“Uma ‘flotilha’ pela educação brasileira” – Por Mauro Oliveira

Mauro Oliveira é PhD em Informática por Sorbonne. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Uma ‘flotilha’ pela educação brasileira”, eis artigo Mauro Oliveira (autor do livro Soberania Digital),PhD em informática por Sorbonne University e professor do IFCE.

(Ao amigo *João Carlos* e à corajosa travessia com sua “flotilha familiar”)

Confira:

No artigo “Educando para um mundo que já acabou” (O POVO, 20/mai/2025), sustento que educar é provocar a dúvida, não cultivar certezas de prateleira. Essa postura dá xeque-mate no ensino do século XIX, ainda teimosamente praticado.

A Inteligência Artificial (IA), ao temperar nossas “rapaduras eletrônicas” na Escola, escangalha o marasmo e exige o essencial: repensar urgente o projeto tecnológico da Escola brasileira. Porque, se “a Educação Liberta” (como lembra Ariosto Holanda na capa de seu livro), nenhum país consegue ser soberano com ferramenta do século passado.

Cena rápida: imagine um candidato AMBO a professor de ME na escola ETF, com Lattes mais cheio que o Parajana no Terminal Messejana, às 18h. No currículo, o velho deslize clássico de que é “pós-doutor” (meu fi, isso né diploma não, é estágio … às vezes turístico).

O calcanhar de Aquiles? Tecnologia. Pois bem, o desconhecimento de ferramentas pelo nosso notável candidato pode ameaçar sua contratação: NotebookLM, Gamma, Google AI Studio, Suno e cia. estão desmontando o ensino conservador (não falei “educação”, viu). Só entende o desmantelo quem usa … e compara.

O NotebookLM da Google, por exe., desmonta a pedagogia do caderno Avante ao permitir consulta guiada e animação da aprendizagem a partir de um corpus escolhido por você, cara. Vá lá e suba suas fontes (PDFs, páginas da web, vídeos do YouTube, Google Docs, slides) e crie um caderno. A IA responde ancorada nessas referências novas que vc selecionou. Além de resumir e comparar trechos, o NotebookLM gera perguntas-guia, briefings/FAQs e até um podcast automático (Audio Overview) que transforma o material em diálogo entre “anfitriões” de IA, o que é ótimo para revisão dos alunos. Também viabiliza mapas mentais e flashcards a partir das mesmas fontes. Quando habilitado, recorre ao conhecimento geral do modelo, mas prioriza o que você enviou. Resultado: o foco sai do “decorar” e vai para “interrogar boas fontes, com rapidez e lastro de evidência”, antídoto certeiro contra o ensino de certezas enlatadas.

E aí, volta e meia, “sem ver nem pra crer”, me vem à mente aquele vídeo que viralizou, há pouco tempo: um professor na África desenha a tela do Windows no quadro, giz colorido, para ensinar. É um tapa de realidade. A cena escancara a desigualdade neste mundo vasto mundo, mas o recado vai além da pobreza de meios: entramos num novo tempo disruptivo que a sociedade mal percebe e a Escola, deitada em berço esplêndido, segue sem fazer o dever de casa. Gestão em modo soneca, agentes educacionais no piloto automático, alunos na fila do futuro. Hummmm… é hora de trocar o travesseiro por projeto e uma nova metodologia alinhada aos novos tempos: infraestrutura mínima, formação continuada, plataformas didáticas e práticas ativas mediadas por tecnologia.

O que fazer diante do tsunami tecnológico da IA, desafiando que vai reestruturar social e economicamente o planeta antes de 2030? Parar de admirar o problema e entrar na água. Lá se vai uma “sugesta”:

1. Letramento em IA (ferramentas e soberania digital)
2. Gestores e Professores “antenados” com o novo (“que sempre vem”)
3. Laboratório de prototipagem (mão na massa e uso de plataformas)
4. Infra mínima (banda larga e equipamentos) e governança;
5. Discussão sobre Ética, LGPD e Soberania Digital
6. Currículo orientado a problemas reais
7. Conexão da Escola ao ecossistema produtivo.

Se a Escola falha, falhamos todos. Bora de flotilha pela Educação: professores, gestores, estudantes, famílias, universidades, empresas e governo na mesma maré, com bússola ética na mão e métricas de aprendizagem no painel.

Partiu! Cada sala, um laboratório; cada aula, um protótipo; cada semestre, uma entrega pública ou privada. Quem não embarca, sai do feed.

Velas içadas, jangada de projetos rumo a MAR ABERTO.
O futuro não manda aviso, CHEGA!
Entre naufrágio e travessia, há um verbo só: começar. AGORA!

*Mauro Oliveira

PhD em Informática (Sorbonne University) e mestre em Enga Elétrica (PUC-Rio). Foi secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações.

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Uma resposta

  1. Que boa lembrança do caderno AVANTE.

    Entre naufrágio e travessia, há um verbo só: começar.

    AVANTE, caro professor.

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