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“A Jogatina”

Totonho Laprovítera é arquiteto e escritor. Foto: Reprodução

Com o título “A Jogatina”, eis mais um conto da lavra de Totonho Laprovitera, arquiteto, escritor e artista plástico.

Confira:

Contar histórias é uma das minhas maneiras de manter viva a memória dos momentos especiais que compartilhei com meus entes queridos. Quando penso nos amigos que já partiram, sinto uma mistura de saudade e gratidão.

Cada história contada é um elo ao passado, permitindo que os amigos que se foram continuem presentes em meu cotidiano. Na arte de contar histórias, encontro uma forma de amenizar a saudade. Então, sempre que a saudade apertar, continuarei a contar histórias. Porque, em cada uma delas, os amigos que se foram vivem novamente, trazendo conforto ao meu coração e luz à minha alma.

A moda na rua era jogo de baralho. O saudoso Valter reuniu três amigos em sua casa para uma noitada de jogatina. Com inveja, talvez por não ter sido convidado, um vizinho resolveu enredar à tia Zilma, que tinha o sobrinho como filho e cuidava de cultivar sempre os bons hábitos e costumes na formação da personalidade do garoto.

Bebida, cigarro e baralho, nem pensar. Quanto mais carteado apostado! Quando os quatro estavam sentados à mesa e ele já se preparava para dar as cartas, eis que de surpresa chegou a tia:

– Muito bonito, Valter, flagrei, jogando baralho!

– Mas, titia, pela Santíssima Trindade, a gente jogando baralho?! Não estou
entendendo – disse Valtinho.

– O quê? Como não está entendendo? Ora, as evidências comprovam e querem
bem negar que estão jogando?!

– Bem, acho que cada um de nós pode se explicar.

– A senhora sabe que moro perto daqui. Eu tava fazendo meu dever de casa e
tive uma dúvida, foi quando lembrei que o Valtinho poderia me ajudar e aqui
estou – disse Chiquinho.

– Eu tava indo era pro cinema de arte, no Cine Gazeta, quando vi que ainda
faltava algum tempo pra começar a sessão. Pra fazer uma horinha, resolvi
passar por aqui e fazer uma visita ao amigo – disse Renatinho.

– Eu vinha passando, quando vi o movimento na casa. Vi os gente boa e
resolvi entrar pra bater um papinho, trocar umas ideias, a senhora sabe como
é que é, né? – disse Helder.

Tia Zilma, diante de tanta invenção, encarou o sobrinho:

– Muito bem, Valter, os três se explicaram, mas o que faz o senhor aqui em
casa, com este baralho nas mãos? Quer dizer que não estava jogando?!

– Eu, titia, jogando? Pelo amor de Deus, com quem?!

*Totonho Laprovítera

Arquiteto, escritor e artista plástico.

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