Com o titulo “Velho? Para quem?”, eis artigo de Ernesto Antunes, consultor do Sebrae e Senai e escritor. “Os tempos mudaram. Mas será que, por não apreciar cantores que estão na mídia, como a indecente Anitta, ou músicas sertanejas modernas que só falam de cachaça, traição e cabaré, serei considerado ultrapassado?”, indaga o articulista.
Confira:
Em recente conversa com uma influente assistente social, ela comentou uma entrevista da cantora Zélia Duncan, na qual a artista se queixava do sectarismo de algumas pessoas por ela já fazer parte da terceira idade. Segundo Zélia, alguns chegaram a tratá-la, de forma discriminatória, como “velha”. Ao ouvir esse relato, imediatamente retruquei: o que é ser velho para uns pode, na verdade, significar experiência e sabedoria para outros.
Na minha opinião, considerar alguém velho pode ter muitos significados, dependendo do ponto de vista de cada um. Eu mesmo tenho hábitos que, para alguns, são considerados arcaicos, e nem por isso me considero velho, no sentido pejorativo da palavra. Imagine alguém como eu, que ainda adora ler jornal e livro impresso, ouvir radinho de pilha e preservar encontros com amigos da época do colégio para papear. Pode até parecer estranho, mas é um estilo de vida: prefiro ler um bom livro e assistir a uma boa palestra presencial a “curiar” a vida alheia nas redes sociais. Seria isso um atestado de velhice ou apenas um hábito que me dá prazer e me faz bem?
Sou do tempo em que ir ao estádio, especialmente o nosso “PV”, com um radinho de pilha, era um ritual. E, por incrível que pareça, assistíamos ao jogo ao lado da torcida rival, sentados, durante toda a partida, sem nenhuma confusão.
Lembro-me de um jogo em que, após o gol do meu time, abracei, sem perceber, a torcedora do clube rival, que ficou atônita, mas não retrucou. Eram tempos de tolerância.
Recentemente, causou estranheza em uma pessoa que trafegava comigo no carro ao notar que eu ouvia o programa “É Retrô”, com músicas flashback do inoxidável Paulinho Leme, na Tempo FM. Ela perguntou: você não usa playlist conectada ao celular no carro? Respondi que não, e ainda afirmei que, quando saio para ouvir música e dançar, procuro locais onde haja boa música e, se
possível, onde eu possa dançar a dois, com direito a sussurros, lembrando os tempos das tertúlias.
Será que serei chamado de velho ou tradicional quando ainda prefiro assistir a filmes em confortáveis salas de cinema, com um bom saco de pipoca e não ficar no quarto deitado vendo a Netflix? Será que nós, das gerações X e Y, podemos ser considerados velhos por termos aprendido a assumir riscos, a persistir e a não desistir facilmente das coisas? Ao contrário das novas gerações, que muitas vezes começam algo e logo abandonam.
E, se falamos de tradição, ou velhice, para alguns, ainda comungo com os princípios aprendidos no Colégio 7 de Setembro e no Colégio Cearense de padres católicos. Na disciplina de Educação Moral e Cívica, aprendi valores que me tornaram um cidadão patriota. Hoje, mal se respeita a bandeira ou o hino nacional.
Os tempos mudaram. Mas será que, por não apreciar cantores que estão na mídia, como a indecente Anitta, ou músicas sertanejas modernas que só falam de cachaça, traição e cabaré, serei considerado ultrapassado?
E por defender a instituição da família e manter o respeito pelos idosos, estarei fora de moda? Ou simplesmente sigo princípios sólidos, herdados dos meus pais?
Concordo com o empresário e amigo Conrado Nunes, de Tianguá, quando diz: “O novo conhece a regra, nós conhecemos os atalhos para chegar mais longe.”
Após refletirmos sobre tudo isso, a assistente social, com seus 30 anos, e eu, com 60, chegamos a uma conclusão: a velhice é um estado de espírito. Ela só chega para quem reclama da vida e deixa de fazer o que gosta e dá prazer. Existem jovens com ideias e atitudes velhas, e “velhos” com a alma leve e cheios de vida.
Enfim, como diz um provérbio milenar… “Ao envelhecer, parei de escutar o que as pessoas dizem.” Ou, como afirma um amigo de sinuca, sessentão… “Velho, não! Seminovo.”
*Ernesto Antunes
Consultor do Sebrae e Senai e autor do livro “Empreendedorismo: Causos e Cases de Sucesso”.
Ver comentários (1)
Excelente reflexão Ernesto. A velhice está na cabeça das pessoas.