Com o títulol “Umahistória deliciosamente assustadora”, eis título da Coluna Fora das 4 Linhas, desta quinta-feira, do jornalista Luiz Henrique Campos.
Confira:
Talvez não seja boa recomendação para a época de espírito natalino tradicional, onde se prega a paz e o amor entre as pessoas, muito menos para ler na passagem do ano, onde a lenda reza beber e festejar à exaustão. De todo modo, como também estamos em tempo de mudança de ciclo, Eu estou pensando em acabar com tudo, de Iain Reid, é um livro instigante para quem se permite a tal. Gosto de livros que nos chegam do nada, meio na linha do lê ai e vê se tu gosta? Pois é. Mas se alguém acha que vai adentrar nessa obra e sair ileso, é bom pular fora logo.
Eu estou pensando em acabar com tudo não é leitura tranquila. Apesar de ser rápida, é dura por propor uma assepsia interna, como espécie de questionamento existencial envolvendo os eus que nos formatam como indivíduo e nos colocam em constante contradição. É sobre relacionamentos com os outros, mas principalmente com nós mesmos. Por isso, em essência, toca em ferida própria da modernidade, a solidão. Mas vai além. É também uma trama a perpassar por disfunções mentais a deixar em aberto a boa e velha discussão a respeito da finitude. “Os humanos são os únicos seres que sabem da inevitabilidade da morte, por isso inventaram a esperança. Os animais, por sua vez, vivem o presente”.
Enigmático, tenso e deixando o leitor sempre submisso a próxima cena, Eu estou pensando em acabar com tudo é história deliciosamente assustadora, onde os personagens vivem sua dor ou suas dores, como luta eterna a nos marcar como pessoa. “…Um pensamento estará sempre mais próximo da verdade, da realidade, do que uma ação. Você pode dizer qualquer coisa, fazer qualquer coisa, mas jamais poderá forjar um pensamento”.
Ao propor a discussão em referência a solidão, o livro, não diretamente, nos chama a refletir sobre a depressão como doença séria, fisicamente dolorosa, debilitante. “E não dá para decidir superar, da mesma forma que não dá para decidir superar o câncer. A tristeza é uma condição humana normal, não é diferente da felicidade. Você não pensaria na felicidade como doença. Tristeza e felicidade precisam uma da outra”. Por fim, e essa talvez seja a proposta do livro, Eu estou pensando em acabar com tudo não é definitivo em suas respostas e isso pode frustrar o leitor que irá até o fim esperando por elas. Ao contrário de propô-las, o acabar com tudo pode ser amplo, restrito ou simplesmente não dizer nada, como de resto é a vida, onde se fica sempre na iminência de que algo sempre está prestes a acontecer.
*Luiz Henroque Campos
Jornalista.