“Estava lá por amor, e por amor a gente faz coisas impensáveis. Inclusive ir morar em Paris como se fosse ir morar em Singapura, Nairobi ou Irauçuba”, aponta a jornalista e publicitária Tuty Osório. Confira:
Em Paris, na fila dos Correios locais, chamado lá de LA POST, esperava para enviar uma carta a minha mãe. Naquele tempo não havia email, whatsapp, talvez email houvesse, mas não muito expandido a pessoas comuns como eu.
Estava lá por amor, e por amor a gente faz coisas impensáveis. Inclusive ir morar em Paris como se fosse ir morar em Singapura, Nairobi ou Irauçuba.
Por amor a gente vai pra qualquer lugar. Por amor não existe arrependimento. Quando cito os lugares, quero falar do desconhecido.
Para mim, por mais que linda fosse, Paris, era sim, o desconhecido. Todavia, era o lugar do amor, por acaso, naquele momento, e para lá fui. De lá escrevia cartas a minha mãe, cartas que enviava pelo correio.
E um dia vi o cartaz: une lettre et plus que mots. Uma carta é mais que palavras.
E eram mais que palavras as cartas que enviava a minha mãe. A algumas outras pessoas muito importantes para mim.
Anos depois, separada desse amor que me levou a Paris, encontrei a máxima das palavras num voo entre Brasília e Fortaleza. Atrasada num trabalho, sobrou-me uma viagem de madrugada, num avião chamado de Cargo Correio, que parava cidade a cidade, para descarregar as cartas, as encomendas.
Viajei a madrugada para amanhecer em Fortaleza e participar numa festa da escola de minha filha, como havia prometido. Não dormi um minuto.
Fascinantes, as decolagens e pousos, cidade a cidade, para entregar correspondências.
Pessoas vestidas de amarelo e azul recolhiam pacotes do bagageiro do avião e a noite foi varando. O dia foi nascendo.
Inesquecível. À chegada, de manhã cedo, meu pai me esperava e me levou direto para o evento da creche da minha pequena Camilla, então com três anos, ia dançar uma dança de São João e eu era seu máximo público.
Tenho essa glória de ter sido sempre muito amada pelos meus. Acolhimento com acolhimento. E vivo assim até hoje.
No meu trabalho de pesquisadora escuto que os Correios emocionam as pessoas. Em pleno século XXI, com internet e inteligência artificial. Correios, gente dos Correios, caminhões dos Correios, são credibilidade e segurança social.
Inesquecível, realmente.
Mais que palavras.
Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS
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Eu adorei o texto, mas gostaria de mais palavras, estava tão bom, e ai acabou, que pena!