Neste domingo, 7 de abril, é comemorado o Dia do Jornalista, instituído pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) em 1931, como homenagem a Giovanni Battista Líbero Badaró, médico e jornalista assassinado por inimigos políticos em 1830. Também num 7 de abril, porém de 1908, o jornalista negro Gustavo de Lacerda fundou a ABI com o objetivo de constituir uma entidade que atuasse em prol dos profissionais da área, garantindo seus direitos e oferecendo assistência social aos jornalistas.
A data, portanto, deve ser comemorada por todas e todos que dedicaram e dedicam suas vidas à tarefa de buscar informações que permitam ao povo brasileiro escolher seus caminhos e tomar suas decisões. Sem o livre exercício do jornalismo não há democracia. Vale lembrar que este ano de 2024 tem um simbolismo histórico especial, pois marca os 60 anos do Golpe civil-militar que derrubou o presidente João Goulart e os 40 anos da campanha pelas eleições Diretas Já.
Nossa profissão se livrou dos atos de violência encabeçados pelo governo Bolsonaro, mas ainda se depara com grandes desafios. A começar pela volta da exigência do diploma, capaz de impedir o acesso indiscriminado às redações. Enquanto lutamos pela aprovação da PEC do Diploma, assistimos ao encolhimento e à precarização do mercado de trabalho. Se, em 2013, a categoria registrava 60.899 empregos com carteira assinada, em 2021 o número caiu para 47.900 postos, uma queda de 21%. Nesse cenário, o salário médio ficou em torno de 5 mil reais.
Para além da questão do diploma, há a intensa mobilização para limitar o abuso do assédio judicial aos jornalistas e também a permanente luta pela democratização dos meios de comunicação. Sem equilíbrio entre a comunicação privada e a comunicação pública, prevalece o pensamento único, a narrativa ideológica dos donos do capital. Os temas que interessam à maioria da população, como a reforma agrária e a reforma urbana, ficam em segundo plano, restritos à mídia independente e aos sites nas redes sociais. Também as redes sociais estão nas mãos das big techs que, mesmo enquadradas no exterior, não aceitam nenhum tipo de regulamentação em nosso país. Nesses tempos de Inteligência Artificial, muito menos admitem remunerar o conteúdo jornalístico.
Temos, portanto, grandes obstáculos pela frente. Mas isso não nos intimida. Nossa luta vem de longe e tem muito a ver com a data de hoje. Líbero Badaró defendia a liberdade de imprensa, fazia oposição ao imperador D. Pedro I e criou o Observatório Constitucional, jornal com foco em temas políticos até então censurados ou encobertos pelo monarca. Badaró morreu em virtude de suas posições antiabsolutista. A morte de Badaró alimentou a crise que abalava o império e foi um dos fatores que levaram à abdicação do monarca em 7 de abril de 1831.
Já Gustavo de Lacerda ingressou no Exército em Santa Catarina como meio de ascensão social em 1870. Em sua formação intelectual, recebeu forte influência das ideias socialistas, que começavam a correr pelo Brasil trazidas por imigrantes europeus. Por difundir o socialismo entre seus colegas de farda, foi desligado do Exército em 1881. Fixou-se no Rio de Janeiro, onde descobriu sua vocação como jornalista, lançando em 1884 seu próprio jornal, o Meio Dia, de linha republicana, que circulou por menos de um mês. No mesmo ano, Gustavo passou a trabalhar no jornal O Paíz, onde ficou até o fim da vida.
“Repórter ousado”, como definiu o historiador Nelson Werneck Sodré, Gustavo defendeu a reforma agrária, redução da carga horária para menores e fiscalização das condições de higiene nas fábricas. Com essas convicções, fundou a ABI em 7 de abril de1908. À despeito de sua importância para a imprensa brasileira e para a defesa dos direitos dos jornalistas, Gustavo de Lacerda morreu como indigente na Santa Casa de Misericórdia do Rio, em setembro de 1909.
Libero Badaró e Gustavo de Lacerda foram jornalistas independentes e destemidos. Honraram a nossa profissão e são símbolos da democracia e da liberdade de imprensa. Essa é a principal bandeira da Associação Brasileira de Imprensa. Ao completar 116 anos, a ABI continua fiel aos compromissos que marcaram sua história de luta em defesa do Estado Democrático de Direito, da liberdade de expressão e dos direitos humanos e do livre exercício do jornalismo.
Viva o Dia do Jornalista!
Salve os 116 anos da ABI!
Democracia Sempre!
Octávio Costa
Presidente
Regina Pimenta
Vice-presidente