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“Será que a gente poder conversar?”

Ainda que não mais seja
Tuty Osório é jornalista e escritora

“São tempos de coragem, em que se consegue ver além do estampado – se não tivermos medo da visão que pode espantar”, aponta a jornalista e publicitária Tuty Osório

Confira:

O dólar caiu ou subiu? Mudaram os presidentes do Senado e da Câmara Federal? Resistimos ou nos submetemos à fúria que vem do Norte? De quem é a América? O que é austeridade fiscal, coalizão de forças, monitoramento de operações financeiras? Feijão, arroz, café, pão e tapioca todo o mundo sabe o que é. São tantas questões e o que vale mesmo é a comida no prato, o sorriso no rosto, o ventinho na cara refrescando a corrida atrás da bola na areia, na grama, no cimento da quadra coberta com teto de zinco ou de estrelas.

A amiga Teodora comenta que anda carente de encontros em torno de temas mais existenciais. Queixa-se que é tudo muito superficial, ligeiro, sem comprometimento com as dores e as delícias de cada um. Sinceramente, concordo, só que estou meio farta dessa repetitiva constatação. Que importa, afinal? Cada um ouve, fala, entrega o que consegue. Não significa que se goste menos das pessoas por isso. Num desses líquidos eventos pude sentir o quanto há de sentimentos reais, de como são afáveis uns, distantes outros, todos com a mesma capacidade de amar, contudo.

Posso ver que, apesar das telas e das mídias onde sobeja a futilidade, estamos, sim, nos aproximando. Tentando aprender a acolher, sem invadir, a proteger sem sufocar, a agasalhar sem pesar. São tempos de coragem, em que se consegue ver além do estampado – se não tivermos medo da visão que pode espantar. Diz o amigo que se somos natureza, somos perfeitos. Inspirada em Spinoza, ou não, essa frase trouxe-me uma força que eu desconhecia. Libertou-me de parte da culpa de envelhecer sem mágoas, faltas, recebendo as marcas no corpo como soma, em lugar de subtração.

Um dos bebês da minha jornada visita-me com a filha de um ano, já firme nos primeiros passos. Aquela que outrora escondia pequenos brinquedos nos meus bolsos e pedia-me que os guardasse como tesouros, tem 35 e guarda em escuta as profundezas de dezenas de pacientes que cuidam com ela da saúde mental. Terapeuta da alma, auxilia na distinção entre tristeza e depressão, ansiedade e intensidade. A busca da cura pela essência, não pela ilusão em eliminar, provisoriamente, o sintoma. Pesquisas, reportagens, livros, filmes, dão conta do sofrimento psíquico que atinge todas as idades, classes, países. Ninguém está a salvo.

Ninguém é inocente.

Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS. Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais

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