisa foi realizada e para surpresa de muitos as escavações do local ao lado do farol revelou as ruinas do antigo reduto de São Luiz construído ainda no século XVIII e, portanto, mais antigo que o velho Farol do Mucuripe. Agora o local deverá ser preservado dentro de um novo projeto de restauro não apenas do Farol do Mucuripe como também do Reduto de São Luiz, tendo desta forma duas importantíssimas estruturas históricas de períodos distintos dentro de uma mesma área, bem ao lado do terminal marítimo de Fortaleza, que recebe milhares de turistas todos os anos vindos dos cruzeiros marítimos existentes no litoral brasileiro.

O patrimônio histórico de uma cidade é muito mais do que simplesmente um conjunto de construções antigas ou monumentos. Ele representa as raízes, a identidade e a história de um local,
refletindo a cultura e os valores de uma sociedade ao longo do tempo. Além disso, o patrimônio histórico desempenha um papel crucial no turismo e na preservação da memória coletiva de uma
cidade.

Visitantes de todo o mundo são atraídos por cidades que possuem uma rica herança cultural e arquitetônica. Monumentos históricos, ruas antigas, museus e sítios arqueológicos não só contam histórias fascinantes, mas também proporcionam uma experiência imersiva que transporta os turistas para épocas passadas. Esses locais não apenas geram receita através do turismo, mas
também promovem a troca cultural e educacional entre os visitantes e os habitantes locais, enriquecendo assim a vida cultural da comunidade.

Ao conservar e proteger esses locais históricos, uma cidade valoriza sua herança cultural e transmite esse legado às gerações futuras. Isso é fundamental para fortalecer o senso de pertencimento e
orgulho dos habitantes locais em relação à sua cidade, promovendo um vínculo emocional com o lugar onde vivem.

Portanto, a descoberta do reduto de São Luiz na ponta do Mucuripe é fundamental para o desenvolvimento da cultura e do turismo de Fortaleza e investir na conservação e promoção destes
patrimônios históricos como ativos vitais para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida das comunidades aqui residentes.

*Cândido Henrique de Aguiar Bezerra,

Geógrafo e ex-superintendente do IPHAN-Ceará;

COMPARTILHE:
Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram
Email
Mais Notícias