Com o título “Assim caminha a humanidade”, eis crônica de Francisco Caminha, escritor e ex-deputado estadual.
Confira:
O suposto pregador apelidado de “apóstolo” ergueu no altar um grão de feijão e no culto lotado de fiéis proferiu que a semente em sua mão tinha uma unção de cura para as doenças.
Ele espertamente criou uma narrativa para valorar o objeto dando um caráter sacramental. Como o povo o segue piedosamente e o reconhece como representante da divindade, ele se vê no direito de exigir a devolução do dízimo, além de arrecadar milhões de reais em ofertas consagrando e vendendo lenços, almofadas, óleos, saquinhos de areia e outros artefatos supostamente milagrosos. Para os seus seguidores e admiradores, a semente, a areia, o tijolo e outras coisas mais, valem muito porque representam a cura para seus males, desde que sigam as instruções do líder.
Eu estive duas vezes em caravanas religiosas a Israel e, da mesma forma, o guia me disse que as pedras do Muro das Lamentações são sagradas, o local da mesquita Domo da Rocha onde supostamente o profeta Abraão ia sacrificar o filho Isaac é lugar santo para muçulmanos, judeus e cristãos. É mais especial para o povo árabe que acredita que nesse local o profeta Maomé subiu ao céu montado em seu cavalo branco, ou seja, religião atribui um valor simbólico a lugares e objetos.
Israel tem uma terra árida sem riquezas naturais. Não tem minérios, petróleo e pouquíssima agricultura. Apenas Oliveiras e algumas outras árvores frutíferas. O país não é grande, mas é mais que suficiente para abrigar pequena população no território. Mas, então, por que tantas guerras e conflitos?
Simplesmente porque lá estão enterrados os profetas, os santos, onde Jesus viveu, onde apareceu anjos e muito mais. Então, essa região não é como outra qualquer. Tudo é sagrado desde as pedras, as águas do mar, dos lagos e dos rios. E por isso tem um valor inestimável, muito mais que o grão de feijão ungido pelo dublê de apóstolo.
Vou resumir dizendo que os homens fazem guerras e matam por crenças mentais de toda natureza com objetivo de alcançar o poder, fama, dinheiro e se proteger de inimigos
reais ou imaginários.
Quantas narrativas religiosas são e foram criadas no mundo?
Em nosso Nordeste, é só lembrar do padre Cícero, o do povo de nossa Terra. Hoje vale mais morto do que quando era vivo.
Quanto vale Israel?
Quanto vale a faixa de Gaza?
Assim caminha a humanidade!
*Francisco Caminha
Escritor e ex-deputado estadual.