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O que antes era meme terminou com um cadáver na Praça dos Três Poderes – Por Luiz Henrique Campos

A série de situações perpetradas por brasileiros após o resultado da eleição presidencial que deu a Lula um terceiro mandato, com pessoas acampando em quartéis e passando vexames hilários para demonstrar indignação contra a vitória do petista, já eram por si, dignas de análises para além da esfera política. Se viu ali, por mais condescendência democrática que se possa usar, a necessidade de um certo grau de cuidado para compreender a lógica própria que extrapola a razoabilidade do que se entenda como normal, e digo isso, para não ir direto no ponto e cravar direto, aspectos patológicos em jogo.

Mas como até então, não tínhamos um cadáver exposto, os fatos serviam mais para a proliferação de memes e o regozijo de adversários. A questão, é que essa lógica própria sempre flertou com um cadáver, por mais que isso parecesse distante, haja vista as bombas encontradas no aeroporto de Brasília e o 8 de janeiro. Pois bem, agora temos, sim, um cadáver. A detonação de explosivos na Praça dos Três Poderes por Francisco Wanderley Luiz , que o levou a morte, nunca foi algo distante de acontecer, na medida em que os refratários à democracia sempre se julgaram impunes às suas diatribes incentivados por lideranças que ao primeiro sinal de risco, nunca hesitaram um pular fora do barco.

Francisco Wanderley, portanto, e quem diz isso de forma unânime são amigos e familiares dele, é o retrato de um perfil que vem se construindo no Brasil há pouco mais de cincos anos. Pessoas pacatas, algumas até ex-eleitoras do PT, mas que se viram empoderadas por discursos que ao defenderam uma suposta liberdade, as aprisionam, na verdade, a uma visão de mundo, encarcerando-as em termos de discernimento cognitivo. Mais grave ainda, os põem em uma bolha, patologizando relações com familiares e amigos, a partir da criação de personas, como se ao exercerem o direito de pensarem diferente, fossem enquadrados na condição de antogonistas e meros robôs.

Não é possível, nesse sentido, individualizar a atitude de Francisco Wanderley como se fosse um maluco que tirou a própria vida. Basta ver a quantidade de mensagens que circularam nas redes sociais após a sua morte, defendendo a explosão e a morte de autoridades públicas, a partir do que esses “malucos” entendem como causa justa. A se lamentar nisso tudo, o entorno dessas pessoas, sejam seus familiares, amigos ou apenas conhecidos, que se surpreendem hoje com suas atitudes mais radicais, sabem que já os perderam para algo que não sabem explicar direito em que se transformaram.

Luiz Henrique Campos é jornalista.

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