“É coisa de conhecer uma história, gostar de histórias, faladas, ouvidas, lidas. Um livro é mais que palavras impressas”, aponta a jornalista e publicitária Tuty Osório
Confira:
Dizia meu pai que os livros não nos traem. Abrimos aquela página e está sempre lá a frase, no local que a deixamos. É uma bela imagem e um pensamento reconfortante. Sinto não concordar com ele. Desde a primeira vez que expressou esta máxima, não me encontrei ali. Está registrado um desses momentos no filme de minha filha que fala sobre si, através dos avós. Um eu em nós#, lindo e verdadeiro. A parte dos livros leais eternamente é que não me acha. Sinto que somos diferentes a cada leitura do mesmo, que jamais o é, contudo. Isso não impede que os livros sejam a versão melhor da nossa existência, forte e frágil.
Sou radical nessa questão. Ficam de fora as pessoas que não gostam de livros. E isso não tem a ver com ser alfabetizado. É coisa de conhecer uma história, gostar de histórias, faladas, ouvidas, lidas. Um livro é mais que palavras impressas. Os audiolivros estão aí para mostrar com exuberância esse fato. Tem gente que teme os livros. Por isso foram, suas folhas, alimento de fogueiras altas, em momentos diferentes dos tempos. Não há final porque nunca conseguiram exterminá-los. Nem os livros nem os tempos, nem a capacidade de criá-los, multiplicá-los, numa espalhadeira lírica poderosa.
O livro é completo, contemporâneo, de perfeita tecnologia. Portátil, simples de guardar, resistente. Na minha pequena biblioteca de mil e poucos tenho uns com 200 anos. Sem grandes liturgias ou cuidados, chegaram até aqui para me segredar o espírito do momento em que foram concretizados. São versáteis, adaptáveis, democráticos. Aguentam todo o tipo de bobagem e só permanecem os que realmente fizeram a diferença. Ser revolucionário é ter como prioridade a expansão da leitura. Olhada, ouvida, na ponta dos dedos, no fio do coração. Essa ginástica cerebral que oxigena, ilumina, aquece, acolhe, ressuscita.
Ainda que mais não seja, porque somos todos poetas e ansiamos o futuro.*
· Quase frase da canção O AMOR, interpretada por Gal Costa em 1981. Escrita e composta por Caetano Veloso.
# Eu falo sobre nós, documentário, 40 minutos, por Camilla Osório, 2018
Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS. Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais