Imagina ter 2.600 livros disponíveis para a leitura praticamente no quintal de casa. A “concorrência” que os livros estão tendo com o celular e as redes sociais é cada vez mais desafiadora, por isso, é importante pensar que, quanto maior o acesso à literatura, mais chances temos para melhorar a formação do público leitor no Brasil. Os livros precisam estar cada vez mais disponíveis, ao alcance das mãos, como hoje é o celular para a maioria das pessoas, para serem lidos e transformar vidas.
No ano passado, tivemos a notícia de que moradores das unidades habitacionais do Programa Minha Casa, Minha Vida contariam com bibliotecas comunitárias. Foram prometidos espaços de leitura com acervo de, no mínimo, quinhentos exemplares selecionados pelo PNLD Literário, até o final de 2026, em pelo menos 1.500 conjuntos habitacionais no Brasil.
Aqui em Fortaleza existe apenas uma, no Conjunto Habitacional Cidade Jardim I. A biblioteca faz parte do chamado Zona Viva, um projeto do Governo do Estado, sob coordenação da Secretaria da Proteção Social. O espaço está disponível para os moradores do residencial, e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Maria Evelyn (7), tem praticado a leitura com livros de poemas e contos infantis. “Eu sempre ia para a biblioteca da minha escola e agora estou aproveitando aqui também. Até agora, o livro que eu mais gostei foi Arraiá na floresta vem cá”, afirma Maria, enquanto exibe o livro.
Ela vem para o espaço acompanhada do irmão, Lucas da Paixão (10), que na biblioteca do Zona tem ampliado seu amor pelos gibis. “Eu adoro quadrinhos, mas não costumo usar a biblioteca da minha escola e estou gostando daqui, porque é divertido e tem uns amigos legais. Eu estava com dificuldade de ler e agora estou lendo todo dia, estou aprendendo, melhorando”, ressalta.
A falta dos livros em casa durante a infância foi tão significativa para Talles Azigon que ele, com a sua mãe, fundou o Projeto Livro Livre Curió, que possui uma biblioteca comunitária que, inclusive, recebeu até a aclamada escritora Conceição Evaristo.
“A gente não tinha dinheiro pra ter um livro em casa. Lia os livros que tinha acesso na biblioteca da escola. A questão da leitura não é simplesmente uma questão educacional. Ler é um direito humano no sentido que seu desenvolvimento garante a participação na vida social e política das pessoas. Sabendo disso, medidas como inserir livros na cesta básica ou abrigar bibliotecas em projetos de habitação popular não são apenas bem-vindos, são ações necessárias para tentar minimizar a desigualdade no acesso que tem por consequência um desigualdade de oportunidades na participação da vida social e política das pessoas”, explica Talles Azigon, poeta e responsável pela editora Substância.
Hoje existem algumas propostas em tramitação, como o Projeto de Lei 4534/04 apresentado na Câmara dos Deputados, que tem como objetivo a inclusão de pelo menos dois livros representativos da literatura nacional em todas as cestas básicas distribuídas no país, que ainda não foi votado, bem o Projeto de Lei Nº 183/2008, que trata da “Cesta Básica do Livro” no Ceará, também visa garantir um acervo mínimo de livros para professores e famílias de estudantes do ensino público fundamental e médio, que ainda não foi aprovado. Algumas iniciativas tiveram um bom fomento na pandemia do coronavírus, mas não percebo hoje uma movimentação com mais força.
Fiz questão de trazer essa temática para esta coluna porque não percebo muita notoriedade no assunto. Destaca-se muito a importância da prática esportiva nas comunidades, com a construção de espaços de lazer, também importantes, claro, mas é preciso avançar mais nesse acesso aos livros, principalmente com relação às crianças e os jovens.
(Fonte: https://www.ceara.gov.br/)