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“Arremedo de democracia”

Fátima Vilanova é doutora em Sociologia. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Arremedo de democracia”, eis artigo de Fátima Vilanova, doutora em Sociologia. Ela comenta a polarização política sem precedentes no Brasil, entre alguns pecados do sistema eleitoral.

Confira:

O Brasil vive uma polarização sem precedentes. De um lado, os partidários do presidente anterior, do outro, os de Lula. Ninguém enxerga nada de bom no governo do adversário. O ataque pessoal domina as postagens nas redes sociais, é uma verdadeira guerra. E o Brasil segue sem discutir seus reais problemas. Um e outro se aproveitam da polarização para se manterem no horizonte político como a única salvação. De que, eu não sei. Temos questões importantes a discutir, como por exemplo, o combate à compra de votos nas eleições, às rachadinhas nas casas legislativas de municípios, estados e do País, a necessidade de pôr fim à reeleição, às emendas parlamentares, ao loteamento de cargos naadministração pública, ao exercício de cargo de parlamentares no Executivo, à falta de limiteno número de mandatos na política.

Entra governo e sai governo, e estas questões são solenemente ignoradas. As críticas aos desmandos cometidos pelos políticos constituem lugar comum, mas as raízes dosproblemas não são discutidas. E a democracia segue como um arremedo, pela falta de compromisso dos parlamentares em moralizar a política, em exercitá-la para além dos próprios interesses e de se perpetuarem nos mandatos, tendo a política como emprego, e não como missão, como deveria ser, como serviço relevante prestado, com data para acabar. Esta é a tragédia brasileira, a perpetuação no poder, que dificulta o combate à corrupção, e o aperfeiçoamento da legislação para alcançar os criminosos. E à população só é dado o direito de votar, sem que sua voz defina os rumos dos eleitos nas casas legislativas, e administrações.

Os partidos políticos seguem silentes, não acompanham as denúncias de corrupção de seus integrantes, não afastam os compradores de votos nas eleições, os apontados como m alversadores de recursos públicos nas administrações. Os que dirigem os partidos são os mesmos que deveriam ser fiscalizados, num total conflito de interesse, para o exercício do controle partidário. Quem põe o dedo na ferida? Por que o TSE não estabelece normas a serem seguidas pelos partidos políticos para o controle da corrupção, afastando os detentores de cargos e mandatos da direção partidária?

A democracia no Brasil precisa avançar muito, e poderia começar enfrentando estas questões no debate público, nas redes sociais, instando os dois personagens envolvidos na polarização, e respectivos partidos, a mostrarem compromisso em enfrentar o atraso político do Brasil. No próximo ano, teremos eleições municipais, de vereadores e prefeitos, boa ocasião, também, de testar candidatos não contaminados por práticas criminosas de compra de votos, e de desmandos na vida pública. A palavra final está com a sociedade.

*Fátima Vilanova

Doutora em Sociologia.

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Respostas de 4

  1. De todas as abordagens que tenho lido sobre o atual cenario político-institucional do país nenhuma analisou de forma tão precisa e verdadeira como este artigo da Fátima Vilanova. Parabens, dileta amiga, pelo texto que nos leva a uma reflexão profunda sobre a perspectiva de reconstrução onde os reais problemas da nação sejam enfrentados sem a polarização hoje existente.

  2. Excelente artigo!
    Abordagem perfeita do momento
    político brasileiro!
    Parabéns!

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