“Declaração de Lula desumaniza crianças e desvia o foco de políticas de apoio às vítimas de violência sexual”, aponta o ex-superintendente da Polícia Civil do Ceará, César Wagner. Confira:
A recente declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o PL “antiaborto” (1.904 de 2024) revela uma insensibilidade chocante e um desprezo pelo valor da vida humana que transcende o crime. Ao referir-se aos filhos de estupradores como “monstros”, Lula não só desumaniza essas crianças inocentes, mas também perpetua um estigma cruel e injusto sobre indivíduos que, independentemente das circunstâncias de sua concepção, são portadores de dignidade e direitos.
Lula, ao questionar “que monstro sairá do ventre de meninas estupradas”, ignora completamente o princípio de que a culpa dos pais não deve recair sobre os filhos. Cada criança, independentemente de como foi concebida, merece ser tratada com respeito e dignidade. Essa retórica alarmista e pejorativa serve apenas para exacerbar o sofrimento de famílias já profundamente traumatizadas e para fomentar uma cultura de ódio e exclusão.
O argumento de Lula pretende sublinhar a gravidade do estupro e a necessidade de proteger as vítimas. No entanto, ao demonizar os filhos resultantes de tais atos, ele falha em reconhecer que a resposta ao crime não deve ser um novo ciclo de violência e desumanização. Em vez disso, deveria promover políticas que apoiem essas crianças e suas mães, oferecendo-lhes proteção, cuidados e suporte necessários para superar os traumas e viver com dignidade.
Ademais, sua declaração é um desserviço ao debate sobre o aborto e direitos reprodutivos. A questão do aborto em casos de estupro é extremamente complexa e merece um tratamento sério e sensível, centrado nos direitos e no bem-estar das mulheres. Reduzir essa discussão a uma simplificação brutal de “monstros” desvaloriza o sofrimento das vítimas e desrespeita o debate público que deve ser baseado em compaixão e entendimento.
O comentário do presidente Lula, infelizmente, não só ignora a humanidade intrínseca de todas as crianças, mas também desvia a atenção do verdadeiro foco: a necessidade urgente de proteger e apoiar as vítimas de violência sexual. Em vez de fomentar divisões e estigmas, o governo deve concentrar seus esforços em criar um ambiente onde todos, independentemente de sua origem, possam viver com segurança e dignidade.
No fim, precisamos de um diálogo mais maduro e empático, que respeite os direitos das mulheres e, ao mesmo tempo, valorize a vida de todas as crianças. As palavras de um líder têm peso e impacto profundos. É essencial que sejam usadas para construir, e não para destruir.
César Wagner Maia Martins é ex-superintendente da Polícia Civil do Ceará, ex-coordenador-geral da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (CIOPS), ex-diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE), ex-diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI) e ex-delegado Titular da Delegacia de Combate ao Narcotráfico. Ex-secretário de Segurança de Aracati. Formado em Direito (Unifor) e especialista em Direito Processual Penal (Unifor). Comunicador, radialista, palestrante e consultor de empresas