Com o título “Universidades zumbis”, eis artigo de Marcos C. Holanda, engenheiro civil, PhD em Economia e ex-presidente do Banco do Nordeste.
Confira:
Um movimento preocupante está acontecendo em vários países. O surgimento de universidades que, mesmo apresentando queda na demanda dos alunos e ficando obsoletas, continuam funcionando. São chamadas de universidades zumbis, ineficientes e irrelevantes, mas, ainda assim, vivas, pois são financiadas com dinheiro público. No Brasil não é diferente.
Tradicionalmente, as universidades possuem um paradoxo. São nelas que os avanços tecnológicos surgem, mas, diferente das empresas e sociedade, são elas que reagem a esses avanços de forma mais lenta. A mudança tecnológica da inteligência artificial, no entanto, é diferente. Sua rapidez de implantação e sua profundidade de mudança estrutural no mundo torna esse
paradoxo incrivelmente perigoso. Se o ritmo tradicional de adaptação das universidades ao novo mundo for mantido várias simplesmente vão desaparecer.
As universidades federais do Brasil gastam cinco vezes mais na distribuição de bolsas que em investimentos, 95% do custeio são salários, prevalece a ideologia de igualdade de resultados e não do mérito, funcionam na lógica do professor e não dos alunos. Como vão sobreviver nesse novo mundo avassalador?
Duas noticias sobre a Universidade Estadual do Ceará confirmam essa preocupação. No vestibular para o segundo semestre, o número de candidatos foi menos que o dobro das vagas disponíveis, 1,6 candidatos para cada vaga. Mesmo assim, existe pressão para a contratação de novos professores. A universidade se vangloria de ter o maior departamento de filosofia do Brasil.
Nesse novo mundo que demanda matemáticos, biólogos, químicos, engenheiros, biofísicos vamos competir formando filósofos? Vamos continuar contratando professores quando é comum classes com menos de 10 alunos? Vamos ter universidades competitivas com uma infraestrutura totalmente degradada e obsoleta? A demanda vai continuar só porque o ensino é gratuito?
Com certeza, as universidades não vão desaparecer e vão continuar essenciais para o progresso e bem-estar da sociedade. Elas, porém, não estão acima da realidade de um mundo completamente novo que já surgiu. O dinheiro público, cada vez mais escasso, não deve financiar zumbis, mesmo que sejam nossas queridas e insubstituíveis universidades.
*Marcos C. Holanda
Engenheiro civil, PhD em Economia e ex-presidente do Banco do Nordeste.